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Brasil

Todas somos um pouco Rita

Até na tua partida, reafirmastes a vida, a liberdade

Imagem da noticia Todas somos um pouco Rita
Rita Lee liderou Os Mutantes, na década de 1970
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Acordei, no dia seguinte, não querendo apenas nascer e morrer. A vontade de voar alto demais também passou, porque todo feitiço é simples. Minhas raízes amazônicas gostam do chão úmido. Da chuva. Do cheiro dela que sobe.
Ouvi novamente todo o álbum dos mutantes. Queria sentir o mesmo fulgor adolescente, quando te ouvi pela primeira vez e tua loucura acolheu a minha. Não me senti mais inadequada, Rita.

Consegui ver que era possível não ser socialmente boazinha. Tanto que me rebelei com cartazes na escola em forma de manifesto, quebrei telhados matando aula. Tudo era aceitável desde que fosse eu, Rita. "Fama de porra louca, tudo bem." Isso não me abalou.

Também me senti artista pela primeira vez.
O teatro foi minha válvula de escape, deu asas a minha cobra. Depois comecei a tocar violão e compor. Declarei amor pelo mar e a pela ventania. Subi no palco, com 16 anos, fiz uma oração para Iemanjá. Aos 17, cantei um samba que dizia: "e aquilo sou não é mais, não sou mais, e quem é mais?".

Jurei para mim mesma que é melhor não ser o normal, Rita. Você me ensinou. E sempre odiei estereótipos. Ainda fujo deles todos os dias. Danço, choro, me vejo como uma jornalista fora da caixa. Pena não ter te dito isso em vida, pessoalmente. Mas fica esse texto. Meu orgulho de ser muito louca e encontrar assim a paz, nas tuas músicas, na tua história, no teu legado. Todas somos um pouco Rita.

Que a gente continue cagando para as pessoas na sala de jantar. E lamba os dedos, deixando cair comida na roupa. Que a gente acolha nossos monstros. Afinal, a vida é curta e você engrossou nosso mantra: Para esse rock and roll não existe cura.
 

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