'Mapa' da CPI tem governo em minoria; conheça o perfil dos integrantes
Planalto conta com apenas quatro aliados, que têm apelado a obstruções para protelar os trabalhos
Em minoria na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senadores governistas indicam que vão trabalhar para obstruir os trabalhos do colegiado. Dos 11 senadores titulares, apenas quatro têm ligações com o Palácio do Planalto. Dois parlamentares são da oposição e os cinco restantes são considerados independentes. Este grupo -- de oposicionistas e independentes -- recebeu a alcunha de "G7".
As tentativas de obstrução por parte dos governistas têm sido diversas. Na segunda sessão da CPI, realizada na 5ª feira (29.abr), o senador Marcos Rogério (DEM-RO) pediu que as reuniões do colegiado fossem presenciais, contrariando um acordo que estabelecia que a comissão fosse semipresencial. O pedido foi rejeitado pelo presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM).
Ao lado doss senadores Jorginho Mello (PL-SC) e Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério também recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) deixasse a relatoria fa CPI. Segundo eles, as investigações poderiam ser prejudicadas por Calheiros ser pai de Renan Filho (MDB), governador de Alagoas. O pedido acabou negado pelo ministro Ricardo Lewandowski.
A comissão terá duração inicial de 90 dias. Nesse período, ouvirá depoimentos e investigará a condução do governo federal durante a pandemia e os repasses da União a estados e municípios. Abaixo, você confere quem são os senadores titulares da CPI da Covid e qual o posicionamento de cada um deles:
Omar Aziz (PSD-AM) - Presidente
Considerado independente, o senador possui mais de 30 anos de vida pública. Foi vereador, deputado estadual, vice-prefeito de Manaus, vice-governador do Amazonas e governador do estado.
Já fez críticas à condução do governo federal na pandemia, questionando, por exemplo, a escassez de vacinas no país e a crise da falta de oxigênio no Amazonas.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) - Vice-presidente
Forte opositor da gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), o parlamentar foi o responsável por protocolar o requerimento de instalação da comissão. Entre outras coisas, quer investigar a recusa do governo federal em comprar 70 milhões de doses da vacina da Pfizer no ano passado. Na conversa que o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) divulgou com o presidente, Bolsonaro xingou Randolfe de "bosta" e ameaçou agredi-lo fisicamente.
Ex-PT e PSOL, já foi deputado estadual em duas legislaturas e exerce atualmente o segundo mandato como senador.
Renan Calheiros (MDB-AL) - Relator
Políticos bolsonaristas não conseguiram impedir que o senador assumisse a relatoria da CPI. Renan Calheiros promete uma investigação isenta e imparcial sobre a condução do governo federal na crise sanitária. Cabe ao relator produzir o parecer final da comissão.
Antes da instalação do colegiado, em entrevista à CNN Brasil, Renan chamou Bolsonaro de charlatão por defender o uso da cloroquina em pacientes com covid-19.
Ciro Nogueira (PP-PI)
Importante líder do Centrão, o senador tem indicado que será fiel ao Palácio do Planalto durante o decorrer das investigações. Na última 4ª feira (28.abr), em evento com empresários e banqueiros, disse que a CPI não vai dar em nada para o presidente da República.
Já disse também que Bolsonaro é o "mais bem-intencionado presidente" dos últimos anos.
Eduardo Braga (MDB-AM)
Atual líder do MDB, é considerado independente. O emedebista tem defendido a realização da CPI como resposta à sociedade brasileira sobre a forma correta de se conduzir o país em meio à crise sanitária.
Braga já disse ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, durante uma audiência pública no Senado, que o ministério poderia ter impedido a crise de oxigênio em Manaus.
Eduardo Girão (Podemos-CE)
Assinou o requerimento para que as investigações da CPI fossem ampliadas e, dessa forma, alcançassem os repasses federais a prefeituras e governos estaduais. Candidatou-se para presidir a comissão, mas obteve apenas três votos. Apesar de se autodeclarar independente, já fez diversos elogios à atuação de Bolsonaro na pandemia.
Além disso, tentou tirar Renan Calheiros da relatoria da CPI em ação no Supremo.
Humberto Costa (PT-PE)
Opositor ferrenho de Jair Bolsonaro, já chamou a atuação do governo federal na pandemia de improvisada. Em entrevista à CNN Rádio, disse que o primeiro depoimento da CPI deveria ser o do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Segundo o petista, neste momento, Queiroga "tem responsabilidade direta no enfrentamento da crise".
Jorginho Mello (PL-SC)
É um dos vice-líderes do governo no Congresso Nacional e também faz parte do Centrão.
Tem fotos com Bolsonaro nas redes sociais e também tentou tirar Renan Calheiros da relatoria da CPI.
Marcos Rogério (DEM-RO)
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, disse que a CPI é "uma conspiração orquestrada contra o governo", cujo único objetivo é atingir o presidente Jair Bolsonaro.
Membro da tropa de choque do Planalto, defendeu a abertura de templos religiosos durante a pandemia.
Otto Alencar (PSD-BA)
Médico ortopedista, já deu declarações contra o uso de remédios sem eficácia comprovada no tratamento do novo coronavírus.
À rádio CBN, afirmou que Bolsonaro precisava ser investigado e que Eduardo Pazuello foi apenas "seu instrumento" na condução da pandemia.
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 16 de abril, alegou que não havia dúvida da responsabilidade do governo federal pela atual situação da pandemia.
Na mesma entrevista, disse que não via interferência do STF por determinar a instalação da pandemia.