Crivella chama Rio de ´esculhambação completa´ e recebe críticas
Em sua fala, o prefeito ainda falou sobre o envolvimento da Polícia Militar e de organizadores do Carnaval em esquemas de corrupção.
O Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), foi alvo de duras críticas nesta quarta-feira (20) após uma fala em que caracterizava o Rio como "uma esculhambação completa" ser divulgada.
As declarações foram dadas na manhã desta terça-feira (19) durante um encontro com Servidores da Fundação Parques e Jardins, na Zona Oeste da cidade, e reveladas por uma reportagem do Jornal "O Globo", no dia seguinte.
O evento, que não fazia parte da agenda oficial do prefeito, reuniu cerca de 80 servidores municipais, segundo o jornal. No local, assessores de Crivella teriam orientado os presentes a não gravar o pronunciamento do governante.
Em seu discurso, Crivella afirmou que policiais militares sobem os morros do Rio para pegar "arrego", nome dado ao dinheiro de propina a oficiais, associou o carnaval à corrupção, afirmando que a Prefeitura ganha "uma banana" por investir no evento, e ainda definiu o VLT, 'Veículo Leve Sobre Trilhos' que circula no centro da cidade, como uma "porcaria".
"Por que esses meninos (do tráfico) são tão valentes? É porque, quando o político rouba e fica rico, o comandante do batalhão também quer ficar rico. O coronel quer ficar rico. O tenente, o sargento querem ficar ficar ricos. Aí, eles sobem o morro para pegar o arrego. O arrego é o troco da cocaína.", disse Crivella sobre a Polícia Militar do Rio.
O Prefeito questionou a eficiência do VLT que circula na região portuária da cidade. "Quando o bondinho, o trenzinho alcançar a fase três, a Prefeitura tem que garantir duzentos e sessenta mil passageiros por dia. Como é que eu vou fazer isso? Isso é maluquice. Isso é doideira. Como é que eu vou garantir que tem que ter passageiro no ônibus, que tem que ter passageiro no VLT? Quanto custou aquela porcaria? Um bilhão?"
A fala de Marcelo Crivella se encerrou com a seguinte constatação: "Esse é o Rio de Janeiro. Esse é o nosso Rio de Janeiro. É uma esculhambação completa."
As declarações controversas resultaram em polêmica e repercutiram entre as autoridades vinculadas aos setores criticados.
Até mesmo o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, reagiu ao discurso, sem, contudo, se referir diretamente ao Prefeito da cidade. "Não admito, não aceito qualquer tipo de declaração leviana que coloque em dúvida a integridade moral da atuação de nossos comandantes, oficiais e praças", saiu Witzel em defesa da PM.
Em nota, a Secretaria de Polícia Militar disse que o Prefeito ofendeu de forma cruel uma legião de 45 mil policiais.
No documento, o secretário da PM, coronel Rogério Figueiredo de Lacerda, referiu-se às declarações como "absurdas" e ofensivas à categoria.
"Lamentável e inacreditável que o prefeito do município do Rio de Janeiro, uma cidade com problemas tão sérios a resolver, seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública", disse o coronel da PM.
A concessionária que administra o VLT lamentou a fala do Prefeito e reforçou que o sistema transporta 80 mil pessoas por dia.
No final da tarde desta quarta-feira, a Prefeitura do Rio também se manifestou, afirmando que a fala de Wilson Witzel foi publicada fora de contexto, e que não houve ataque à corporação da Polícia Militar, mas, a uma minoria de maus profissionais. O texto ainda explica que o Prefeito não critica o VLT, porém, a responsabilidade de garantir a demanda de passageiros.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, Witzel não explicou o porquê do uso da palavra "esculhambação" atribuída ao Rio, mas se redimiu novamente com a PM. "Mais uma vez, quero reafirmar aqui o respeito que tenho pela corporação da Polícia Militar".