Moro defende mais rigor contra crime organizado: "Não podemos retroceder"
Parlamentar alvo de facção quer criminalizar planejamento de atentado contra autoridades
Rafaela Vivas
O senador Sergio Moro (União-PR) ocupou a tribuna do Senado Federal na tarde desta 4ª feira (22.mar) para repercutir a ação de criminosos que planejavam ataques contra ele e outras autoridades e funcionários públicos. O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL), agradeceu a ação da Polícia Federal (PF) e os envolvidos na operação que prendeu os suspeitos, e propôs o debate de um projeto de lei que prevê o endurecimento de penas contra os integrantes de facções.
Moro ainda se mostrou alarmado com a escalada de violência atual. "Fico alarmado com essa escalada que estamos vendo do crime organizado no país. Estamos assistindo atônitos a esses ataques à sociedade civil, como no Rio Grande do Norte, ataques que têm características terroristas", disse.
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"Ou nós os enfrentamos ou quem vai pagar vão ser não só as autoridades, mas igualmente a sociedade. E isso tem que ser feito com políticas rigorosas, inteligentes, com base na lei contra a criminalidade organizada. Nós não podemos nos render", afirmou.
O projeto protocolado nesta 4ª feira (22.mar), foi redigido quando Moro ainda estava à frente do Ministério da Justiça, e prevê a criminalização de um planejamento para a prática de atentados contra autoridades. Segundo o parlamentar hoje, sem a tipificação para esses casos, a polícia "fica tolhida de tomar qualquer ação antes que se inicie a tentativa da prática do crime".
"Nós não podemos retroceder, senhor presidente. Se eles vem pra cima da gente com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles tem uma metralhadora, nós temos que ter um tanque ou um carro de combate. Não no sentido literal, mas nós precisamos reagir as ações do crime organizado. E como deve o Senado reagir, presidente? Com o que lhe é próprio: que são leis para proteger não só as autoridades, mas os cidadãos", defendeu o senador, que pediu pressa na análise da matéria.
A proposta de Sergio Moro prevê ainda que após as condenações dos envolvidos no planejamento de atentados contra autoridades, as penas sejam iniciadas em presídio federal de segurança máxima.
"Porque eles sabem que se transferidos para lá é o fim da linha, pois eles não tem mais comunicação com o mundo externo e que não seja monitorada. e até por isso que exite eess emovimento de retalhiação porque os maiores lpideres de facções hoje estão recolhidos em presídios de segurança máxima", afirmou.
Moro aproveitou o pronunciamento para lembrar de suas ações enquanto ministro da Justiça, atribuídas por ele como um dos motivos para os ataques. "O que me foi informado é que uma célula do PCC tinha esse planejamento de sequestrar a mim, ou a minha família, ou realizar esses ataques como uma forma de retaliação do trabalho que nós fizemos como juiz, e principalmente, como Ministro da Justiça, quando nós fomos duros contra o crime organizado".
Manifestações no plenário
Na sequência do pronunciamento de Moro, no Senado, parlamentares pediram a palavra para prestar apoio ao ex-juiz. Magno Malta (PL-ES) foi o primeiro a falar. Lembrou da transferência de Marcola apontado como um dos principais líderes da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), das dificuldades impostas por Moro em visitas íntimas, por exemplo, durante a gestão do então ministro na pasta da Justiça e defendeu o armamento da população. "Glamourizar bandido e desarmar a sociedade? Nós estamos à deriva na segurança pública", rebateu. Malta, que é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da chamada "bancada da bíblia e da bala", no Congresso, completou: "Arma não mata, quem mata é o homem. Arma é direito do cidadão".
Eduardo Girão (Novo-CE), defendeu a preservação do "cidadão de bem" e de autoridades. "Famílias são expulsas no Ceará pelo crime organizado e por facções criminosas e isso está acontecendo em todo o país", ressaltou. O político também citou nominalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a declaração do petista nesta 3ª feira (22.mar) que em entrevista criticou a atuação de Moro na Lava Jato. "O exemplo tem que vir de cima. O presidente da República com aquela declaração coincidentemente, ontem, que eu não tenho coragem de repetir aqui e que estaria para se vingar dessa gente. Isso só colabora com uma situação pior", alfinetou. "A gente precisa de muita serenidade e dos homens de bens se juntarem para fazer o seu trabalho, antes que seja tarde demais", completou.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) prestou solidariedade à Moro e parabenizou a atuação da PF. "Eu acho que nós não podemos perder o foco. Eu acho que nós temos que aproveitar o fato e comemorar a eficiência da Polícia Federal, a postura do governo, e eu incluo obrigatoriamente a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como democrata, como respeitador do direito e da vida das pessoas, que teve uma postura que não faz favor, cumpre a sua obrigação", defendeu Wagner.
"Ele [Lula] faz a sua obrigação de fazer da polícia, e nem sempre foi assim, uma polícia não do presidente, mas uma polícia da sociedade como deve ser", concluiu o líder do governo, em defesa do presidente.
Os discursos foram intercalados, a partir daí, por pronunciamentos de governistas e opositores do governo Lula. Dezenas de senadores fizeram questão de se inscrever para usar o tempo de manifestação sobre o episódio na tribuna.
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