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Personagens de junho: Sérgio Silva, fotógrafo atingido por bala de borracha

Vítima, que fazia cobertura do protesto de 13 de junho de 2013, perdeu a visão do olho esquerdo

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arte com escrita Atos de Junho: 10 anos depois
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Os protestos de junho de 2013, que começaram com mobilizações contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, passaram a ter maior repercussão e apoio após imagens de violência policial rodarem o país. O auge dessa repressão aconteceu no ato do dia 13 de junho, no episódio que ficou conhecido como "Batalha da Consolação". Ao todo, 235 pessoas foram detidas e mais de 100 ficaram feridas. 178 tiros de bala de borracha foram disparados pela Polícia Militar.

Com a violência fora de controle, jornalistas também se feriram durante a cobertura do ato. O caso mais grave aconteceu com o fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, que foi atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha e perdeu a visão.

Dez anos após ser vítima de uma violência que mudou para sempre sua vida, Sérgio Silva conversou com o SBT News e falou sobre sua luta por justiça, em um processo contra o Estado por dano físico e moral que se arrasta por todos esses anos.

"O que me foi sentenciado, em primeira instância, é de que fui o responsável por entrar na linha de tiro entre a polícia e os manifestantes, como se eu quisesse colocar o meu olho na frente de uma bala, ou se eu quisesse ser um fotógrafo herói, e não foi o que aconteceu", afirma Sérgio.

O dia 13 de junho

Sérgio recorda que naquela manifestação, que acontecia durante a noite, quando as primeiras bombas de efeito moral foram jogadas pela Polícia Militar, ele tentou se proteger próximo a uma banca de jornal. "A quantidade de bombas sendo jogadas, bala de borracha, bomba de efeito moral, era assustadora", lembra ele.

Dez anos depois, o fotógrafo ainda se pergunta os motivos pelos quais estava no local, se culpando pelo que aconteceu com seu olho.

"Muitas vezes eu me pego pensando os motivos que me levaram a estar ali, por que eu estava ali, às vezes até me colocando num lugar de culpa, né? Mas, ao mesmo tempo, eu também consigo entender que eu estava ali única e exclusivamente para trabalhar, para levar informação, para produzir conteúdo", afirma Sérgio.

Sérgio Silva perdeu a visão do olho esquerdo | Arquivo pessoal

A luta por justiça

Em abril de 2023, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido de indenização do fotógrafo, seguindo a decisão em 1ª instância do juiz Olavo Zampol Júnior, de 2016, que entendeu que o profissional se colocou "em situação de risco" ao se posicionar entre os policiais e os manifestantes. Para Sérgio, esse é "um segundo ato de violência".

"Eu estava ali trabalhando, fotografando, com a minha máquina fotográfica, como qualquer outro profissional da imprensa. Não cabe a mim essa responsabilidade da violência, que me atingiu. Não fui eu quem apertou o gatilho, não fui eu quem deu a ordem para a Polícia Militar atirar naqueles manifestantes da maneira que atirou naquela noite. Logo, eu não sou o responsável por isso", diz ele.

A defesa do fotógrafo recorre da decisão no Supremo Tribunal Federal (STF), que já decidiu -- em 2021 -- que o poder público tem a obrigação de indenizar profissionais da imprensa feridos por policiais em coberturas de protestos. A conclusão da Corte foi proferida no julgamento de um recurso protocolado por outro fotógrafo, que perdeu 90% da visão de um dos olhos em 2000, durante uma manifestação de professores em São Paulo.

"A partir do momento que um fotógrafo vai para uma manifestação e sai de lá sem um olho, não tem mais imagem possível sobre isso, a única imagem é a imagem da violência", afirma Sérgio.

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Seguindo a vida

"Quando eu me torno fotógrafo, não foi uma escolha banal, foi um sonho de vida, eu queria ser fotógrafo, eu estudei para ser fotógrafo". Mesmo após o trauma, Sérgio decidiu seguir com seu sonho, na profissão que escolheu para si. E foi por isso que ele, que aprendeu a fotografar por conta própria, resolveu voltar para os bancos escolares.

"Eu voltei para a universidade, estou me formando agora. Eu também olho para o Sérgio como alguém que tentou fazer dessa história não só um lugar de dor. Porque ele é muito pesado. É difícil conviver com isso todo dia", diz o fotógrafo, que completa: "preciso tocar essa vida".

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