Medo do metanol faz despencar vendas de bebidas destiladas no país
Gim, vodca e uísque tiveram queda de 35% nas vendas no Brasil e quase 60% em SP; casos de intoxicação mudaram hábitos, elevando consumo de cerveja e vinho
Juliana Tourinho
O medo de consumir bebidas adulteradas com metanol mudou o comportamento de compra dos brasileiros. Para alguns consumidores, a confiança agora está mais voltada às prateleiras dos supermercados.
“Eu já costumo comprar aqui faz tempo, então é um lugar que tenho confiança pra comprar vodka ou algum destilado, mas realmente mudou o consumo. Eu evito comprar em adega por medo de estar adulterado”, conta o programador Cauã Moreira.
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A mudança de hábito também foi percebida pelos estabelecimentos que vendem bebidas. Os consumidores estão trocando os destiladoss por fermentadas, como cervejas e vinhos — o que deixou as prateleiras cheias e forçou os supermercados a lançarem ofertas para atrair o público.
“O que está nos preocupando agora é o estoque de fim de ano, quando se vende muita bebida. Vamos ter cautela para evitar comprar errado e sobrar muita coisa no ano que vem”, explica Antônio Ferreira, gerente regional de um supermercado.
Queda nas vendas
Depois de registrar alta de 4,9% no faturamento até agosto, o setor de destilados mergulhou em queda de 25% nas vendas nacionais entre 28 de setembro e 11 de outubro, período em que começaram a surgir os casos de intoxicação. Na Grande São Paulo, o tombo foi ainda maior: 45,3%.
“Em São Paulo surgiram os primeiros casos, então o impacto foi maior. É uma região altamente consumidora, de grande importância pro mercado, e isso afeta o total nacional”, explica o especialista Mário Ruggiero.
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Os produtos mais afetados foram gim, vodca e uísque, com redução de 35% nas vendas no país e quase 60% em São Paulo, comparando a segunda semana de outubro com o mesmo período do ano passado.
Nos bares, o cenário também é de cautela. O medo da contaminação afastou parte dos clientes e reduziu o consumo de destilados em 35% em alguns estabelecimentos da capital paulista.
“A confiança vai voltando aos poucos, não é de uma vez. As casas mais antigas, que sempre trabalharam da forma certa, vão reconquistando o público”, diz Wanderley Romano, sócio do bar Salve Jorge.
Para os empresários, a única receita para a crise é a transparência.
>“Reconquistar a confiança do cliente é fundamental. Mostrar na prática a procedência das bebidas e comprar sempre de fornecedores formais é o caminho para reduzir qualquer risco”, reforça Mário Ruggiero.