Tragédia no litoral de São Paulo evidencia despreparo de cidades brasileiras
De 1.038 cidades monitoradas por Centro de Desastres Naturais, menos de 100 criaram estruturas de risco
SBT News
Das 1.038 cidades brasileiras que hoje têm risco altíssimo de enfrentarem os mesmos problemas vistos no litoral de São Paulo, nos últimos dias, menos de 100 tem uma rede preparada para receber famílias que vivem nas áreas de risco. Os números são do Cemaden - Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, órgão federal criado em 2011 para monitorar desastres. O órgão foi implementado depois das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, que deixaram na ocasião mais de 900 mortos. De lá pra cá menos de 100 cidades criaram estruturas que possibilitem, por exemplo, que as famílias deixem as casas quando as sirenes do monitoramento tocam.
A falta de investimento no Centro faz com que mais de 4.000 cidades brasileiras não tenham como dar nenhum tipo de alerta em caso de chuva forte. O pesquisador e cientista climático, Carlos Nobre, um dos responsáveis pela criação da estrutura de monitoramento federal fala sobre os desafios de dar efetividade ao Cemaden.
"Implementar em todas essas áreas, dezenas de milhares de áreas de risco, sistemas que façam as pessoas saírem do risco de morrer, como quando uma casa caí, morrer afogada com inundação. Mas infelizmente ainda são poucos os municípios no Brasil que já tem esse sistema todo bem desenvolvido", lamenta.
Apesar dos gargalos efentados por pequenos municípios, Nobre cita as cidades de Petrópolis, Nova Friburgo, na região serrana do Rio, e Campos do Jordão, em São Paulo, como municípios que conseguiram criar uma rede eficaz de assisitência.
"Não é só tirar as famílias né, é você educar as pessoas. Quando a sirene toca, as pessoas já sabem pra onde ir, nunca é uma distância muito grande. E também logicamente tem que ter uma assistência muito grande, porque tem muitas pessoas, por exemplo, idosas que residem nessas residências que não tem nem capacidade se deslocar rapidamente", argumenta.
O especialista em diz que a crise climática vai provocar eventos extremos com maior frquência e por isso é cada vez mais urgente que os municípios acelerem a criação das estruturas.
Orçamento
Em 2011 quando o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais foi criado, o orçamento era de mais de R$ 100 milhões para a compra de equipamentos, radares e instalação das estruturas. Em 2021 o Cemaden recebeu menos de R$ 25 milhões. Por causa da escassez de recursos, desde 2015 o Centro não amplia o número de cidades monitoradas e mais de 4 mil municípios não recebem alertas.