Vinícius Jr: governo cobra respostas por ataques racistas contra jogador
Ministérios questionam Fifa e Espanha; Flávio Dino cogita que crime siga lei brasileira, mesmo no exterior
Lis Cappi
A série de ataques racistas contra o jogador da Seleção Vinícius Júnior, mais conhecido por Vini Jr, provocou uma série de reações no país ao longo desta 2ª feira (22.mai). Em defesa do esportista que atualmente está no Real Madrid, o governo pediu respostas e providências à Espanha e à Federação Internacional de Futebol (FIFA). O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também se solidarizou ao brasileiro, e disse que a pasta cogita uma medida jurídica excepcional se houver omissão de autoridades espanholas - a adoção da extraterritorialidade, que pode fazer com que o crime de racismo contra o esportista siga a lei brasileira, mesmo cometido no exterior.
"O Código Penal prevê que, em algumas situações excepcionais, é possível que, no casos de crimes contra brasileiros, mesmo no exterior, haja aplicação da lei brasileira", disse Flávio Dino em São Paulo, após participar de um evento com empresários. Horas depois, o ministro utilizou redes sociais para dizer que a medida ainda está em análise e depende de outros fatores para ser adotada.
Tema da extraterritorialidade ainda está em análise e depende de uma série de fatores. Apenas lembro que está no CÓDIGO PENAL, já que alguns estão questionando a menção que fiz como um remédio extremo. Acho que é útil que todos saibam a existência dessa proteção aos direitos dos?
? Flávio Dino ?? (@FlavioDino) May 22, 2023
Mais cedo, cinco ministérios repudiaram os ataques racistas que o jogador brasileiro vem sofrendo na Espanha. No comunicado conjunto, as pastas saem em nome do governo afirmando lamentar profundamente que ainda não tenham sido adotadas providências efetivas "para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo".
"Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis", diz trecho da nota assinada pelos ministérios das Relações Exteriores; da Igualdade Racial; da Justiça e Segurança Pública; do Esporte; e dos Direitos Humanos e da Cidadania.
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A jornalistas, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, criticou abertamente o Campeonato Espanhol de futebol, citando histórico racista, e saiu em defesa do jogador. "A gente vai para cima das autoridades, notificar, oficializar para que tenha uma resposta. O histórico da La Liga não é bom, é bem racista. Ontem mesmo, o próprio presidente, diretor, quis colocar o Vini como culpado por ter vivido esse racismo. E a gente está aqui para enfrentar isso em conjunto, com muita seriedade e afinco", pontuou.
Alvo de reiterados ataques racistas, o último episódio contra Vini Jr. ocorreu no domingo (21.mai), em partida pelo Campeonato Espanhol, e ganhou destaque após o jogador ter sido expulso da partida - e se posicionado sobre o tema em redes sociais. No mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se solidarizou com o jogador e também cobrou providências por parte de organizadores esportivos.
"É importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol", disse, durante viagem ao Japão.
Ataques contra Vini Jr
O primeiro caso de racismo sofrido por Vini Jr. como jogador merengue foi incluído na versão de 2021 do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. De acordo com o jornal esportivo As, da Espanha, Vini Jr. foi alvo de outros nove episódios de racismo, sem que ninguém fosse punido. As denúncias arquivadas ou seguem em curso na Justiça. Nenhum clube ou torcida sofreu sanções ou medidas disciplinares.