Arthur do Val pede desculpas a deputados e diz que cassação é "excessiva"
Deputado argumenta que não houve "dolo e danos a terceiros" em fala sexista sobre refugiadas ucranianas
O deputado estadual Arthur do Val -- conhecido como Mamãe Falei -- enviou uma carta aos colegas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) na qual se desculpa pelos comentários sexistas sobre refugiadas de guerra ucranianas e pede que não tenha o mandato cassado pela "ausência de dolo [intenção] e de dano a terceiros". O parlamentar também afirma que não pretende mais concorrer a um cargo na Casa.
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"Assumo e entendo a necessidade desta Casa em aplicar-me uma punição. É justo e necessário. Entretanto, peço encarecidamente que considere a ausência de dolo e de dano a terceiros na dosimetria da pena. Se de um lado a punição é necessária, de outro, a cassação se faz excessiva. Acredito que esta Casa terá a serenidade para aplicar uma pena justa, como suas tradições sempre mostraram", afirma no documento.
Na carta, Arthur relembra o episódio, diz ter sido "machista de fato, desrespeitoso e imaturo" e afirma estar "repleto de problemas pessoais". "Envergonhei minha mãe, minhas tias, minha sobrinha e perdi minha namorada. Dizem que os erros nos fazem aprender. Essa lição eu estou aprendendo do jeito mais doloroso possível."
Ele ainda argumenta não ter havido "nenhum tipo de assédio" -- "foram palavras. Palavras horrorosas, desrespeitosas e desprezíveis. Mas foram palavras" -- e tenta ressaltar o que chama de "missão humanitária": "Conseguimos arrecadar R$ 275.366,20, compramos, distribuímos os donativos, ajudamos cinco brasileiros a retornar para casa e resgatamos duas famílias de refugiados".
Na última 6ª feira (4.mar), foram divulgados áudios em que o político faz declarações sexistas a respeito de refugiadas de guerra ucranianas. Em uma das gravações, enviadas a um grupo no WhatsApp, Arthur do Val afirmou que as mulheres ucranianas são "fáceis, por serem pobres".
O parlamentar enfrenta dez pedidos de cassação do mandato na Alesp. Nesta 4ª feira (9.mar), o Conselho de Ética da Assembleia vai se reunir para analisar o caso. A tramitação pode durar até 30 dias. Em seguida, seguirá para o Plenário. Na 3ª feira (8.mar), Arthur pediu desligamento do Podemos, que havia aberto um processo para expulsá-lo. Ele também já havia retirado a pré-candidatura ao governo de São Paulo.
"Cassado em três dias"
Em vídeo publicado em seu canal do YouTube, Arthur do Val diz que vai tentar defender seu mandato "nem tanto por vontade de continuar", mas por "ter orgulho" dele. Na gravação, o deputado estadual cita casos de outros políticos, menciona o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) e afirma que vai ser "cassado em três dias": "Recorde histórico de tempo".
Ainda na gravação, o parlamentar menciona o Movimento Brasil Livre (MBL), do qual é uma das lideranças, mas não crava qual será seu futuro no grupo. "Não acho justo que alguém pague por um erro meu. Eu conheço o pessoal do MBL, lá se alguém está se afogando todo mundo pula para salvar. Mas não quero ser esse fardo", afirma.