Indígena de 14 anos da etnia Pataxó é morto a tiros na Bahia
Disparos teriam partido de pistoleiros que invadiram área de demarcação indígena
Cinthia Macedo
O adolescente da etnia indígena pataxó, identificado como Gustavo Silva da Conceição, de 14 anos, foi assassinado na madrugada de domingo (4.set) com um tiro na cabeça após ataque de supostos pistoleiros ao grupo da Aldeia Alegria Nova, que ocupa uma fazenda de eucalipto situada no Território Indígena Comexatiba, na cidade de Prado, no Sul da Bahia.
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Gustavo chegou a ser levado desacordado a uma unidade de saúde do município de Itamaraju, mas não resistiu aos ferimentos. Um outro jovem chegou a ser baleado no braço por um tiro de fuzil, ele foi socorrido e passa bem.
De acordo com o Secretário de Assuntos Indígenas do município de Prado, Ricardo Xawã Pataxó, homens fortemente armados chegaram ao local disparando contra crianças, jovens e mulheres. Eles estariam portando armas de grande porte.
"A gente teme novos ataques porque essas pessoas armadas estão dentro do território. A gente precisa do apoio das autoridades para poder ficar mais tranquilo no território, para gente dormir mais tranquilo, porque se não tiver uma ronda mais intensiva da polícia e das autoridades vai morrer mais índio", afirmou.
A polícia civil do município de Prado está à frente das investigações, mas até o momento, nenhum suspeito foi identificado.
Gustavo estudava no colégio indígena, Aksã. Ele já fez parte do colégio Kijetxawê Zabelê, na Aldeia Kaí pataxó, localizada em Cumuruxatiba, no município de Prado, no extremo sul da Bahia. Amigos fizeram um cartaz em homenagem ao jovem.
O corpo de Gustavo foi velado nesta 2ª segunda-feira (5), na comunidade onde morava com a família.
Histórico do conflito
Em 2006, começou um processo de levantamento histórico para demarcação da Terra Indígena Comexatiba Cahy-Pequi, na cidade de Prado, a cerca de 200 km de Porto Seguro.
Em 2007, um relatório foi entregue à Funai para definir a área a ser demarcada, mas apenas em 2015, a Funai publicou no Diário Oficial o relatório com a delimitação de 28 mil hectares. A área seria menor do que o reivindicado pelos indígenas.
A região é dominada por fazendeiros de eucalipto que contestam a demarcação dos territórios indígenas.
Desde então, a comunidade espera uma manifestação da Funai para garantir a segurança jurídica da demarcação.
Em carta divulgada nesta 2ª feira (5), as lideranças Pataxó das Terras Indígenas Comexatiba e Barra Velha, esclareceram que o conflito é antigo e temem por mais ataques.
"No dia 23 de Junho deste ano, a Secretaria de Assuntos Indígenas do município de
Prado-BA, em nota encaminhada ao MPF, informou a decisão consensuada entre as lideranças da aldeia Alegria Nova e o Senhor Rodrigo Carvalho. Detentor da posse subtraída de forma violenta da família da Senhora Julice e Elviro no ano de 2002. O acordo previa a desocupação da fazenda e sua restituição à Terra Indígena Comexatiba. Com base nesse acordo que seria selado com a FUNAI e MPF, 160 parentes Pataxó resolveram auto demarcar pacificamente a área com a construção de suas moradias. Este acordo só durou três dias, o suposto proprietário (invasor) do antigo Pequi Velho, atual "Fazendo Santa Bárbara/ Santa Rita" desistiu do acordo."
Outros conflitos
No Maranhão, dois indígenas da etnia Guajajara foram mortos no sábado (3.set). A Polícia Civil investiga se os casos têm relação com os conflitos envolvendo madeireiros na Terra Indígena (TI) Arariboia.
Janildo Oliveira Guajajara levou um tiro nas costas, em Amarante do Maranhão. Em Arame, município a cerca de 150 km dali, outro indígena identificado como Jael Carlos Miranda foi atropelado. O caso está sendo investigado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.
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