Comando Militar diz que buscas por jornalista "seguem de forma ininterrupta"
Univaja e outras entidades afirmam haver "omissão dos órgãos federais de proteção e segurança"
Guilherme Resck
O Comando Militar da Amazônia (CMA) disse nesta 3ª feira (7.mai) que as buscas pelo indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Araújo e o jornalista Dom Phillips "seguem de forma ininterrupta por meio terrestre e fluvial". Militares combatentes de selva da 16ª Brigada de Infantaria da Selva foram designados para participar e, pela manhã, o Comando de Fronteira Solimões/8° Batalhão de Infantaria de Selva, sediado em Tabatinga (AM) -- próximo de onde a dupla foi vista pela última vez --, deu início a uma operação de busca na região de Atalaia do Norte (AM), na qual uma equipe de militares atuou com a embarcação Lancha Guardian, segundo o CMA.
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Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira desaparecerem no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, Amazonas, no domingo (5.jun). Na noite de 2ª feira, o Exército disse que o CMA estava "em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento", mas que as ações só começariam quando o Escalão Superior acionasse.
A Marinha falou ter enviado, na manhã desta 3ª feira, um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste para integrar a força-tarefa das buscas pelos desaparecidos, integrada pelo Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) e o Exército também. Na 2ª, dois homens -- pescadores identificados como "Churrasco" e "Jâneo" -- que tiveram contato com o jornalista e o indigenista, descobertos durante as primeiras buscas da Operação Resgate, foram encaminhadas à Polícia Civil, em Atalaia do Norte, para prestar esclarecimentos - mas não foram presos.
Para reforçar as equipes de procura, a PF disse ter enviado uma aeronave "com policiais federais e integrantes do Exército à região compreendida entre a frente de proteção etnoambiental itui-itauqai e o município de Atalaia do Norte, região noroeste do Amazonas". Entretanto, em nota conjunta, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) "com exceção dos seis policiais militares e de uma equipe da Funai, que iniciaram as buscas ainda ontem junto com a equipe da Univaja, as informações acerca do cenário das buscas revelam a omissão dos órgãos federais de proteção e segurança, assim como das Forças Armadas".
"Embora tenha sido instado a colaborar com um efetivo de 25 militares, o Exército Brasileiro, até o presente momento, não disponibilizou nenhum efetivo para a operação. A Polícia Federal, da mesma forma, deslocou um único delegado para Atalaia do Norte, junto com oficiais da Marinha que se deslocaram ainda ontem para Atalaia. Ressaltamos que não foi constituída uma Força-Tarefa para as operações de busca", completam.
Ainda de acordo com as entidades, o Escalão Superior hesitou e agiu com lentidão para implementar as ações de busca e salvamento, e as entidades viram isso com perplexidade. A Univaja e a Defensoria Pública da União (DPU) ingressaram na Justiça Federal com um pedido para que a União viabilize o uso de helicópteros da PF, o que classificam como "imprescindível", e sejam ampliados o número de barcos e as equipes de buscas. Para as entidades, o número de militares atuando e Tabatinga para encontrar a dupla desaparecida é "ínfimo diante da urgência".
A Univaja começou a buscar pelo indigenista e pelo jornalista no domingo. Hoje, procura tanto por eles como por um suspeito foragido, vulgo "Pelado". No comunicado conjunto com a Opi, Coiab e Apib, acrescenta que a região do sumiço de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira "condensa conflitos graves num clima de violência em que madeireiros, pescadores ilegais e o narcotráfico internacional exercem suas atividades no entorno e no interior da Terra Indígena Vale do Javari, diante da incapacidade e omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos territórios indígenas". Em suas palavras, "esse cenário exige uma intervenção organizada e bem articulada das forças de segurança pública, numa necessária interlocução e cooperação com as organizações indígenas locais".
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