"Bolsonaro pode ser o pior para as polícias em 28 anos", diz FenaPRF
Presidente da entidade, Dovercino Neto diz que, sem reajuste, policiais jamais esquecerão "traição"
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) pode se tornar "o pior governo para as polícias da União nos últimos 28 anos". O prognóstico é do presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto.
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"Esperamos que (o governo) contemple a reestruturação da carreira e o consequente cumprimento de uma promessa feita pelo presidente Bolsonaro em diversas ocasiões", afirmou o presidente da FenaPRF, em entrevista ao SBT News.
"Caso o governo não cumpra com sua promessa, terá sido o pior governo para as polícias da União nos últimos 28 anos e os policiais jamais esquecerão esta traição."
Em meio às negociações com o governo por reajustes e reestruturação do plano de carreiras da categoria -- que não devem ser contemplados, como esperado --, a morte de Genivaldo de Jesus Santos, na semana passada, em Umbaúba (SE), durante uma abordagem violenta da PRF, fez as entidades sindicais mudarem o rumo da "marcha nacional" para pressionar o governo, realizada na 4ª feira (1º.jun), em Brasília.
Cerca de 2 mil policiais marcharam na Esplanada dos Ministérios em defesa, não só das causas trabalhistas, mas também da imagem da própria corporação. "Diante dos tristes eventos de Sergipe, em respeito à família do senhor Genivaldo e à sociedade, mudamos a temática central do nosso ato, abrindo o espaço para resgatarmos a visão social de cidadania que os PRFs sempre tiveram." Segundo Neto, a ação letal dos policiais "foi um fato totalmente atípico e isolado".
O prazo limite para o governo conceder reajuste e aprovar um plano de reestruturação da carreira da PRF se esgota em julho. Ainda há possibilidade de a categoria ser atendida?
Se houver vontade política do presidente da República em cumprir suas promessas às categorias policiais da União, há tempo sim. Os recursos para este fim foram destinados no Orçamento, aprovado no Congresso, no final do ano passado.
Quais as principais reivindicações da categoria?
Atualização e aprimoramento da Lei de Carreira, que estabeleça direitos e prerrogativas abrangendo as peculiaridades da atividade policial, como escala de trabalho, programas de apoio à saúde física e mental, indenização por morte ou invalidez, adicional noturno, insalubridade, aposentadoria por invalidez e pensão por morte, entre outras.
Todo funcionalismo federal tem cobrado mais do que os 5% de aumento. No caso das forças policiais, havia uma esperança de que, no governo Bolsonaro, essa reivindicação fosse atendida?
Foram as palavras do próprio presidente da República, repetidas publicamente em diversas ocasiões, prometendo a valorização dos policiais. Isso alimentou a esperança de uma valorização, pauta da categoria há muitos anos. O Congresso, na Lei Orçamentária de 2022, aprovou o recurso de R$ 1,7 bilhão para a reestruturação das polícias da União, ficando a cargo do presidente apenas o encaminhamento da medida provisória. Uma MP que, por sinal, foi editada pelo governo, porém se encontra parada no Ministério da Economia.
Cerca de 2 mil policiais rodoviários federais fizeram na 4ª uma manifestação em Brasília. A bandeira principal acabou perdendo o protagonismo, após a morte de Givanildo, em uma abordagem da PRF em Sergipe?
Fizemos uma das maiores marchas da história da PRF. Esse ato estava programado havia algumas semanas, bem antes da tragédia ocorrida em Umbaúba. Mas, diante dos tristes eventos de Sergipe, em respeito à família do senhor Genivaldo e à sociedade, mudamos a temática central do nosso ato, abrindo o espaço para resgatarmos a visão social de cidadania que os PRFs sempre tiveram em seus 94 anos de atendimento à população. O brasileiro sempre encontrou no policial rodoviário federal um servidor confiável, capacitado e comprometido na sua missão de servir ao país. Foi este o aspecto que buscamos reafirmar em nosso ato em Brasília, sem deixarmos de lado as pautas da categoria.
A ação dos policiais na abordagem em Umbaúba foi um fato isolado? Ou pode representar um sintoma de um problema ainda maior, de falta de preparo ou revolta com as mortes recentes de policiais em ação?
O ocorrido em Sergipe foi um fato totalmente atípico e isolado e não pode redefinir a visão de nossa história e de nossa atuação. A PRF, ao longo de sua história, sempre teve uma proximidade muito grande com o cidadão, usuário das rodovias. A instituição, fruto do trabalho de seus servidores, já foi vencedora de prêmios internacionais de direitos humanos. Somente no ano de 2021, a PRF realizou mais de 10 milhões de abordagens a veículos e pessoas por todo o país.
Em relação à perda recente de nossos colegas em um trágico evento, no Ceará, a categoria está enlutada, como também ficou com os 21 óbitos decorrentes de covid-19 no ano de 2021. O policial não é uma máquina. É um ser humano e trabalha, em geral, sob forte pressão, dedicando sua vida em defesa da vida do seu próximo e, necessita, sim de atenção à saúde mental. Essa é uma cobrança constante que fazemos ao governo e à classe política.
A FenaPRF entregou carta ao governo via ministro da Justiça. Quais os próximos passos nessa negociação com o governo?
O que esperamos de fato é a edição de uma Medida Provisória ou outro instrumento legal que contemple a reestruturação da carreira e o consequente cumprimento de uma promessa feita pelo presidente Bolsonaro em diversas ocasiões. Esperamos que o ministro da Justiça reforce e, efetivamente, busque junto ao presidente o cumprimento dessa promessa. Estamos à disposição para debater com o presidente o melhor desfecho em relação à reestruturação. Caso o governo não cumpra com sua promessa, terá sido o pior governo para as polícias da União nos últimos 28 anos e os policiais jamais esquecerão esta traição.