Ativista Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, morre aos 100 anos
Militante de esquerda foi filiada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e exilada em Cuba após assassinato do marido


Emanuelle Menezes
A ativista Clara Charf, viúva do ex-deputado federal e militante Carlos Marighella, morreu nesta segunda-feira (3), em São Paulo, aos 100 anos. A informação foi confirmada pela Associação Mulheres pela Paz, entidade fundada e presidida por ela. Na terça-feira (4), a morte de Marighella completa 56 anos.
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Centenária, a militante de esquerda faleceu de causas naturais. Segundo Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres pela Paz, ela estava hospitalizada e intubada há alguns dias.
"Clarinha morreu de causas naturais. Estava hospitalizada há alguns dias, intubada. Dentre as diversas atividades dessa guerreira, foi também idealizadora e fundadora da Associação Mulheres pela Paz, da qual era presidenta. Deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero", escreveu Vieira.
Clara Charf completou 100 anos no último dia 17 de julho.

Vida e militância
Clara Charf nasceu em 17 de julho de 1925, em Maceió. Os pais, judeus russos, vieram para o Brasil fugindo da perseguição antissemita no Leste Europeu.
Aos 20 anos, foi para o Rio de Janeiro tentar emprego. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1946, aos 21 anos, onde conheceu Carlos Marighella, seu futuro companheiro de vida.
Integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN), fundada em 1967 pelo ex-deputado – que chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura militar. Ele foi morto em 4 de novembro de 1969, em São Paulo.

Logo após a morte de Marighella, Clara se exilou em Cuba, onde viveu por 10 anos. Após a Lei da Anistia, em 1979, voltou ao Brasil e se filiou ao recém-fundado Partido dos Trabalhadores (PT).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em uma publicação nas redes sociais, que o país perdeu "uma mulher extraordinária". "Convivi com a Clara por mais de 40 anos. Aprendi muito com ela sobre política, solidariedade, resistência e humanidade. E hoje me despeço dela com carinho, respeito e gratidão a essa grande brasileira que tanto fez pelo nosso país e por todos nós que tivemos a sorte de tê-la por perto", disse.
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e um dos fundadores do PT, lamentou a morte da ativista – a quem chamou de "lenda". "Conheci Clara Charf em Cuba, nos anos 70. Já era uma lenda para nós, jovens que lutávamos contra a Ditadura", escreveu.
Maria Marighella, neta do ex-deputado e presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), foi outra a homenagear Clara Charf nas redes sociais. Ela publicou uma foto em que segura as mãos da idosa e escreveu: "Imensa. Te amo para sempre". Maria é filha de Carlos Augusto Marighella, filho do primeiro casamento do militante.









