Bolsonaro deve estar mais comedido em discurso na ONU, diz especialista
Ao ser perguntado, nesta manhã, sobre o pronunciamento, presidente disse que "vai ser em braille"
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vai realizar o discurso de abertura -- proferido por representante do Brasil desde 1947 -- da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta 3ª feira (21.set). No entanto, ainda não há uma definição concreta sobre a fala do presidente, que é rodeada de incertezas. Em entrevista ao programa do SBT News, o Agenda do Poder, o coordenador de Análise Política da BMJ Consultores Associados, Lucas Fernandes, explica o que é esperado.
Para Lucas, o presidente Jair Bolsonaro vai realizar um discurso comedido pela falta de apoio de um presidente com a mesma linha ideológica, como o ex-presidente dos EUA Donald Trump e também pelas consequências das manifestações de 7 de Setembro que direcionaram a atenção da comunidade internacional para o Brasil. Além disso, o analista político ressalta que o chefe do Executivo precisa mostrar ao investidor internacional que as instituições brasileiras continuam operando e que o Brasil é um país com boas perspectivas de crescimento econômico e está apto a receber investimentos estrangeiros.
No entanto, de acordo com o analista político, o chefe do Executivo, mesmo com a necessidade de demonstrar respeito às instituições democráticas, ainda deve trazer aspectos ideológicos em seu pronunciamento, mas sem muito radicalismo, para não criar atrito com a comunidade internacional e nem com a gestão do presidente dos EUA, Joe Biden.
"Então o que a gente deve ver mais desse discurso ideológico: críticas à Venezuela e ao comunismo, que tá bem aliado com a gestão Biden, e um pouco do que o governo está fazendo em relação ao governo Talibã lá no Afeganistão, de concessão de vistos humanitários para refugiados. A gente deve ver essa sinalização para um discurso ideológico, mas ao mesmo tempo comedido", diz Lucas.
Nesta manhã, ao ser perguntado sobre o discurso, o presidente Jair Bolsonaro disse aos jornalistas em Nova York que "vai ser em braille", sistema de leitura para cegos ou pessoas com baixa visão.
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Encontro com Boris Johnson
Nesta 2ª feira (20.set), o encontro do presidente Bolsonaro é com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Lucas Fernandes, durante o programa Agenda do Poder, realizou uma análise sobre o que pode ser discutido entre os dois chefes de Estado. Para o analista político, há dois pontos de convergência e dois de divergência entre os representantes do Brasil e do Reino Unido que podem ser parte da reunião.
O enfrentamento à pandemia da covid-19 e a consideração de questões ambientais são dois aspectos nos quais Bolsonaro e Boris Johnson não devem encontrar conexões.
"São presidentes que têm uma linha de discurso um pouco parecida, mas é importante ressaltar que a pandemia acabou distanciando Bolsonaro e Boris Johnson. No começo da pandemia, Boris Johnson adotou uma postura de também minimizar a crise, de dizer que as pessoas não precisavam ficar em casa. No entanto, logo foi acometido pela doença e mudou um pouco de postura, ficou muito pró-vacina, pró-sistema público de saúde britânico, então isso é um ponto de diferença em relação ao Bolsonaro", destaca Lucas.
Já sobre a questão ambiental, o especialista ressalta a divergência. "Agora um ponto que vai distanciar o Bolsonaro do Boris Johnson e que deve ser tratado nessa reunião tem a ver com a agenda ambiental. O Reino Unido vai sediar em novembro a COP 26 que é a reunião internacional mais relevante sobre clima e o Boris Johnson tá adotando uma linha mais parecida com a do Biden de entender que existem alguns elementos que precisam ser levados em consideração na questão do clima. Ele não deve fazer críticas diretas ao Bolsonaro -- encontros bilaterais com dois chefes de estado não costumam ter uma linha mais crítica, justamente para fortalecer as relações - mas esse deve ser um ponto que deve ser tratado nessa reunião".
No entanto, dois aspectos devem unir os representantes britânico e brasileiro nesta 2ª feira (20.set): a relação comercial entre os dois Estados e a união da Fiocruz e da Universidade de Oxford para a produção da vacina Astrazeneca.
"Apesar disso, os dois presidentes são liberais e devem debater bastante sobre a expansão comercial do Brasil e do Reino Unido. Lembrando que o Reino Unido agora que não está mais na União Europeia tem que correr atrás de parceiros comerciais para fazer novos acordos bilaterais, para continuar com essa relação comercial agora sem o amparo da União Europeia. A gente deve ter os dois presidentes comentando sobre a parceria da Fiocruz com a Universidade de Oxford para a produção da vacina da Astrazeneca. Então isso deve ser um ponto importante do discurso para mostrar a relação positiva que os dois países tiveram no enfrentamento à pandemia", diz Lucas.