SP: Jean Wyllys, Cunha e Holiday podem ser candidatos à Câmara em 2022
Escolha dos candidatos será em meio a regras eleitorais diferentes

Guilherme Resck
Os brasileiros vão às urnas em 2022 para eleger não só o presidente da República, governador e deputados estaduais, mas também deputados federais e senadores. E, em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com mais de 33 milhões de eleitores, poderão estar na disputa por uma vaga no Congresso o ex-deputado federal Jean Wyllys (PT), o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e o vereador da capital paulista e ex-coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL) Fernando Holiday (Novo), entre outros.
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Nas próximas eleições, cada pessoa poderá escolher um deputado federal e um senador. Com o número de representantes na Câmara sendo proporcional à população da unidade federativa, São Paulo tem 70 vagas na Casa. Já a cadeira do estado no Senado a ser preenchida, desta vez, é a do tucano José Serra, que pediu licença do cargo para tratamento de saúde, após ser diagnosticado com doença de Parkinson em estágio inicial, além de distúrbio do sono.
Porém, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) não confirma se Serra tentará a reeleição e nenhum de seus pré-candidatos. Ao SBT News, disse que não há nada definido até o momento, mesmo o apresentador José Luiz Datena tendo dito ao jornal O Globo, no início deste mês, que recebeu um convite do PSDB-SP para disputar um cargo majoritário e que aceitou. As possíveis opções seriam senador ou vice-governador.
A escolha dos candidatos ao Congresso pelos partidos se dará em meio a um cenário com regras eleitorais diferentes daquelas do pleito de 2018, devido ao fim das coligações proporcionais e a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma eleitoral em setembro deste ano. As coligações foram vedadas por meio da Emenda Constitucional n.º 97/20172. Dessa forma, as legendas lançarão isoladamente as próprias candidaturas ao cargo, por exemplo, de deputado federal, isto é, somente os votos recebidos pelo partido definirão o número de cadeiras que terá na Câmara.
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Já a reforma eleitoral inclui, entre outras coisas, contagem em dobro dos votos para candidatas e negros à Câmara dos Deputados, nas eleições de 2022 a 2030, no momento de decidir sobre a distribuição -- entre os partidos -- dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (Fundo Eleitoral). Para a doutora em ciência política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria Braga, esse é um dos fatores que afetará na escolha dos candidatos pelas legendas. "Claro que estimula o partido a ter candidatos negros, candidatos mulheres, justamente para ter mais dinheiro, porque eles ganharão mais dinheiro conforme o maior número de votos. Então com certeza os partidos já devem estar caçando a torto e a direito candidatos e candidatas que deem conta desse novo dispositivo".
O SBT News apurou que Jean Wyllys e o ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo e ex-deputado federal Jilmar Tatto são nomes bastante considerados pelo diretório paulista do Partido dos Trabalhadores (PT) para a disputa por uma vaga na Câmara, na tentativa de ter campeões de voto. O primeiro foi eleito deputado federal três vezes consecutivas e abriu mão do mandato em 2019 devido a ameaças de morte. Sua filiação ao PT foi oficializada em maio deste ano. Jilmar Tatto, por sua vez, disputou o posto de prefeito de São Paulo em 2020 e foi o sexto mais votado no primeiro turno, com 8,65% dos votos válidos, ou 461.666. As conversas da legenda para as eleições do ano que vem que estão menos adiantadas dizem respeito ao Senado, para que tenha espaço de barganha em eventuais alianças.
Vereador de São Paulo e ex-senador por três mandatos consecutivos, Eduardo Suplicy também é visto pelo PT Paulista como uma opção de candidatura, nessa tentativa da sigla de ter um campeão de votos no pleito do ano que vem para fortalecer as bancadas federais e estaduais. Entretanto, em entrevista à reportagem, o parlamentar disse que "essa definição está completamente em aberto". "Uma coisa é certa que eu vou lhe falar: eu tenho a determinação de continuar a batalhar pela instituição para valer da renda básica de cidadania, até o ponto que chegue conforme diz a Lei 10.835/2004, de minha autoria, que foi aprovada por todos os partidos".
Suplicy disse que vai analisar "a melhor maneira de contribuir para ver implantada a renda básica de cidadania". O vereador acrescentou que o ex-presidente Lula (PT), quem irá apoiar na corrida ao Palácio do Planalto no ano que vem, lhe garantiu que vai colocar em seu programa e implantará a renda básica universal e incondicional. Ainda de acordo com ele, a jornalista Mônica Dallare, com quem já teve um relacionamento, lhe disse que não precisa mais ser candidato, mas sim seguir pelo Brasil e outros países falando da medida. Falou também estar contente que outros presidenciáveis, como Ciro Gomes (PDT), pretendem colocar a renda básica em seus programas de governo.
O Partido Democrático Trabalhista (PDT), por sua vez, tem ao menos dois pré-candidatos ao Congresso por São Paulo: o presidente do diretório paulistano e presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros, Antonio Neto, que concorreu ao posto de vice-prefeito da capital paulista, na chapa com Márcio França (PSB), em 2020, e deve se candidatar à Câmara dos Deputados em 2022; e o coronel e ex-comandante da Rota Mário Filho, que se filiou ao PDT em 11 de dezembro e se disse disposto a disputar uma vaga do Senado.

Outros partidos
Em relação ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o presidente da sigla e deputado federal por São Paulo Baleia Rossi tentará a reeleição para a Câmara. Em 2018, foi o 11º mais votado, com 210.197 votos. Já Eduardo Cunha pretende buscar uma decisão judicial que lhe autorize a se candidatar a vaga de deputado federal e, então, fazê-lo; seus direitos políticos estão suspensos até 2026. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por sua vez, decidirá até março de 2022 se será candidato e, se for, a tendência é que dispute uma vaga no Senado. Contudo, o MDB enxerga a possibilidade de Skaf deixar o partido e procurar uma sigla mais alinhada ao bolsonarismo. Pelas negociações do MDB com o PSDB, se o diretório paulista do primeiro lançar um nome para a corrida ao Senado, não poderá indicar o vice da chapa de Rodrigo Garcia ao governo de São Paulo.
O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) disse ao SBT News que ainda não tem qualquer nome oficializado para concorrer ao Congresso por São Paulo, enquanto o Novo apresenta como pré-candidatos o deputado estadual Ricardo Melão -- que concorrerá à Câmara dos Deputados -- e a deputada federal Adriana Ventura -- que tentará a reeleição --, além de Fernando Holiday, que disputará vaga de deputado federal, e outros. O processo de seleção dos futuros candidatos da sigla a deputado permanece em andamento. Por parte do Democratas (DEM), que se fundirá com o Partido Social Liberal (PSL) -- formando o União Brasil --, os atuais deputados federais, como Kim Kataguiri e Eli Corrêa Filho, são pré-candidatos à reeleição, mas as tratativas com outras siglas para formação de chapas paras os cargos do Legislativo e Executivo serão iniciadas após o registro da nova legenda, em fevereiro de 2022.
Chances de vitória
Segundo a professora Maria Braga, quando o candidato "já é deputado, ou seja, está tentando a reeleição, eles normalmente têm mais chances [de serem eleitos], porque eles já tem mais recursos, o próprio partido, que é a organização partidária, também investe mais nessas candidaturas, porque já são mais conhecidas". "Então provavelmente a gente vai ter uma eleição com um número maior de reeleitos, até porque o fundo eleitoral provavelmente deve ajudar esses candidatos".
Os fatores que influenciarão no resultados das eleições para o Congresso por São Paulo, avalia, são os recursos financeiros à disposição do partido, as alianças com as candidaturas à Presidência, desempenho perante as bases -- no caso de tentar reeleição --, tamanho do pretenso eleitorado e os temas enfatizados pelas candidaturas. Nas palavras da professora, "os candidatos que concorrem pelo sistema eleitoral majoritário, a tendência é fazer essas ênfases em cima dessas questões que são hoje mais caras ao eleitorado nacional". "Com certeza economia de novo, e dentro da economia, esse estado de recessão, inflação, desemprego. Desemprego vai ser com certeza até muito mais forte do que corrupção. Pelo menos é o que está aparecendo nas pesquisas".
Ainda segundo a doutora em ciência política, "outro tema importante é a questão da saúde. A gente está em plena pandemia e ainda estamos aí com vários problemas de sanar essa questão. Então com certeza".
Polarização
Maria Braga pontua que a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), os dois políticos com mais intenções de voto para presidente nas pesquisas, pode influenciar nos resultados das eleições para deputado federal, senador e governador também. Em suas palavras, "tudo vai depender de quais estratégias essas duas candidaturas vão tomar a partir de então. E qual fôlego que o atual presidente vai chegar no primeiro semestre do ano que vem. Se ele conseguir reverter esse quadro hoje [de mal avaliação], a tendência é ele atrair para o seu campo de influência outros candidatos".
"Por exemplo, o próprio Moro que disputa com o atual presidente o eleitorado de direita ou mais conservador, essa última pesquisa mostra que por enquanto o Moro não consegue tirar tantos votos assim do Bolsonaro, então a gente vai ter que esperar um pouco. Agora, com certeza, se mantiver as duas candidaturas e essa polarização entre o ex-presidente e o atual presidente, aí sim a gente vai ter um impacto na eleição do ano que vem, tanto para deputado federal e senador, e governador também, porque são as duas candidaturas que terão maiores condições, digamos assim, de organizar as outras disputas que se dão no âmbito do estado", completou.