Copom mantém juros em 13,75% ao ano, mesma taxa desde agosto
Decisão do Comitê do Banco Central levou em conta ritmo de crescimento da economia mais moderado no 3º TRI
Guto Abranches
A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central neste ano manteve a taxa dos juros brasileiros, a Selic, em 13,75% ao ano. A taxa de juros, referência para os mercados em atuação no Brasil, está neste patamar há quatro reuniões seguidas, desde o encontro do comitê em 04/08/2022.
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Ao longo de toda a 4ª feira (7.dez), os agentes econômicos e investidores trabalharam com a ideia majoritária de manutenção da Selic, dadas as condições de resposta à política de aperto monetário disparada pelo Banco Central (BC) ainda em março de 2021. Os efeitos do aperto nos juros seguem sendo sentidos no combate à inflação, a ponto de o comunicado do Copom imediatamente posterior à decisão, falar em ritmo de atividade e crescimento da economia brasileira mais moderado no 3º TRI do ano. Por ter iniciado o ciclo de alta antecipadamente em relação às grandes economias globais, o Brasil já se encontra em posição minimamente mais confortável para segurar novos aumentos. Falar em cortes nos juros, aí já é outra conversa.
Fechamento mercado
De olho na decisão sobre os juros e, simultaneamente, na condução das negociações no Congresso Nacional para a aprovação da PEC da Transição, o mercado financeiro teve Ibovespa com fechamento em queda de 1,00% aos 109.082 pontos. O mercado de câmbio apresentou a moeda americana em queda de 0,46% cotada a R$ 5,21 para a venda. A preocupação com o equilíbrio das contas públicas, refletida na expectativa de mudanças no projeto da PEC apresentado ao Congresso para análise e votação, norteou boa parte das atenções dos investidores e das casas de investimentos. Cautela foi a palavra mais ouvida.
Pormenores dos detalhes
Se a manutenção da Selic era dada como certa e a votação da PEC no Congresso escapa das mãos dos investidores, restou aos analistas trabalhar no concreto: aquilo que lhes pareceu mais próximo de seu alcance. Leia-se: as razões e justificativas do Copom para manter os juros onde já estavam. Só assim para os especialistas tirarem da quarta-feira algo que, ainda que de forma restrita, pudesse traduzir a realidade da condução da economia -- e consequentemente embasar os negócios a serem fechados já na manhã do dia seguinte à decisão. Durante a tarde, os analistas sinalizavam este caminho. " É unânime a expectativa de que a autoridade monetária não irá alterar a Selic dos 13,75% atuais", apostava Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Não sem deixar clara sua expectativa...por algo mais: " Em sendo assim, o enfoque passa à comunicação da autoridade. Ainda que não possa ser tão diferente, visto que a perspectiva é de que haja estabilidade da taxa, espera-se que o BC adicione alguns comentários sobre as perspectivas fiscais, ainda que alterações não tenham se consolidado", aí sim já fazendo alusão às tratativas via PEC no Congresso.
Repercussões
Tomada a decisão pela manutenção da Selic, os condutores das mesas de operações se debruçaram sobre o texto expedido pela autoridade monetária. Em linha com parte importante dos analistas de mercado: a questão fiscal apareceu com destaque nas observações especializadas. E, literalmente, no comunidado do Copom.
"O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva" - Comitê de Política Monetária / BC
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
"A autoridade reforçou preocupação em relação às perspectivas fiscais, embora não haja nada consolidado até o momento. Pode-se dizer que, para além do trecho de atualização do cenário, todas as alterações pesaram a atenção sobre o fiscal".
Tatiana Nogueira, economista-chefe da XP
"O Comitê adicionou a palavra elevado [ao comunicado] pra falar do risco da incerteza quanto ao arcabouço fiscal e ao final do mesmo parágrafo, coloca que o comitê vai acompanhar com especial atenção os efeitos futuros da política fiscal. É cedo pra mudar a política monetária (..) por ora, nenhum movimento da Selic nas proximas reuniões. Deve ficar estável e com atenção especial para o cenário fiscal."