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Meio ambiente foi presença discreta até agora na Assembleia da ONU

Questão ambiental não foi tratada como prioridade na maioria dos discursos presidenciais até a manhã do segundo dia da Assembleia Geral da ONU

Meio ambiente foi presença discreta até agora na Assembleia da ONU
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Parula do Norte, resgatada nas imediações da ONU. Foto: Patrícia Vasconcellos

Nova Iorque - No caminho de volta para casa, nas proximidades da ONU, um pássaro no passeio, quieto, chamou a atenção. Parecia um filhote que tinha acabado de cair do ninho, prestes a ser pisado pelos pedestres.

A jornalista resgatou o pequeno. Com penas verdes e encolhido, ele foi gentilmente colocado em uma sacola de papel reciclado de uma loja de fast-food com nome francês e levado para uma ONG especializada no tratamento de pássaros silvestres no Upper West Side. No outro dia, por email, a resposta. O passarinho não era um filhote, mas uma "northern parula" adulta (pássaro de pequenas dimensões) que, ao tentar migrar para o sul, se chocou contra o vidro de um edifício em Manhattan e caiu.

O tratamento são gotas de antiinflamatório para um dos olhos e repouso. A lesão, segundo a veterinária, é grave. No mesmo email, a informação de que centenas de pássaros vivem a mesma situação e neste ano, mais cedo do que o normal. O aquecimento global afetou a migração das aves. A urbanização no entorno de áreas verdes com canalização de rios e todo o tipo de ação que interfere na natureza são questões ambientais que desafiam diferentes países.

O caso do pequeno pássaro em Nova Iorque veio à mente porque no dia seguinte ao resgate, na primeira sequência de discursos da Assembleia Geral, um detalhe foi notado: a questão ambiental não foi tratada como prioridade na maioria dos pronunciamentos dos líderes mundiais. Donald Trump não citou o aquecimento global ou as queimadas que desde agosto afetam a costa oeste do país em uma proporção nunca antes vista. Sobre meio ambiente, Trump culpou os chineses:

"Todo o ano, a China joga milhões e milhões de toneladas de plástico e lixo nos oceanos em águas de outros países, destrói vastas faixas de recifes de coral e emite mais mercúrio tóxico na atmosfera do que qualquer país do mundo".

Trump também afirmou que, depois da retirada dos Estados Unidos do Acordo Climático de Paris, em 2019, seu país reduziu as emissões de carbono mais do qualquer outra nação do acordo. Disse ainda que "aqueles que atacam os índices ambientais excepcionais da América ignorando a poluição chinesa não estão interessados na natureza" e que "se a ONU deve ser eficiente, que foque em problemas reais do mundo".

Xi-Jinping incluiu o termo "aquecimento global" em um parágrafo que citava outros temas. O presidente chinês focou seu discurso nas ações tomadas pela China contra a pandemia, criticou o protecionismo, falou em união global, afirmou que não tem intenção de lutar nem uma guerra fria nem uma guerra quente com qualquer país e sobre meio ambiente disse apenas: "A China vai honrar seu comprometimento em prover US$ 2 bilhões em ajuda internacional em dois anos para cooperação internacional nas áreas de agricultura, redução da pobreza, educação, mulheres e crianças e mudança climática".

O presidente francês Emmanuel Macron, que em 2019 se posicionou contra as queimadas na América Latina, focou seu discurso na necessidade de uma ação conjunta contra a pandemia e também citou brevemente o tema climático. "Diante da emergência sanitária, do desafio climático, da decadência dos direitos, é aqui e agora que temos que agir, com quem quiser e com quem pode, explorando todos os espaços possíveis de cooperação", sintetizou. Alberto Fernandes, da Argentina, falou brevemente que "o compromisso com a agenda ambiental requer uma importante demanda de recursos financeiros, criação de capacidades e transferência de tecnologia por parte dos países desenvolvidos".

Nesta quarta-feira (23), foi a vez do rei da Arábia Saudita Salman Bin Abdulaziz ter o discurso transmitido para o mundo. O representante da monarquia absolutista considerada sanguinária pela guerra no Iêmen e perseguição de dissidentes disse que seu país prometeu doar US$ 500 milhões para o combate à pandemia.

Chamou o governo do Irã de "regime com atitude hostil", citando os ataques às refinarias sauditas no ano passado e o apoio aos rebeldes houthis no Iêmen e afirmou que a monarquia saudita teve papel relevante no combate ao ISIS na Síria e no Iraque através da coalizão internacional. Da Arábia Saudita, nenhuma mensagem nesta quarta-feira sobre como o mundo pode melhorar a questão ambiental.

Do Palácio Miraflores, em Caracas, Nicolás Maduro gravou seu discurso que foi transmitido na tarde desta quarta (23) e surpreendentemente falou, num tom moderado, sobre o "importante papel da ONU" e citou, no começo do pronunciamento, o grande desafio global que é a mudança climática. Sem comparecer à Nova Iorque no ano passado na última Assembleia e com sanções impostas pelos Estados Unidos contra várias pessoas integrantes do alto escalão venezuelano, Maduro viu - na Assembleia virtual - a oportunidade de participar a distância. Sobre os americanos, disse que os Estados Unidos fizeram "a Venezuela se ajoelhar representando hoje (EUA) o maior risco à pluralidade internacional". 

Na manhã do mesmo dia, a mensagem mais eloquente e assertiva sobre meio ambiente na Assembleia Geral da ONU veio da Finlândia. O presidente Sauli Niinistö disse: "Não devemos perder de vista a ameaça existencial ainda mais persistente para a humanidade: as alterações climáticas. Nossas vidas podem ter estado em bloqueio este ano mas a mudança climática não parou por um momento. A urgência de uma ação ousada e rápida está crescendo a cada dia. Nossos compromissos com o Acordo de Paris devem prevalecer. Devemos redobrar nossos esforços para sua implementação". A mensagem da Finlândia, citando a Agenda 2030, é "reconstruir melhor e em maior quantidade o verde".
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