ENGANOSO: Órgão dos EUA não incluiu ivermectina entre terapias contra covid
Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova
Enganoso: Não é verdade que um dos principais órgãos de pesquisa em saúde dos Estados Unidos, o National Institutes of Health (NIH), recomenda ivermectina para o tratamento de covid-19, como sugere um post no Twitter. Na verdade, o órgão contraindica o uso do remédio para a doença, a não ser em estudos clínicos. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana equivalente à Anvisa, também não autoriza a ivermectina para tratar ou prevenir a covid.
Conteúdo investigado: Tuíte do candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro Ed Raposo (PTB) diz que o National Institutes of Health adicionou a ivermectina em suas diretrizes de terapia viral para covid-19. O tuíte mostra a imagem de uma captura de tela do site do NIH que põe a ivermectina ao lado de outros medicamentos estudados ou já usados como tratamento para a doença, como o remdesivir.
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: É enganoso o post no Twitter que sugere que o National Institute of Health dos Estados Unidos passou a recomendar ivermectina para o tratamento de covid-19. A postagem, feita pelo candidato a deputado federal Ed Raposo (PTB-RJ), usa uma imagem de captura de tela verdadeira do site do NIH com informações sobre o remédio, mas traz conclusões equivocadas sobre o conteúdo do texto.
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Em sua página oficial de terapias antivirais para covid-19, o NIH disponibiliza dados sobre medicamentos em estudo ou já usados para combater a doença, como remdesivir, paxlovid e ivermectina. A imagem do tuíte verificado é um print dessa página, na qual é possível ler "COVID-19 Treatment Guidelines" ("diretrizes para tratamento da covid-19") e os links sobre cada remédio. Diferentemente do que diz o post, porém, o NIH não recomenda o uso da ivermectina para covid-19, a não ser para estudos clínicos.
"Embora haja muitos estudos sobre a ivermectina, apenas alguns foram bem desenhados e conduzidos", diz o NIH no site para justificar a contraindicação. "Ensaios clínicos mais recentes não têm mais as limitações dos estudos anteriores, mas não mostram evidências claras de que a ivermectina reduz o tempo de recuperação ou previne a progressão da covid-19". Para o órgão, é preciso haver mais estudos.
Dados de um ensaio clínico conhecido como Together, que foi conduzido no Brasil e é citado pelo NIH, mostram que não há diferença significativa entre o uso de ivermectina e de placebo para reduzir o risco de hospitalização por covid-19 (em um caso, houve 14,7% de hospitalização e em outro, 16,4%). Também não há diferença relevante entre os dois para reduzir o risco de mortalidade pela doença (3,1% a 3,5%).
Não há terapia com ivermectina para covid-19 nos Estados Unidos. Consultada pelo Comprova, a Food and Drug Administration, agência reguladora que aprova medicamentos e vacinas no país, afirmou que nunca autorizou a aplicação do vermífugo para tratamento ou prevenção da doença. A agência disse também que tem aplicado testes clínicos com o remédio e apurado seus resultados contra a covid-19.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até 26 de setembro, havia cerca de 11,5 mil interações com o tuíte checado, entre curtidas e compartilhamentos.
O que diz o autor da publicação: O Comprova enviou uma mensagem de WhatsApp a um número indicado no Twitter como da campanha de Ed Raposo, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação. O Comprova também tentou ligar para o número, mas ele não aceitou as chamadas.
Como verificamos: Para verificar o tuíte enganoso, o Comprova buscou no Google as expressões "NIH", "ivermectina" e "terapias antivirais" (as mesmas que aparecem na imagem de captura de tela compartilhada pelo autor da postagem) e chegou ao site da agência americana. Na seção sobre terapias antivirais contra a covid-19, a página do NIH de fato mostra a ivermectina, mas como remédio em estudo.
A verificação leu as informações do site sobre o medicamento. A partir daí, o Comprova entendeu que, na verdade, o NIH não recomenda o uso do vermífugo contra a covid-19, diferentemente do que sugere o tuíte verificado. De volta ao Google, a reportagem descobriu que serviços de checagem como o da agência Reuters já haviam desmentido no início do mês boatos como o espalhado pela publicação.
Para saber se a ivermectina havia sido liberada de alguma outra forma nos Estados Unidos, o Comprova entrou em contato com a Food and Drug Administration. A verificação perguntou à agência americana se o uso do remédio recebeu parecer favorável para o tratamento ou prevenção da covid-19. Por e-mail, a agência negou ter feito qualquer autorização do tipo, apesar de ainda conduzir estudos com o remédio.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos ou enganosos sobre tratamentos contra a covid-19 podem influenciar pessoas a se automedicarem com remédios não recomendados ? o que, além de não tratar a doença, pode comprometer a saúde.
Outras checagens sobre o tema: A agência Reuters realizou checagem sobre o mesmo assunto e desmentiu a informação.
Em verificações anteriores sobre o uso de ivermectina, o Comprova já mostrou ser falso que o Japão havia declarado que o antiparasitário é mais eficaz do que a vacina e que um estudo realizado em Itajaí comprovou a eficácia do medicamento.
Investigação e verificação
Nexo, Estadão e SBT participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Metrópoles, Plural, Piauí, Correio de Carajás, O Dia e A Gazeta.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Agora, na quinta fase, o Comprova segue verificando conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.
Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.