Quando o preço do leite vai cair? Especialista projeta prazo
Tempo seco, menos milho e capim, vacas desmotivadas: analista conta o que pode melhorar a situação
A média de preço do litro de leite UHT saltou 24,8% só de junho para julho, chegando a R$ 6,79 na capital paulista. O levantamento é do Procon-SP em parceria com o Dieese. Na comparação com o ano passado, o valor quase dobrou, custava R$ 3,95. Mas, o que aconteceu de lá para cá? Sim, a alta da inflação, que arrasta mesmo o que não está com demanda em alta.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
No caso do lácteo, há menos opções nas gôndolas dos supermercados. Isso porque, nesse tempo, alguns produtores rurais desistiram ou diminuíram a ordenha. É que ficou mais caro trabalhar.
O milho, usado na ração, também está mais caro. Por causa do clima seco, principalmente no Sul. Os três estados da região perderam 50% da produtividade na safra passada, conforme a TF Consultoria.
Para complicar ainda mais, chegou aquele momento que o produtor rural, na verdade, já esperava: entressafra. Comum dessa época do ano, esse período é caracterizado pela falta de alimento para as vacas.
Tanto por o estoque da safra de verão de milho estar menor, esperando pela colheita de inverno, quanto pelo capim, que no inverno cresce menos e, pelo mesmo motivo da seca, oferece menos água aos animais.
A analista Natália Grigol, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), explica com mais detalhes esses fatores que têm alguns agravantes esse ano:
"Tem um contexto estrutural da pecuária leiteira, que tem se modificado nesses últimos anos por conta do aumento dos custos de produção. Então, esse momento do pico da entressafra não é um pico qualquer. Evidencia essa mudança em curso que a gente está tendo na estrutura produtiva, que enxugou muitos investimentos nos últimos anos, muitos saíram da atividade. Até o abate de animais aumentou. A gente tem hoje um potencial de produção de leite menor do que a gente tinha no ano passado e no ano anterior."
O consumidor quer saber se vai melhorar
Quanto mais o valor sobe, mais o consumidor se afasta do corredor de laticínios do supermercado. O que pode acontecer por mais umas duas ou três semanas, projeta Natália, até que o varejo comece a reagir. "Os preços disparados prejudicaram muito o consumo e aí a gente começou a observar um aumento dos estoques", observa a analista.
É bem provável que comecemos a reparar uma estabilização nos preços. Em seguida, uma diminuição. Mas, nada surpreendente. Pela influência dos estoques e também pela produção, que tem chances de se recuperar.
"Os produtores tiveram essa alta no preço do que vendem e ao mesmo tempo o insumo, a ração, caiu de preço nesse último mês. O produtor fica estimulado em fazer manejo na nutrição. Começa a ter um pouco mais de margem. Então, existe uma expectativa de recuperação da produção, a gente começa a observar a captação das indústrias melhorando nesse último mês, sobretudo no Sul do país. Ainda lenta, mas já é um sinal", diz Natália.
Só que o consumidor quer aquele preço do ano passado. Difícil, hein? Quem sabe, com a chegada da primavera em setembro, quando há chances de mais chuvas no Sul e também no Sudeste, o milho e o capim estejam mais abundantes, assim como a água, e as vacas ficam mais dispostas. Aí, deve-se esperar o processamento da indústria, a chegada aos supermercados... Talvez em outubro as crianças terão de volta -- e à vontade -- o conforto de tomar um copo de leite.
Leia também: