Câmara Legislativa do DF lança Observatório da Pessoa Idosa para embasar políticas públicas
Ferramenta inédita vai reunir dados sobre envelhecimento, saúde e violência em Brasília e nas regiões administrativas do Distrito Federal

Isabela Guimarães
No Dia Internacional da Pessoa Idosa, celebrado nesta quarta-feira, 1º de outubro, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) lançou o Observatório da Pessoa Idosa, uma plataforma inédita de dados que pretende mudar a forma como o poder público planeja e executa políticas voltadas à população com mais de 60 anos.
A iniciativa faz parte do Programa Pró-60 e marca o início da Semana de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa no DF. O evento, realizado no plenário da CLDF, foi proposto pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT), Procurador Especial do Idoso, e reuniu autoridades, entidades da sociedade civil e especialistas em envelhecimento.
"É preciso tratar o envelhecimento como uma questão central no desenvolvimento de políticas públicas. Com dados precisos, poderemos confrontar desigualdades e construir um DF mais justo para todas as idades", afirmou o deputado.
Saúde ainda é o maior gargalo
O estudo técnico que deu origem ao Observatório, elaborado pela Consultoria Técnico-Legislativa da CLDF (Conofis), traça um retrato detalhado da realidade da pessoa idosa no Distrito Federal e no país. O diagnóstico revela desafios urgentes em áreas como saúde, assistência social e proteção contra a violência.
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Em julho de 2025, mais de 375 mil idosos aguardavam consultas especializadas no DF, com tempo médio de espera de quase dois anos. Para exames, a fila ultrapassava 2,2 anos. O déficit de profissionais também é preocupante: apenas 44 médicos geriatras atuam na rede pública, número 89% menor do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o DF é uma das poucas unidades da federação sem leitos geriátricos ou unidades especializadas cadastradas no SUS.
População idosa cresce e violência preocupa
O levantamento também mostra que o Distrito Federal lidera a expectativa de vida no país, chegando a 79 anos em 2024, com projeção de alcançar 84 anos em 2070. No mesmo período, a população idosa cresceu 225%, totalizando 401 mil pessoas.
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Esse envelhecimento acelerado vem acompanhado de outro dado alarmante: o número de casos de violência contra pessoas idosas mais que dobrou entre 2020 e 2025, saltando de 8.433 para 20.435 registros. A maioria das vítimas é mulher.
Envelhecimento mais rápido que a média nacional
Os números ganham ainda mais relevância diante do ritmo de envelhecimento no Brasil. Entre 2000 e 2024, a população idosa aumentou 124,36% e deve representar quase 38% do total até 2070. No DF, o avanço foi ainda maior, atingindo 225,88% no mesmo período. Hoje, cerca de 13% dos moradores têm mais de 60 anos, e a expectativa é que esse percentual ultrapasse 40% nas próximas décadas.
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Apesar da urgência, o estudo mostra que o orçamento destinado à pessoa idosa no DF tem sido subutilizado. Em 2023, por exemplo, menos de 24% dos recursos autorizados foram aplicados.
Plataforma reunirá dados estratégicos
O Observatório da Pessoa Idosa nasce como uma resposta a esse cenário. A ferramenta reunirá dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Ministério da Saúde, da Secretaria de Justiça, do Ministério Público e estudos produzidos pela própria CLDF, criando um painel público e dinâmico que permitirá aos gestores planejar ações mais eficazes em áreas como saúde, assistência social, habitação, mobilidade e combate à violência.