Monarca, pai e amante: conheça a personalidade de Dom Pedro I
Independência do Brasil e imposição da Constituição de 1824 marcaram o legado do imperador

SBT News
Conhecido como um dos grandes nomes da história brasileira, Dom Pedro I foi um dos condutores do processo de independência, além de ter sido imperador do país por nove anos (1822 -1831). Filho de Dom João VI, rei de Portugal e do Reino Unido, o monarca abriu mão do trono português para assumir, aos 24 anos, o poder no Brasil, ficando marcado por ter uma personalidade forte. Outros adjetivos como mulherengo e pai afetuoso também entram na lista.
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O curioso, no entanto, é que Dom Pedro I não foi criado para ser imperador, uma vez que ele era o segundo na fila de sucessão de Dom João VI., depois do irmão mais velho, Dom Antônio de Bragança. "Dom Pedro I era criado no absolutismo. Ele é convocado a tomar parte, como uma espécie de fantoche símbolo da Independência do Brasil, mas nós, historiadores e historiadoras, sabemos que fantoches nunca gostam de ficar como fantoches o tempo todo", diz Lilia Schwarcz, escritora, historiadora e antropóloga.
Ela explica que, após tomar o trono no Brasil, o imperador foi responsável por grandes feitos que marcaram o Primeiro Reinado, como a imposição da Constituição de 1824 e a erradicação de alguns movimentos.
"Ele gostava desse protagonismo. Hoje, sabemos que ele gostava bastante de Napoleão Bonaparte [líder militar francês] justamente porque ele era um plebeu que deu um golpe e se transformou em imperador."
O governo autoritário também foi marcado por outro, digamos, falatório: a vida amorosa de Dom Pedro I. Apesar de ter se casado com Maria Leopoldina, em maio de 1817, para assegurar as alianças entre Portugal e Áustria, o monarca era conhecido por ter dezenas de amantes. De acordo com pesquisadores, a grande paixão do imperador foi a brasileira Domitila de Castro Canto e Melo, conhecida como Marquesa de Santos, com quem teve entre cinco e seis filhos.
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"Com 11 anos de idade ele já falava que era homem, então ele teve uma iniciação sexual muito cedo", conta Paulo Rezzutti, historiador e escritor. "Dom Pedro I teve filho com a irmã da amante [Marquesa de Santos], a Baronesa de Sorocaba, e até com uma freira, em Vassouras. Muitas famílias, para evitar o escândalo, casavam as meninas com alguém para evitar que ele tivesse contato com a criança", diz o pesquisador. No total, estima-se que o monarca tenha tido entre 20 a 25 filhos bastardos.

Com isso, o Dom Pedro I desenvolveu uma experiência paterna desde cedo e, conforme contam os especialistas, desempenhou a função com louvor. Além dos herdeiros do trono, o imperador também dedicava atenção aos filhos bastardos. O filho que teve com a Baronesa de Sorocaba - Rodrigo Delfim Pereira -, por exemplo, foi enviado para estudar na Inglaterra, enquanto a Duquesa de Goiás, filha do monarca com Domitila, foi educada na França. Ele também mantinha espiões para assegurar o bem estar dos pequenos.
"Tem esse carinho, essa ternura com todos eles, mas principalmente na educação. Isso fica muito claro. Quando ele manda o Delfim Pereira para estudar na Inglaterra, ele manda uma carta para o Marquês de Barbacena, que era o responsável pela missão, falando assim: faça com que ele aprenda português, porque depois eu não quero que ele volte para cá falando minha pai, minha cavalo", conta Rezzutti.
Apesar da dedicação, os casos de Dom Pedro I começaram a ser repudiados pela população brasileira. Isso porque, na época, um rei que tinha muitos filhos bastardos e muitas amantes deixava de ser um rei viril e passava a ser visto como um rei fraco, submisso às mulheres. Em uma visita à Bahia, na qual foi acompanhado pela Marquesa de Santos e a filha, ele foi recebido com folhetos e pichações condenando o adultério. O cenário fez com que, com o tempo, a vida amorosa do monarca pesasse contra ele.
"Ele tinha um bom coração, mas às vezes ele não sabia como se portar. Ele era autoritário, porque, apesar de ter ideias liberais, foi criado dentro do absolutismo", diz o pesquisador.
O autoritarismo e a má fama pelo adultério, bem como a rivalidade entre brasileiros e portugueses e a desvalorização da moeda em relação à libra, culminaram na abdicação do imperador, formalizada no dia 7 de abril de 1831. O trono, portanto, ficou para o herdeiro, Dom Pedro II, que, na época, tinha apenas cinco anos de idade.
"Dom Pedro I foi um meteoro, um raio que cruzou o céu de Portugal e do Brasil e transformou tudo para frente. Ele morreu muito cedo, [de tuberculose], com 35 anos incompletos, deixando um filho no trono brasileiro", diz Laurentino Gomes, jornalista e escritor. Ele explica que, após voltar a Portugal, o monarca também venceu uma guerra civil contra o irmão mais novo, Dom Miguel, e assegurou a coroa para a filha, que se tornou a rainha Maria II de Portugal.
Confira outras cinco curiosidades sobre Dom Pedro I:
- Seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon;
- Era muito vaidoso e vivia sempre bem arrumado;
- Tinha marcas de varíola no rosto e, por isso, deixava as costeletas suíças crescerem;
- Comia com as mãos temendo ser considerado esnobe por utilizar talheres;
- Sofria de epilepsia.
Após a morte, em 1834, o coração de Dom Pedro I foi retirado e colocado em uma urna depositada na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto. O corpo dele, por sua vez, foi enterrado em Lisboa, mas os restos mortais foram trazidos para o Brasil em 1972. O coração é conservado até hoje em Portugal, mas foi enviado ao governo brasileiro temporariamente para comemorar o bicentenário da Independência.
*Com colaboração de Daiara Coelho e Camila Stucaluc