COP27: Área de sustentabilidade está em 6 a cada 10 indústrias brasileiras
Pesquisa da CNI também mostra maior preocupação com a cadeia: 45% cobram ações dos fornecedores
A sustentabilidade está cada vez mais presente na estrutura organizacional da indústria brasileira. A cada 10, seis possuem uma área dedicada. No ano passado, eram 34% delas. Os dados são de uma pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a que o SBT News teve acesso antes da divulgação na Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27). O evento acontece em Sharm El-Sheikh, no Egito, até o dia 18 de novembro.
A preocupação não se restringe ao espaço ocupado pelas empresas. Vai além e atinge a produção em cadeia: 45% dos entrevistados exigem certificados ambientais dos fornecedores para fechar um contrato. Em 2021, o percentual era de 26%. Na relação contrária também houve evolução: 52% das indústrias já tiveram que comprovar ações ambientalmente sustentáveis esse ano, contra 40% em 2021.
"A indústria brasileira assumiu a responsabilidade com a agenda ambiental e tem trabalhado para se tornar referência no uso sustentável dos recursos naturais e aproveitamento das oportunidades associadas à economia de baixo carbono. A sustentabilidade está no nosso DNA, tanto na busca por eficiência quanto na economia de recursos para ser mais competitivo e atender às exigências do mercado internacional. O mundo cobra do Brasil responsabilidade ambiental, e o setor privado tem interesse em se manter alinhado com os acordos internacionais", destacou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A Pesquisa Sustentabilidade e Liderança Industrial da CNI, encomendada à FSB Pesquisa, entrevistou executivos de 1.004 empresas de pequeno, médio e grande porte de todos os estados entre os dias 6 e 21 de outubro de 2022.
Em relação aos investimentos, o cenário é de crescimento. Metade das indústrias aumentou os recursos para sustentabilidade nos últimos 12 meses. Um percentual ainda maior, equivalente a 69%, disse que os recursos financeiros para implementar ações de sustentabilidade vão aumentar nos próximos dois anos. Esse percentual foi de 63% no ano passado. Também cresceu de 30% para 47%, em um ano, o número de executivos que enxergam a agenda de sustentabilidade como só oportunidades ou mais oportunidades do que riscos.
Na opinião dos empresários, o fator que mais pesa na decisão de investir em sustentabilidade é a redução de custos, citado por 41% como primeiro e segundo principal motivo. Em seguida, estão o aumento da competitividade e o atendimento às exigências regulatórias, cada um desses tópicos foi citado por 30% dos entrevistados.
Já sobre os obstáculos para a implementação de ações, 50% dos entrevistados apontaram a falta de incentivos do governo como principal barreira. Do total, 37% citaram a falta de cultura de sustentabilidade no mercado consumidor e, para 34%, o fato de a sustentabilidade representar custos adicionais é o principal desafio para a mudança no processo produtivo.
Maioria dos executivos diz ter dificuldade em acessar crédito para ações sustentáveis
Na hora de investir, as empresas recorrem pouco a incentivos externos, ou seja, fora do orçamento da indústria, e costumam bater mais à porta do setor privado. A maioria, 55% consideram difícil ou muito difícil o acesso ao crédito para adoção de ações sustentáveis. Do total, 23% buscaram por créditos privados nos últimos dois anos, sendo que 15% obtiveram o financiamento. Dentre as que recorreram a recursos públicos nos últimos dois anos, 16% tentaram crédito e 6% chegaram a receber o benefício.
"A indústria é uma grande aliada no desafio de promover investimentos verdes e se apresenta como parte da solução nas questões climáticas. Para a CNI, a consolidação de uma economia de baixo carbono dinâmica e próspera, capaz de fazer o Brasil avançar em direção às metas estabelecidas no Acordo de Paris, deve se basear em quatro pilares: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação das florestas", destaca o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.
91% das indústrias adotam ações para reduzir geração de resíduos sólidos. Já o uso de fontes renováveis de energia é o principal foco de investimento
Sobre a adoção de iniciativas sustentáveis, a pesquisa mostra que 84% das indústrias realizam pelo menos cinco medidas dentre as nove incluídas no questionário. No topo da lista, estão ações para reduzir a geração de resíduos sólidos na produção, em que 91% dos executivos disseram já adotar. Também tiveram percentuais altos, 80% ou mais, ações relacionadas a melhoria de processos, otimização do consumo de energia e do uso da água. Em último lugar está o uso de fontes renováveis de energia, em que 48% das indústrias disseram adotar.
Mas o uso de fontes renováveis de energia foi apontado como principal foco de investimento nos próximos dois anos: 37% dos entrevistados disseram ser essa a primeira ou a segunda prioridade na alocação de recursos. Em seguida estão a modernização de máquinas, citada por 35% dos executivos, e ações para reduzir a geração de resíduos sólidos, com 32%. Como cada um dos entrevistados citou dois principais focos para os investimentos até 2024, os percentuais são a soma da primeira e segunda prioridade apontadas.
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