Dificuldade de manter um negócio é maior para empreendedor negro, diz estudo
Maiores desafios são obter financiamentos e equilibrar as contas
Flávia Travassos
Na véspera do Dia da Consciência Negra, comemorado neste domingo (20.nov), um estudo faz um alerta: entre os empreendedores negros e pardos, a dificuldade de manter um negócio é maior que entre os brancos. Para eles, a necessidade de equilibrar as contas e a dificuldade de conseguir o financiamento são desafios diários.
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Daniel Cristovão abriu a própria empresa três anos atrás. A "Favela Music Arte e Cultura" promove shows, festivais de rimas e peças de teatro. "A carne preta não aguenta mais ser alvo de violência e brutalidade, eu grito basta para toda a cidade", disse Daniel.
Contudo, ele conta que não foi fácil se tornar um empreendedor cultural: "A maior dificuldade é oportunidade da gente se conectar com pessoas e enxergar que não estamos querendo doação, nós não somos coitadinhos. [...] Eu lembro que eu corri atrás de investidores para dar um 'up' na minha empresa e eu encontrei muita dificuldade".
Um estudo sobre a jornada dos afroempreendedores brasileiros mostra a desigualdade de oportunidade e crescimento entre os profissionais. Mais de 20% dos entrevistados negros comprometeram 69% do faturamento para pagar dívidas. Entre os brancos, 26% usam menos de 10% da receita para quitar contas atrasadas. Em negócios abertos há menos de 6 meses, a diferença é ainda maior: enquanto quase 20% dos negros usam todo o faturamento para acertar as contas, menos de 10% dos brancos estão na mesma situação.
A pesquisa traz uma constatação: enquanto os brancos estão mais preocupados em traçar planos de negócios, os negros têm como meta equilibrar a vida financeira. Os dados fazem pensar que ainda falta um longo caminho para que a sociedade apresente uma história diferente, com menos lutas e mais vitórias.
Para José Vicente, sociólogo, professor, doutor em educação e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, o estudo reflete a desigualdade que sempre existiu no Brasil: "ele confirma e reitera a distorção natural e artificiosa que separam negros e brancos no nosso país, sobretudo por conta de um olhar e de uma condução que contempla, fortalece e robustece e reproduz o racismo sistemático".
Na véspera do dia em que se comemora a Consciência Negra, vários eventos foram realizados em São Paulo para comemorar a data. No Memorial da América Latina, uma mostra reúne trabalhos que destacam traços indígenas e afrodescendentes. No Museu da Imigração, acontece um festival gastronômico para valorizar a influência africana na comida brasileira. Há, sim, avanços para quebrar a barreira da desigualdade social e o preconceito, mas ainda estamos bem longe de sermos uma sociedade justa para todos.
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