Comércio pode perder R$ 50 milhões com calor fora de época no inverno, aponta entidade
Fenômeno El Niño e as mudanças climáticas esquentam termômetros e esfriam negócios; veja como clima está mudando até seu guarda-roupa

Beto Lima
O inverno de 2025 está chegando com temperaturas acima do normal, e o calor fora de época deve esfriar as vendas de casacos, botas e acessórios de frio. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o setor de vestuário pode deixar de faturar R$ 50 milhões em comparação ao ano de 2024, graças a um inverno menos rigoroso em regiões como Sul e Sudeste.
O fenômeno El Niño e as mudanças climáticas são os grandes responsáveis por essa mudança no clima – e no bolso dos lojistas.
+ Mudanças climáticas podem comprometer a saúde do seu intestino, aponta pesquisa
Mas por que El Niño e aquecimento global estão deixando o inverno mais quente?
O El Niño é um fenômeno natural que aquece as águas do Oceano Pacífico, alterando o clima em várias partes do mundo. No Brasil, ele costuma trazer mais calor e menos chuva para o Sul e Sudeste, justamente as regiões que normalmente têm invernos mais frios.
Já as mudanças climáticas, causadas pela poluição e queima de combustíveis fósseis, estão aumentando as temperaturas médias do planeta ano após ano. A combinação dos dois está fazendo com que os invernos sejam cada vez menos intensos.
Com termômetros até 2°C mais altos que a média histórica, os consumidores estão comprando menos roupas de frio. A CNC estima que o setor movimente R$ 90,3 bilhões neste inverno, mas apenas R$ 9,09 bilhões virão de itens ligados ao clima gelado – uma queda de R$ 50 milhões em relação a 2024. "O varejo precisa se adaptar a um consumidor mais seletivo e a um inverno que já não é mais como antes", alerta José Roberto Tadros, presidente da CNC.
+ Aquecimento global pode tornar arroz mais tóxico, aponta estudo
Preços altos e juros apertam orçamento
A situação piora com a economia: mesmo com a inflação de roupas subindo menos que a média do país (+4% contra +5,5%), os preços ainda estão mais altos que no ano passado. Além disso, as famílias estão endividadas (mais de 50% da renda comprometida) e o crédito caro dificulta ainda mais as compras.
Tendência sem volta
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que os invernos no Brasil estão ficando mais quentes há pelo menos uma década, com médias em torno de 21,5°C desde 2014. "O comércio precisa repensar estoques e promoções, porque o frio intenso já não é mais garantido", explica Fabio Bentes, economista da CNC.