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CPI "tá on": entenda como a comissão virou fenômeno de engajamento

Colegiado ajuda a repaginar relação de senadores e amplia participação popular na pauta legislativa

CPI "tá on": entenda como a comissão virou fenômeno de engajamento
Renan Calheiros
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Memes, checagem de fatos e até perfis de cobertura em tempo real. Com um mês de funcionamento, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia fez o engajamento de senadores disparar nas redes sociais. Enquanto é abastecida de informações a todo momento, a cúpula do colegiado também conseguiu ampliar o número de seguidores e até reverter alguns fantasmas. Como é o caso do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que driblou o estigma da "velha política" e reacendeu na internet. 

Desde a instalação da comissão, o parlamentar aproveitou a boa fase, conseguiu transformar comentários negativos em positivos ou neutros, e já ganhou quase 30 mil seguidores no Twitter. O SBT News teve acesso aos relatórios de monitoramento do perfil do emedebista que mostram que, na semana de instalação do colegiado, entre 23 e 29 de abril, das 100 mil interações, quase metade era negativa, com 47%.

Entre as pessoas alcançadas pelas publicações do Renan, o "sentimento" dos internautas ainda era desfavorável. Na prática, comentários coletados na plataforma são "sentimentalizados" entre positivo, negativo e neutro, e o que acontece nos bastidores da CPI também tem impacto nas redes sociais. O período foi justamente aquele em que aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentavam retirar o senador da relatoria. Em uma batalha judicial, o parlamentar saiu vitorioso, a contragosto dos bolsonaristas. 

Já o último monitoramento, feito entre 21 e 27 de maio, revela que, dos 60 mil comentários, 36% eram negativos. Nos bastidores, o próprio Renan brinca e comemora sobre o fato de "estar de novo no radar" atualmente. Político alagoano com uma ampla vida pública, foi atacado nas eleições de 2018 por aqueles que defendiam a "nova política". Depois, veio a disputa pela Presidência do Senado, na qual Renan era o favorito. Mas o governo conseguiu emplacar Davi Alcolumbre (DEM-AP) e retirou o parlamentar da linha de chegada.

Desgastado, recuperou o fôlego e chamou a atenção dos holofotes em meio à pandemia. Renan decidiu, inclusive, usar as redes sociais para consultar a população sobre quais perguntas deveria fazer ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. No Instagram, acumulou 81 mil visualizações e recebeu 26 mil sugestões. Durante a CPI, sempre que uma pergunta foi feita por algum seguidor, o senador faz questão de indicar que "veio de um internauta". 

Omar e Randolfe

A reportagem não recebeu os números oficiais das equipes de mídia do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e do vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Mas, segundo levantamento da plataforma Socialblade, que monitora perfis na internet, o amazonense ganhou mais de 35 mil seguidores desde o início dos trabalhos, enquanto o líder da oposição teve acréscimo de 75 mil. 

De acordo com dados da Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP), entre os senadores independentes ou de oposição, Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Randolfe e Renan apresentam as melhores médias de interações semanais; Omar e Angelo Coronel (PSD-BA) têm maior aumento relativo.

Dos 18 parlamentares envolvidos diretamente na CPI (11 titulares e 7 suplentes), 16 têm conta no Twitter. Entre 1º de janeiro e 24 de maio, foram publicadas 5.988 tuítes, dos quais 30% foram postados a partir de 27 de abril, data de início da comissão. Para a análise, foi calculada a média de interações por tuítes de cada um dos senadores desde 1º de janeiro, em periodicidade semanal.

Camarote da CPI

A integrante da equipe de Renan responsável por monitorar e alimentar as redes sociais acompanha diariamente páginas em redes sociais voltadas para a comissão. Como o "Camarote da CPI", que reúne 58,4 mil seguidores no Twitter. A página, que nasceu com o intuito de divulgar as ações do colegiado para a população, faz checagem dos fatos e cobertura ao vivo das sessões, com o intuito de, segundo eles, dar "lisura, transparência e objetividade às investigações".

Entre os idealizadores do Camarote estão profissionais da saúde, da educação, da comunicação e do direito. Ao SBT News, o coletivo, que preferiu responder de forma anônima, contou como é participar desse processo, que, inclusive, ajuda a pautar senadores para os depoimentos: "Especialistas em cada área buscam a informação nas fontes (revistas científicas, pronunciamentos oficiais, posicionamentos de instituições como a Organização Mundial da Saúde), e comparamos com o que foi dito, ou, quando necessário, com a transcrição disponibilizada no site do Senado".

"As pessoas entendem que o mundo político faz parte do dia a dia delas e que o que está sendo desenhado ali terá impacto -- ou assim esperamos -- no rumo da pandemia daqui para frente. Ademais, entendemos ser relevante tornarmos a realidade dos fatos acessível a todos os públicos. Dessa forma acreditamos que ajudamos, também, a ratificar a democracia", completou. 

+ Perfil acompanha a CPI e viraliza: "Ajudamos a ratificar a democracia"

"Democracia digital"

Para Victor Piaia, doutor em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ) e pesquisador que investiga os efeitos políticos de transformações na comunicação cotidiana, com foco em plataformas de mídias sociais, a cobertura da CPI "tem se assemelhado a grandes eventos midiáticos de modo amplo. As pessoas não só assistem, mas consomem aquele conteúdo só por meio das interações e o que isso gera nas repercussões. A CPI virou assunto público". 

Como em uma "democracia digital", Piaia lembra que nem na CPMI das Fake News, investigação parlamentar mais recente, houve um engajamento como agora. Tamanha repercussão é estudada como "novidade" entre especialistas. Há, ainda, a participação ativa de grupos de oposição ao governo municiando os senadores, quase que em tempo real. "Não acontecia no início da CPI, por exemplo, e foi ganhando experiência, foi se desenvolvendo ao longo desse processo e hoje já aparece de forma mais frequente e organizada", pontuou. 

"Os principais senadores aumentaram o engajamento deles, a média nas contas nas redes sociais, especialmente no Twitter. E, na verdade, quando a gente observa qualitativamente, tem muito a ver com o tipo de interação. O Omar Aziz, por exemplo, tem respondido mensagens que têm sido encaminhadas, curiosidades sobre ele. Tudo isso, de fato, aumenta a exposição", arrematou o especialista. 

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