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Matadores de aluguel receberam mesada do PCC na cadeia

Criminoso que tentou assassinar atual ministro do STJ é o que ganhou mais dinheiro da facção

Matadores de aluguel receberam mesada do PCC na cadeia
Matadores de aluguel receberam mesada do PCC na cadeia
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Por Thaís Nunes e Victor Ferreira

Francisco Gomes de Medeiros estava na porta de casa, em Caicó, interior do Rio Grande do Norte, quando foi morto a tiros. As reportagens investigativas feitas pelo radialista, conhecido como F. Gomes, incomodaram gente poderosa da cidade. Em outubro de 2010, três pessoas, entre elas um comerciante e um ex-pastor evangélico, encomendaram a execução do caicoense. "Houve uma junção de raivas. Eles se consorciaram para poder calar a voz de F. Gomes", afirma Sidney Silva, jornalista que trabalhou com a vítima durante anos.


Radialista F. Gomes, morto em 2010. Crime foi encomendado por três pessoas, entre elas um ex-pastor.

O crime foi encomendado ao atirador João Francisco dos Santos, o "Dão", que também já havia sido denunciado pelo radialista. Condenado pelo assassinato, "Dão" acabou batizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) dentro da cadeia. 

O inquérito da Polícia Federal sobre a movimentação financeira da facção criminosa paulista identificou que, de 2017 a janeiro de 2020, foram depositados R$ 118 mil em contas bancárias no nome da esposa do criminoso.

"A família de F. Gomes aqui passou por perrengues quando ele morreu. Enquanto isso quem matou estava recebendo mesada porque matou, porque tirou a vida dele", afirma Sidney.

"Dão" está entre os 210 detentos que recebiam mesada do PCC, segundo a PF. A informação está em planilhas obtidas durante a investigação. Na lista de criminosos beneficiados pelo auxílio, estão alguns dos homens mais perigosos do país.


"Dão", pago para executar o radialista F. Gomes, recebe mesada de R$ 1500 do PCC.

O SBT News revelou ontem que o PCC gastou quase meio milhão de reais por mês em pagamentos a integrantes da facção que cumprem pena em presídios federais. Segundo os investigadores, o volume de dinheiro usado para efetuar esses pagamentos indica que as quantias sejam provenientes dos lucros obtidos pela organização com o narcotráfico.

O valor repassado a cada membro do PCC varia de acordo com o motivo pelo qual cada um foi detido. A facção paga R$ 1,5 mil a presos por envolvimento em situações particulares, não diretamente ligadas ao PCC; R$ 3 mil para quem foi detido por relação direta com a organização e R$ 4 mil a quem foi parar na cadeia por executar missões delegadas pela facção.

Hugo Aparecido da Silva é um dos integrantes que recebe o valor mais alto exatamente por ter cumprido uma ordem da cúpula do PCC. A missão estabelecida pela organização criminosa era a morte de um servidor público para intimidar funcionários do sistema prisional federal. Em 2016, o agente penitenciário Alex Belarmino Almeida Silva foi assassinado com 23 tiros nas costas quando estava a caminho do trabalho. Hugo foi um dos responsáveis pelo crime. 

Depósitos em espécie, sem identificação do remetente, abasteceram contas ligadas a Tiago de Souza Fernandes, apontado como mentor do massacre na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. O episódio ocorreu em 2017, motivado por uma guerra entre facções, e resultou na morte de 26 presos. Tiago foi transferido para um presídio federal depois da rebelião e, desde então, ganhou R$ 140 mil de mesada do PCC. 

Valor ainda mais alto recebeu Lucirle Silva da Conceição, acusado de tentar matar o atual ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell, em dezembro de 2006. Na época, Campbell era procurador de justiça do Amazonas. A Polícia Federal identificou transações bancárias em nome da esposa de Lucirle, Maria Lurdes de Holanda, no total de R$ 242 mil. Procurado, o ministro preferiu não comentar o recebimento de mesada e relembrar o que chamou de momentos de "intensa tristeza, angústia e dor para ele e toda a família". Quase catorze anos depois do crime, Campbell vive sob forte esquema de segurança. 

Assassinos de policiais militares, como Antônio Domingos de Souza, e até o chileno Maurício Hernandéz Norumbuena, ex-guerrilheiro chileno e sequestrador do publicitário Washington Olivetto, recebiam pagamentos mensais do PCC em contas de terceiros. 

Bife e leite para as crianças

O inquérito revela ainda que a organização criminosa financiava casas de apoio a famílias e a amigos de membros da facção que estão presos. 

A polícia sustenta nas investigações que o PCC mantinha um setor de contabilidade com um alto grau de complexidade. Muitos gastos e receitas da facção estão contemplados em planilhas obtidas pela PF.

Em uma dessas planilhas, a facção detalha as despesas de uma das casas de apoio, localizada em Catanduvas, no Paraná, onde também fica um presídio federal em que estão presos alguns integrantes do PCC. 

Os documentos apontam que, nessa casa, moram 14 pessoas ligadas a integrantes da facção. De acordo com as planilhas, o PCC gasta mais de R$ 7,6 mil por mês para mantê-la. Os gastos são dos mais variados. A Polícia Federal mostra que a organização criminosa pagava desde o aluguel do imóvel (R$ 1,5 mil), até açougue (R$ 1 mil), leite para as crianças (R$ 280), mercado (R$ 1,1 mil) e contas de gás, luz, água e TV (R$ 1,2 mil).

Os investigadores sustentam que o dinheiro para a manutenção dessas casas são provenientes do tráfico e da mensalidade que cada membro da facção paga para ser ligado a ela. Outra parte dessa verba viria do que o PCC chama de "rifas" - a organização cobra de seus integrantes a aquisição de determinados números para capitalização de recursos, sorteando, em troca, prêmios como motos, carros e até imóveis. 

Essa investigação motivou a segunda fase fase da operação Caixa Forte, realizada na segunda-feira (31), considerada a maior ação da história da Polícia Federal contra a lavagem de dinheiro. Durante essa força-tarefa, a polícia cumpriu 623 ordens judiciais, sendo 422 mandados de prisão preventiva e 201 mandados de busca e apreensão. Em um desses mandados, a PF apreendeu R$ 6 milhões em espécie em um endereço em Santos, no litoral de São Paulo. 

As investigações da PF nessa área ganharam um novo foco a pedido do delegado Elvis Secco, coordenador geral de repressão a drogas e facções criminosas. A partir de agora, o objetivo é desmantelar o sistema financeiro do PCC, e não concentrar esforços para a apreensão de drogas. "Não estamos mais no viés de realizar operações prendendo membros do baixo escalão ou apreendendo drogas, o objetivo agora é enfraquecer essas organizações criminosas", conta o delegado.
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