Pré-candidaturas pró-armas somam mais de 50 nomes em 2022
Para especialista, debate sobre facilitação do acesso às armas vai repetir 2018 na campanha
Guilherme Resck
Pelo menos 51 pré-candidatos a deputado estadual, deputado federal, senador ou governador, todos favoráveis à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), deverão apresentar discursos a favor da facilitação do acesso às armas de fogo pelos cidadãos, nas eleições deste ano, se de fato concorrerem, e trabalharem visando a essa ampliação em um eventual mandato. Isso porque têm suas pré-candidaturas apoiadas pela Associação Nacional Movimento Pro Armas (AMPA), ou PROARMAS, iniciativa criada em 2017, em Campo Grande, pelo advogado Marcos Zborowski Pollon, e cujo objetivo é espalhar "conhecimento" sobre as armas de fogo e o acesso civil a elas, além de organizar ações voltadas à busca pelo aumento do armamento no Brasil.
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Quase todos os nomes foram apresentados em uma convenção nacional do movimento, em Brasília, no último dia 28 de março. Entre eles, estão, por exemplo, parlamentares, como os deputados federais Bia Kicis (PL-DF) - que é pré-candidata à reeleição - e Alan Rick (UNIÃO-AC) - pré-candidato a senador pelo Acre -, o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL) - a governador da Bahia - e o jogador de vôlei Maurício Souza (PL) - a deputado federal por Minas Gerais. No ano passado, Maurício foi demitido do Minas Tênis Clube por fazer declarações homofóbicas.
São 30 políticos do Partido Liberal, sete do Republicanos, três do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), dois do Partido Social Cristão (PSC), dois do Partido da Mobilização Nacional (PMN), dois do União Brasil, dois do Progressistas (PP), um do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), um do Patriota e um do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Este é o primeiro ano que o PROARMAS apoia formalmente pré-candidatos. De acordo com o coordenador estadual de Goiás, Júlio Cunha -- pré-candidato a deputado federal pelo estado --, o apoio "é inerente à própria causa, vez que o movimento atua na causa cultural, judicial e política, através do acompanhamento de propostas legislativas que podem retroceder ou ameaçar as liberdades individuais do cidadão". "Importante mencionar que a realização de mobilização em nível nacional para cobrar as mudanças diretamente de deputados e senadores também tem aspecto político", completou.
Na convenção de 28 de março, explicando o motivo de apoiarem os políticos, Pollon disse que, em 2018, "foi quase unânime a maioria dos candidatos sendo eleitos fazendo arminha com a mão, só que a entrega desses candidatos foi muito modesta". "Muitos desses nem sequer cuidaram de franquear a nossa militância, aos nossos coordenadores, acesso ao gabinete. Outros tantos se perderam completamente, traindo não só a pauta, mas o próprio presidente. Por essa razão, nós identificamos a necessidade, muito mais do que a viabilidade, de trabalhar desde a base, com alguns nomes, para que, durante o exercício do mandato, nós nos fizéssemos presentes, não só no gabinete, mas no convívio com esses nomes, que são nomes que seriam forjados dentro da nossa base".
Na visão do doutor em ciência política Julian Borba, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a discussão sobre facilitação ou não do acesso às armas de fogo pelos cidadãos estará presente nas eleições deste ano, "principalmente por ter sido um tema que ganhou visibilidade e ganhou saliência no Brasil nos últimos anos". Segundo ele, o Barômetro das Américas apontou que, em 2019, 43% dos brasileiros teriam arma de fogo em casa se tivessem oportunidade, ante 21% de 2012 (dado do Ibope). O percentual de três anos atrás, afirma o professor, é "bastante significativo". "Da mesma forma, estudos de comportamento eleitoral feitos na eleição passada, sobre decisão do voto para presidente, mostravam que o indivíduo ter uma posição favorável a ter armas de fogo foi uma das variáveis que mais influenciou na decisão do voto em Bolsonaro, candidato que na época tinha uma posição favorável a essas políticas e continua tendo", pontua.
Outro fator que contribui para acreditar que a discussão estará presente no pleito de 2022, explica, é o investimento feito pelo governo federal para dar visibilidade ao tema, "inclusive propaganda governamental em torno da segurança pública que, por exemplo, meses atrás associava a diminuição de homicídios ao acréscimo do número de armas de fogo, ou ao acréscimo de pessoas proprietárias de armas de fogo". A questão é que para avaliar uma política pública como eficiente é necessário avaliar uma série de fatores, como pandemia, políticas estaduais ou até mesmo a relação com números de mortes em casa, provocadas por conhecidos, como nos casos de feminicídio.
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Ainda de acordo com Borba, "a posse de arma de fogo não é uma política isolada em relação a outras políticas relacionadas ao que pode ser chamado de punitivismo penal. Então essas questões de maior repressão ao crime acompanhadas de maior liberação da propriedade de arma de fogo, obviamente, continuarão em visibilidade e serão aproveitadas pelos candidatos. Se isso vai ter efeito ou não [na chance de serem eleitos] vai depender muito do contexto da eleição, mas obviamente aqueles candidatos que apostarem nisso estarão aproveitando de um tema que adquiriu muita saliência no debate público do Brasil nos últimos anos".
A expectativa do PROARMAS é que a maioria dos pré-candidatos tem chances de vitória. Segundo Julio Cunha, o movimento está "atuando intensamente para que isso se concretize". Ele acrescenta que o PROARMAS vem crescendo "com maior intensidade" desde 2020, por causa do "reconhecimento das ações realizadas na luta pelos direitos dos cidadãos no que tange o acesso à posse e porte de arma de fogo para garantia de suas liberdades". O movimento apoia a reeleição do presidente Jair Bolsonaro também. Atualmente, tem oito coordenadores nacionais, 27 estaduais, 408 regionais e 1.500 voluntários, além de associados. Para ser integrante como pessoa física, é preciso pagar uma taxa mensal que varia de R$ 10 a R$ 180; diferentes benefícios são oferecidos dependendo do valor. Clubes de tiros e lojas de armas também podem se filiar. Neste caso, a taxa mínima é de R$ 380 por ano, e a máxima, de R$ 26.400. A iniciativa oferece ainda cursos de tiros, pagos, em diferentes estados; o preço vai de R$ 650 (defesa da mulher) a R$ 2.000 (precisão com fuzil).
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