Publicidade

O jogo duro de Lira para preservar a PEC defendida por Paulo Guedes

Participantes das reuniões com base aliada relatam "conversas duras" para manter "convergência" com o governo

O jogo duro de Lira para preservar a PEC defendida por Paulo Guedes
Arthur Lira
Publicidade
Após uma semana de negociação, a Câmara concluiu a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) Emergencial e promulgará o texto na 2ª feira (15.mar). A tensão para evitar desidratação expressiva do projeto, que permite o pagamento do auxílio e o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal, pairou sobre as bancadas da base aliada do governo. Segundo relatos de participantes das conversas, o "jogo duro" do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e a pressão por "convergência" ao Planalto colocaram em xeque a ordem de pagamento de emendas e promessas de cargos em órgãos nos estados. 

Os encontros com lideranças partidárias começaram assim que a PEC saiu do Senado, quando o relator, Daniel Freitas (PSL-SC), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniram para acordar que o texto não sofreria alterações. Mas, logo na 2ª feira (8 mar), um dia antes do início da votação da PEC, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), defendeu a retirada de trechos do projeto que permitissem a progressão e a promoção de servidores. O lobby principal era dos integrantes de forças de segurança, base eleitoreira de Bolsonaro, que tentavam ficar de fora das regras desde quando a proposta foi elaborada.

Com o aval de Bolsonaro, aliados do presidente e bancada da bala elaboraram emendas que pudessem excluir do texto a categoria, mas abrindo brecha para que todos os funcionários públicos fossem liberados. Lira então convocou uma reunião na residência oficial com líderes da base para acordar a integralidade do texto - ou seja, que fosse aprovado sem alterações. A exclusão do restante das lideranças causou mal-estar entre as bancadas, que criticaram a atitude "segregadora" do presidente da Casa. 

A admissibilidade foi aprovada e deu aval à proposta. Logo depois, deputados aprovaram o texto-base em primeiro turno. Os destaques ficaram para 4ª feira (10.mar). Logo no início da votação, um destaque do PDT foi aprovado para retirar dispositivo que proibia a vinculação de receita do Orçamento a órgãos, despesas e fundos. Sem a mudança, a Receita seria diretamente afetada. Para evitar que novas perdas fossem aprovadas, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foi convocado às pressas para ir ao plenário.

A ofensiva do governo começou logo que um destaque do PT ganhou força entre os deputados. A proposta praticamente enterraria a PEC Emergencial, uma vez que excluía trechos do projeto que previam as contrapartidas de unidades federativas para reduzir o endividamento. Reuniões entre as cadeiras vazias do plenário, com Ramos, o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), e Lira relembravam parlamentares da base dos compromissos e "convergências" com o Executivo. 

A conversa presencial não foi suficiente, e os três precisaram fazer ligações para alguns deputados que insistiram, até durante apreciação de outros destaques, em votar pela desidratação da PEC. Entre os partidos rachados que formam o bloco de Lira estavam PSL, PTB, Pros e Solidariedade. De acordo com deputados e chefes de gabinete que acompanhavam os diálogos, a barganha não era em torno de oferta, mas de ameaça: ir para atrás da fila de pagamento de emendas e até recuar em futuras indicações a cargos. 

A jornalistas, Lira negou que houvesse preocupação de Ramos e disse que era "natural" a presença do ministro nas negociações. "Ele é o ministro da Secretaria de Governo, é quem trata da política do governo, é quem tem a relação com os parlamentares", afirmou. "É função dele estar em contato direto com o Parlamento, para acompanhar votações importantes para o governo. Nada de especulação. O clima está tranquilo."

Conseguiram evitar a retirada dos mecanismos de ajustes fiscais, mas, em troca, o governo cedeu e permitiu promoção e progressão de servidores. A medida não agradou Guedes, segundo deputados próximos ao ministro. O acordo tem impacto de R$ 1,5 bilhão e o titular da Economia teria ficado irritado por ser constantemente "desautorizado". Ele teria reclamado de aliados de Bolsonaro irem contra as conclusões da Esplanada. 

Essa foi a segunda PEC colocada em votação por Lira. A primeira, chamada de "PEC da Imunidade", sequer avançou e o presidente da Câmara teve que recuar por pressão da oposição e de parte do Centrão. A Emergencial foi a segunda, em menos de dois meses de gestão. Lira enfrentou dificuldade para garantir que o texto não fosse desidratado e falhou na missão de firmar acordo com os partidos de esquerda, que apresentaram "kit obstrução".

Para o analista político Thiago Vidal, da Prospectiva Consultoria, não é porque Lira venceu a eleição com um bloco de 11 siglas que todas cederão aos apelos do presidente. "Eleição da Câmara não tem nada a ver com o que vem depois. Os objetivos são diferentes. Não é porque ele se elegeu com ampla maioria, que vai mandar na Câmara. A dificuldade dele não foi anormal. Se é que ele cometeu algum erro, foi não entender o momento [da PEC da Impunidade]. Mas a votação da PEC Emergencial foi do jogo político".
Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
congresso
gabriela-vinhal
pec emergencial
camara
arthur lira

Últimas notícias

"Ter opinião é diferente de querer eliminar pessoas", diz Silvio Almeida sobre discursos de ódio

"Ter opinião é diferente de querer eliminar pessoas", diz Silvio Almeida sobre discursos de ódio

Em entrevista ao Perspectivas, Silvio Almeida falou sobre ações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para combater discursos fascistas
Balanço revela 1,2 mil pessoas presas e 18 toneladas de drogas apreendidas em operação

Balanço revela 1,2 mil pessoas presas e 18 toneladas de drogas apreendidas em operação

Trata-se da Narke 2, realizada entre os dias 24 e 28 de julho em todos os estados e DF
ANPD manda Meta suspender treinamento de inteligência artificial com dados de brasileiros

ANPD manda Meta suspender treinamento de inteligência artificial com dados de brasileiros

Despacho publicado nesta terça (2) prevê punição de até R$ 50 mil por dia; Empresa diz estar "desapontada" com a decisão
Incêndio atinge shopping center em Belém; veja imagens

Incêndio atinge shopping center em Belém; veja imagens

Ainda não há informações sobre o que teria provocado o fogo, os danos causados e se houve feridos
Canabidiol é alternativa para controlar crises de epilepsia

Canabidiol é alternativa para controlar crises de epilepsia

Pacientes de três síndromes passam a ter acesso ao medicamento de forma gratuita pelo SUS, em SP
Cappelli critica Banco Central por não agir diante de altas do dólar: "Omissão"

Cappelli critica Banco Central por não agir diante de altas do dólar: "Omissão"

Segundo presidente da ABDI, governo Lula tem responsabilidade fiscal e o presidente "fala para defender o modelo econômico que foi vitorioso nas urnas"
Acidentes com elevadores são investigados pela polícia e Crea no Rio; duas pessoas morreram em 24h

Acidentes com elevadores são investigados pela polícia e Crea no Rio; duas pessoas morreram em 24h

Entre domingo (30) e segunda-feira (1°), três elevadores falharam na capital carioca
"Pior do que se pode imaginar", diz Silvio Almeida sobre PL do aborto

"Pior do que se pode imaginar", diz Silvio Almeida sobre PL do aborto

Ao Perspectivas, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania criticou projeto que equipara aborto após 22 semanas de gestação a homicídio
Adolescente esfaqueia aluno dentro de escola em Santa Catarina

Adolescente esfaqueia aluno dentro de escola em Santa Catarina

Algumas crianças precisaram ficar trancadas na sala de aula para se proteger
Boulos defende ex-chefe da Rota em sua equipe e fala de propostas para SP; veja íntegra

Boulos defende ex-chefe da Rota em sua equipe e fala de propostas para SP; veja íntegra

Pré-candidato do PSOL à Prefeitura da capital paulista é o primeiro a participar de sabatina do SBT News, em parceria com a rádio Novabrasil
Publicidade
Publicidade