Censo Agro: indígenas tem mais mulheres no trabalho e produção diversa
Indígenas são os que mais produzem para consumo próprio. Também utilizam menos agrotóxicos
O IBGE divulgou, pela primeira vez, detalhes de um Censo separados por características dos estabelecimentos agropecuários e extrativistas. Além disso, por grupos de cor ou raça de seus produtores. Os dados são de 2017.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Entre os 5,1 milhões de produtores encontrados pelo Censo Agro 2017, 45,43% se declararam brancos, 44,47% se disseram pardos, 8,37% pretos, 1,12% indígena e 0,62% amarelo. Os maiores percentuais de produtores indígenas estavam nas regiões Norte (5,0%) e Centro-Oeste (1,29%). Entre as Unidades da Federação, Roraima (33,63%), Amazonas (20,43%), Amapá (10,96%), Acre (6,09%) e Mato Grosso do Sul (4,52%) tinham as maiores proporções de produtores indígenas.
O Nordeste e o Norte são as regiões do país com as maiores proporções de produtores de cor ou raça preta, respectivamente, 11,61% e 9,65%. Entre os estados, destaque para Bahia (15,75%), Amapá (14,63%), Maranhão (14,14%), Tocantins (13,55%) e Piauí (12,41%).
Os estabelecimentos com produtores indígenas têm as taxas mais elevadas de participação de mulheres entre os produtores (25,90%), seguido por produtores de cor ou raça preta (24,57%) e parda (21,18%). Cerca de 27,99% dos produtores indígenas, têm menos de 35 anos de idade. A média de idade dos produtores indígenas é de 45,4 anos, enquanto os brancos apresentam média de 54,7, seguidos dos amarelos com 54,3, pretos com 53,2 e dos pardos com 51,7 anos.
Os estabelecimentos dirigidos por produtores ou cônjuges pretos ou pardos compõem 55,12% dos estabelecimentos recenseados, com maiores proporções no Nordeste (74,42%) e Norte (73,50%).
Os maiores percentuais de pessoas ocupadas com laços de parentesco com o produtor aparecem em estabelecimentos com produtores indígenas (93,07%), pretos (86,28%) e pardos (82,59%).
Para Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, o trabalho familiar é característico dos povos indígenas. "Isso se dá, principalmente, nos estabelecimentos dedicados ao autoconsumo. Nos estabelecimentos dirigidos por indígenas também encontramos maior diversidade de produtos, que ocasiona mais segurança alimentar para essas famílias", explica. Em 67,08% dos estabelecimentos agropecuários em Terras Indígenas a finalidade principal da produção de horticultura é o consumo do produtor e seus familiares. Entre o total de estabelecimentos encontrados pelo Censo Agro 2017, esse percentual é menor (43,54%).
Agricultura indígena: menos agrotóxico, mais diversidade de produtos
O Censo Agro 2017 mostra que os estabelecimentos dirigidos por indígenas têm produção mais diversificada (43,24% classificados como diversificados e muito diversificados), segundo a classificação de grau de especialização da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), enquanto nos estabelecimentos cujos produtores se declararam amarelos a produção é mais especializada (29,89% classificados como super especializados), ou seja, concentrada em um leque menor de produtos.
88,01% dos estabelecimentos dirigidos por indígenas não utilizaram agrotóxico. Essa taxa é menor em estabelecimentos administrados por produtores pretos (76,86%), pardos (74,73%), amarelos (59,56%) e brancos (55,88%).
Os produtores indígenas são os que mais utilizam sementes comuns e de própria produção (74%), com pretos e pardos (ambos com 53%), brancos (36%) e amarelos (31%) a seguir.
Pimenta e mandioca são os produtos mais presentes em estabelecimentos dirigidos por indígenas
Na horticultura, os produtos com maior frequência nos estabelecimentos administrados por indígenas são a pimenta, o cará e a batata-doce, enquanto os produtores dos outros quatro grupos de cor ou raça privilegiam a alface.
Na lavoura temporária, os produtos mais presentes nos estabelecimentos dirigidos pelos indígenas são, em ordem decrescente, a mandioca, o milho em grão, o abacaxi e o feijão fradinho, o que os difere dos demais produtores: os brancos com milho em grão, mandioca, feijão fradinho e soja em grão; os pretos com milho em grão, mandioca, feijão fradinho e feijão preto; os pardos com milho em grão, feijão fradinho, mandioca e feijão preto; e os amarelos com milho em grão, mandioca, feijão fradinho e soja em grão.
No extrativismo vegetal não-madeireiro, entre os produtores brancos predominam a erva-mate, o açaí (fruto) e o pinhão; entre os produtores pretos, são mais frequentes o açaí (fruto), o babaçu (amêndoa e coco) e o umbu (fruto); os pardos com açaí (fruto), babaçu (amêndoa e coco) e a castanha-do-Brasil; e amarelos prevalecem o açaí (fruto), o babaçu (amêndoa) e o umbu (fruto); e os indígenas o açaí, a castanha-do-Brasil, a bacaba e o buriti.
Extrativismo vegetal se destaca nas Terras Indígenas
O Censo Agro 2017 mostra que há um peso maior do extrativismo vegetal dentro das Terras Indígenas, onde 45,15% dos produtores se dedicam à atividade. Entre os estabelecimentos fora desses locais, a taxa é de apenas 8,86%.
Nas Terras Indígenas, 81,52% dos estabelecimentos praticam a lavoura temporária e 54,13%, a lavoura permanente. Essas duas proporções, entre os estabelecimentos fora das TIs, são 59,44% e 31,23%, respectivamente.
Cerca de 19,34% dos estabelecimentos em terras indígenas são dirigidos por produtores que não são indígenas. Na região Sul, esse percentual chega a 30,33%. Do total de estabelecimentos com produtores ou cônjuges indígenas, 69,31% estão dentro das TIs.