Agro: a luta de Lula para conquistar setor dominado por Bolsonaro
Líderes das pesquisas de intenção de voto para presidente brigam por votos dos ruralistas
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A apenas um mês das eleições que decidirão qual será o novo presidente do país, os dois candidatos que lideram as pesquisas, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), brigam por setores que podem ser decisivos para o resultado do pleito. Um deles é o do agronegócio.
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De um lado, Bolsonaro tenta fortalecer sua relação com o setor, já que boa parte do segmento apoia o atual presidente do país. Do outro, Lula busca se aproximar gradualmente, mas enfrenta resistências.
Na 6ª feira (2.set), em Belém (PA), o ex-presidente elogiou os produtores do agronegócio que se preocupam com a conservação das florestas. "Os grandes produtores que têm responsabilidade, porque vendem o seu produto no mercado estrangeiro, não querem correr o risco de serem prejudicados por causa da violência contra a nossa Amazônia", disse.
No entanto, outras falas do petista repercutiram mal entre os ruralistas. Em sabatina no Jornal Nacional, Lula afirmou que parte do setor é "fascista" e não se preocupa com o meio ambiente. Mas ponderou: "empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm um comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China, não querem desmatar".
Além disso, a relação de Lula e o PT com o Movimento Sem Terra (MST) também é suficiente para causar repulsa entre empresários do agronegócio. "Eles identificam no candidato petista uma visão de um Estado mais intervencionista, que limitaria os seus negócios, colocaria mais entraves, quando eles almejam justamente o contrário", afirma Caio Barbosa, doutorando em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP).
Já Bolsonaro, de olho na reeleição, busca reforçar os laços com o setor produtivo. Na 6ª feira (2.set), na abertura da 45ª Expointer, em Esteio (RS), o discurso do presidente contou com exaltações ao agro. "Meu reconhecimento pelo trabalho de vocês que trazem segurança alimentar e divisas ao nosso Brasil. Colaboramos com vocês em Brasília e queremos, cada vez mais, que vocês tenham independência do Executivo, mais liberdade para trabalhar", disse.
Para Barbosa, boa parte do agronegócio apoia Bolsonaro porque concorda com a visão de que é preciso desregulamentar o setor e facilitar concessões de licenciamento ambiental. "Eles concordam com a tese que o Brasil tem uma legislação ambiental muito rígida, que o país faz muito para preservar o meio ambiente e explora pouco do seu potencial. E, claro, são altamente refratários a movimentos do campo como o MST", explica.
Centro-Oeste
De acordo com a última pesquisa DataFolha, divulgada na 6ª feira (2.set), Lula avançou nas intenções de voto no Centro-Oeste, região importante para a base bolsonarista, onde o agronegócio tem mais força.
Na pesquisa anterior do instituto, Bolsonaro liderava com 42% contra 36% de Lula. Agora, Lula pontua com 39% e, Bolsonaro, 37%.
"Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás também conseguem concentrar um grande número de eleitores bolsonaristas. Esses estados são preponderantes visto que existe uma defasagem em relação ao Bolsonaro principalmente na região nordeste", explica André Rosa, especialista em relações governamentais da Universidade de Brasília (UnB).
"Nesse sentido, o agronegócio passa a ser um 'calcanhar de Aquiles', porque é uma eleição que vai ser decidida nos pequenos detalhes, voto a voto", acrescenta.
Bancada ruralista
A bancada ruralista constitui uma frente parlamentar que defende os interesses dos proprietários rurais no Congresso Nacional.
Segundo o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), a tendência é que a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) apoie a reeleição de Bolsonaro. "O presidente por uma série de razões tem uma sintonia com as causas do agro. [...] Especialmente aquelas que dizem respeito ao direito à propriedade e à liberdade de produção", disse, ao SBT News.
Em caso de uma possível eleição de Lula, também é natural que a Frente busque diálogo com o governo. "Um setor econômico importante, por mais que se oponha inicialmente à sua eleição, não pode se furtar de conversar com o governo. O Brasil hoje sofre muitas críticas no exterior e ameaças de boicote a seus produtos caso venham de regiões desmatadas, e Lula poderia melhorar a imagem do país nessa área se mudar a política ambiental", explica o cientista político Caio Barbosa.