Parentes denunciam tortura contra vítimas de operação policial no Guarujá
Governo de São Paulo nega que policiais militares tenham torturado e executado as vítimas
O governo de São Paulo nega que as vítimas da operação policial na Baixada Santista tenham sido torturadas, mas parentes ouvidos pelo SBT Brasil mantêm as denúncias de abusos.
Um dos casos é de um rapaz que, segundo a Polícia Militar, foi morto em confronto. Familiares dizem que ele foi torturado e executado. O SBT Brasil teve acesso, com exclusividade, a fotos do corpo.
Felipe Vieira Nunes, de 30 anos, foi morto por policiais da Rota, na noite da última 6ª feira. Segundo relato dos PMs, registrado no boletim de ocorrência, o suspeito tentou se esconder ao ver os militares e quando foi encontrado, atirou contra a equipe, que revidou, o atingindo 9 vezes. Os policiais disseram ainda que ele foi socorrido pelo Samu, mas morreu a caminho do hospital. Felipe Vieira Nunes tinha passagem por roubo e embriaguez ao volante.
A versão apresentada pela polícia é contestada por moradores da comunidade e pela família do rapaz. Uma familiar de Felipe que, por medo, prefere não se identificar afirma: "eles encontraram o Felipe na rua por volta das 21h30. A população afirma que eles teriam gritado 'solta a arma', e o Felipe teria gritado de volta 'mas eu não tenho arma, não tenho nada''".
Antes de ser morto, o rapaz teria sido torturado. "A Rota teria pego ele e levado ele até uma casa vazia, que era uma casa próxima da onde ele morava, uma casa desabitada. Lá eles teriam iniciado a sessão de tortura e a população teria ouvido gritos do Felipe, pedindo pelo amor de Deus, ele questionava 'por que vocês estão fazendo isso comigo?'", afirma a familiar.
Os parentes afirmam terem sido proibidos de ver o corpo de Felipe no IML. "Legista falou que teria acesso ao corpo. Depois disso ele começou a receber diversas ligações, algum tipo de instrução pra ocultar alguma coisa. Houve tortura com certeza. Dava pra ver que o corpo dele tinha sido mexido, tava machucado, isso naquilo que a gente teve acesso que foi o rosto e o braço. A gente não pode ver o corpo dele todo pra poder afirmar que tinha em outros locais do corpo também".
No velório de Felipe, a suspeita de tortura ganhou força. Ele tinha nos braços marcas que poderiam ser de queimaduras feitas com cigarro. A reportagem do SBT Brasil teve acesso com exclusividade a fotos do corpo de Felipe ainda no IML. Pedimos para um perito analisar as imagens. Segundo ele, há indícios de tortura.
Os relatos sobre excessos cometidos por policiais que participam da Operação Escudo são recorrentes. Moradores dizem que os PMs abordam apenas pessoas com ficha criminal, que poderia ser uma forma de enfraquecer críticas contra a atuação dos agentes. Haveria ainda um toque de recolher, que obriga a população das favelas a ficar em casa depois das 20h.
"O Felipe foi executado, ele foi morto assassinado pela polícia. O confronto não existe, o confronto que existe é a Rota subir o morro e matar as pessoas", diz a familiar da vítima.
Os policiais também estariam retirando ou obrigando os socorristas a recolherem os corpos dos locais das ocorrências, como aparece nesta imagem feita por um morador, adulterando o local do crime.
A ouvidoria das polícias de São Paulo informou que tem recebido vários relatos que apontam irregularidades na atuação policial em Guarujá.
Nesta 5ª feira (3.ago), o governador de São Paulo, voltou a negar excessos na operação. "Tudo vai ser analisado, o que estiver fora de padrão será averiguado, será punido, você não tem dúvida disso. Agora, não é o cenário que estamos nos deparando hoje e nenhuma evidência cientÍfica técnica pericial foi encontrada até o momento", disse Tarcísio de Freitas.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que as forças de segurança atuam de acordo com a legislação vigente e que todas as ocorrências com morte durante a operação em Guarujá resultaram da ação dos criminosos, que optaram pelo confronto.