Presidente do PL segurou pressão para que sigla reforçasse coro contra as urnas
Valdemar da Costa Neto defendeu que PL não deveria encampar discurso como queria grupo bolsonarista
A crise gerada dentro do PL após a divulgação do relatório sobre as urnas já se desenhava desde agosto, quando o grupo da legenda mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro começou a pressionar para que a sigla reforçasse o coro de questionamentos contra as urnas eletrônicas. Isso porque, o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, defendia e sustentou até agora o seu posicionamento de que o tema não deveria ser encampado pelo PL.
A postura do dirigente foi predominante até que, na 4ª feira (28. set), um relatório sem assinatura e apenas com a logomarca da legenda foi distribuído com apontamentos de supostas falhas relacionadas ao sistema de votação brasileiro.
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Nesta 5ª feira (29.set), Valdemar da Costa Neto chegou a convocar os caciques da legenda para uma reunião para decidir o que o partido vai fazer depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu explicações sobre o documento.
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, deu 24 horas para que a sigla dê informações sobre "o uso de recursos públicos oriundos do Fundo Partidário na contratação de serviços que resultaram no documento Resultados da auditoria de conformidade do PL no TSE". O ofício com o pedido de explicações foi encaminhado a Valdemar da Costa Neto.
Desde a divulgação do relatório na tarde de 4ª feira (28.set), o clima no partido é de tensão e desconforto porque interlocutores do presidente nacional do PL garantem que ele não queria que o relatório fosse publicizado. Os aliados citam, inclusive, a presença do dirigente no TSE na visita à sala de totalização dos votos no TSE como prova da postura dele em relação ao tema.
Após a distribuição do documento, chegou a ser considerada a possibilidade de que Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, entidade que elaborou o relatório, concedesse entrevistas sobre a auditoria ou que fosse feita ainda uma coletiva de imprensa, mas as ideias não se concretizaram.
Os "Resultados da Auditoria de Conformidade do PL no TSE" foram tornados públicos na 4ª feira e apontam que "os pontos falhos mais significativos estão relacionados à Governança e Gestão de Segurança e de Tecnologia da Informação (TI)". "A Governança e Gestão de Segurança e de Tecnologia da Informação revelam extrema insuficiência. Não se encontrou um Sistema de Gestão de Segurança da Informação, como determina resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Falta independência funcional na unidade responsável pela segurança cibernética, porque ela se reporta à Secretaria de TI e não à alta administração do TSE, como exigem boas práticas e normas de segurança da informação", continua o documento.
O TSE respondeu e classificou as conclusões como "mentirosas". "As conclusões do documento intitulado Resultados da auditoria de conformidade do PL no TSE são falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral", destacou o Tribunal em nota.
A Corte também informou, no início da noite de 4ª feira, que o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, havia determinado a "imediata remessa do documento ao Inquérito nº 4.781/DF, para apuração de responsabilidade criminal de seus idealizadores - uma vez que é apócrifo".