Cerimônia do Oscar tenta se reinventar com cenário transformado pela pandemia
O SBT News traz uma série de reportagens para você acompanhar tudo que deve rolar na premiação
A 94ª cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas retorna para casa em 2022 - o Dolby Theater - no coração de Hollywood, com 2.500 convidados, tapete vermelho como nos velhos tempos pré-pandemia e promete mais brindes e abraços. Um contraponto à celebração do ano passado, cheia de distanciamento social, com apenas 170 pessoas em uma área arejada da estação central de trem de Los Angeles.
Mas isso não indica que tudo será como antes, muito pelo contrário. A indústria hoje é outra e o formato do show televisivo tem trazido tensão aos realizadores, já que não tem agradado os telespectadores. Em 2021, o canal ABC, que detém os direitos de transmissão nos Estados Unidos, amargou a pior audiência da história da premiação com uma queda de 51% em relação ao ano anterior. O tombo fez com que a emissora cortasse oito das 23 categorias da transmissão da TV (melhor documentário em curta-metragem, montagem, som, trilha sonora, cabelo e maquiagem, direção de arte, curta-metragem em animação e curta-metragem em live action), o que desagradou boa parte da indústria.
"Para proporcionar mais tempo e oportunidade para entretenimento e engajamento do público por meio de comédia, números musicais, clipes de filmes e tributos a filmes, estes oito prêmios serão apresentados no Dolby Theater uma hora antes do início da transmissão ao vivo", disse David Rubin, presidente da Academia.
Nesta vontade de se reinventar, voltam também velhos formatos: a cerimônia deste ano vai ter novamente apresentadores, o que não acontecia desde 2018, e será comandada pelo trio feminino de comediantes Amy Schumer, Regina Hall e Wanda Sykes.
A Academia também anunciou o #OscarsFanFavorite e o #OscarsCheerMoment, duas categorias votadas pelos fãs pela internet, cujos vencedores serão anunciados durante a cerimônia (e seus eleitores participam de um sorteio com prêmios que vão desde ingressos de cinema até a entrega de um Oscar no evento de 2023). Tudo para tentar um engajamento na rede e levá-lo para as telas. A organização ainda promete trazer outras surpresas no dia da festa, marcada para 27 de março.
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Novos cenários
A pandemia da covid-19 teve impacto em quase todos os aspectos de nossas vidas e a indústria cinematográfica não foi exceção. As salas de cinema ficaram fechadas por mais de um ano em boa parte do mundo; em um primeiro momento, as filmagens também pararam totalmente.
Mas, à medida que as pessoas se trancaram em casa e a tela grande não era mais uma opção, as plataformas de streaming solidificaram seu domínio sobre os espectadores e foi, graças à elas, que a indústria do cinema teve sua rápida recuperação fazendo com que às pressas o setor se adequasse aos protocolos da covid para levar os atores de volta aos sets de filmagem e, assim, levar os filmes para a casa das pessoas.
"Apesar de muitos setores ainda não terem conseguido se recuperar, a área de entretenimento e mídia mostrou uma importância enorme durante a pandemia e teve também o seu papel na parte de atendimento ao vivo de alguma maneira superada na medida em que as atividades estão voltando com toda a força agora em 2022", disse ao SBT News o advogado brasileiro Fábio Cesnik, que atua em Los Angeles na área de entretenimento.
Cesnik é um dos palestrantes do South by Southwest 2022, maior festival de inovação do mundo na área de entretenimento, que ocorre nesta semana em Austin, no Texas (EUA). Segundo o advogado, "as plataformas deram um impulso gigantesco na indústria e ajudaram a manter a atividade funcionando", disse.
De acordo com a Motion Picture Association, o mercado global de entretenimento (cinema e streaming somados) gerou 99,7 bilhões de dólares em 2021, já acima dos 98,1 bilhões de dólares de 2019, pré-pandemia. Só que a grande diferença é de onde está saindo esta receita. No ano passado, 72% dos 99,7 bilhões de dólares mencionados (US$ 71,9 bilhões) foram gerados pela entrega digital. Antes da pandemia em 2019, os mercados digitais geraram US$ 45,5 bilhões.
Já a receita das bilheterias caiu de 42,3 bilhões de dólares em 2019 para 21,3 bilhões de dólares no ano passado. Em 2020, durante o auge da pandemia, as salas de cinema faturaram 11,8 bilhões de dólares em receita, já que muitos cinemas foram forçados a fechar temporariamente devido às diretrizes da covid-19.
Reflexos no Oscar
Esse novo cenário se estendeu à lista de indicados ao Oscar de 2022: Netflix, Apple TV+ e Amazon receberam quase quatro dezenas de indicações. Só as produções da Netflix aparecem 27 vezes na lista, com o faroeste "O Ataque dos Cães" liderando, sendo reconhecido em 12 categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção para Jane Campion, sendo o franco favorito para a estatueta principal. Os serviços de streaming também levaram 12 das 20 indicações nas quatro categorias de atuação.
Até agora, nenhum serviço de streaming ganhou um Oscar de Melhor Filme, porque havia uma certa resistência dos membros da academia em premiar uma produção feita por uma plataforma. O caso clássico foi o do filme Roma, do cineasta mexicano Alfonso Cuarón, que era o grande favorito em 2018, mas não levou a estatueta principal, que ficou com Green Book - O Guia, da Universal Pictures. A derrota, na época, foi atribuída ao filme ter sido feito por uma plataforma, no caso a Netflix. Mas, agora, muitos desses membros da Academia foram salvos justamente pelas produções de streaming durante a pandemia.
Nesta quinta-feira (17.mar) os mais de 10 mil membros começaram a votar na segunda rodada. A primeira foi para decidir os indicados. E daqui a 10 dias saberemos se essa resistência ainda persiste.
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