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Brasil

Participação feminina no mercado de trabalho retrocedeu 10 anos com pandemia

Enquanto homens retomaram as vagas, mais de 7,5 milhões de mulheres permaneceram desocupadas em 2021

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Mulher vende artesanato
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Em 2021, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho recuou para patamares equivalentes aos de 10 anos atrás, revelou a pesquisa Panorama das Mulheres no Mercado de Trabalho, divulgada nesta 3°feira (8.mar), pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE). A participação, que chegou ao seu melhor nível em 2019, de 54,34%, foi impactada pela pandemia e no ano seguinte caiu para 49,45%. Em 2021, houve uma melhora, mas pouco significativa, de 51,56%.

Em entrevista ao SBT News, Janaína Freijó, pesquisadora da FGV IBRE e autora do panorama, explica que o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, que em 2012 era de 51,58% e foi aumentando gradualmente, especialmente a partir de 2014 e 2015, ocorreu porque com a recessão econômica as pessoas passaram a estar ativas e buscando emprego por meio de atividades informais. Muitos viraram autônomos - principalmente no caso das mulheres, que precisam conciliar atividades do lar com atividades laborais. No entanto, durante a pandemia, houve um retrocesso com o fechamento da economia e suspensão das atividades, principalmente no setor de serviços - que emprega um maior número de contigente feminino.

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"Muitas mulheres que estavam empregadas, deixaram de estar, mas não apenas isso, elas deixaram inclusive de procurar emprego. Elas acabaram saindo da força de trabalho, que é a população economicamente ativa formada por quem está desempregado e quem está empregado. Temos alguns fatores que explicam isso, nós tivemos a expansão do auxílio emergencial e isso ajudou a segurar as mulheres fora do mercado de trabalho, mas também o fato das mulheres estarem alocadas principalmente no segmento de serviço fez com que elas perdessem seus postos de trabalho no momento em que a economia teve que dar uma desacelerada e as atividades tiveram que ser suspensas. Então, no ano de 2021, quando a gente observa uma retomada da economia, elas voltam para o mercado de trabalho, ou seja, voltam a compor a força de trabalho, a população economicamente ativa. Uma parte delas conseguem emprego, mas nós ainda temos um grande contingente que está na força de trabalho buscando emprego.", explica.

A pesquisa também aponta para o fato de que as mulheres têm mais dificuldade para se realocar no mercado de trabalho. Enquanto a quantidade de homens economicamente ativos em 2021 ficou próximo de atingir o patamar pré-pandemia (2019), de quase 54 milhões, o número de mulheres economicamente ativas diminuiu muito. Em 2019, havia mais de 2 milhões de mulheres a mais na força de trabalho, aproximadamente 40 milhões e meio. Em 2021, o número era um pouco mais de 38 milhões.

Segundo Freijó, diversos fatores explicam essa assimetria no retorno ao mercado de trabalho. "Nós temos atualmente o mercado de trabalho bem diferente do período pré-pandemia. Tendências que já vinham acontecendo na última década foram aceleradas. As demandas de trabalho que estão surgindo, que os empregadores estão demandando, são trabalhos que exigem qualificação, exigem novas skills e como nós temos ainda uma grande quantidade de pessoas com baixo nível educacional, elas não conseguem ser competitivas para essas vagas. Além disso, nós também temos a conjuntura da economia que tem dificultado muito o crescimento de novos postos de trabalho. São dois fenômenos acontecendo: uma economia que ainda está em recuperação e ainda está em processo de abertura de novas vagas de trabalho, mas também o fato de que as novas vagas estão vindo com maiores exigências e requisitos."

A taxa média anual de desemprego em 2021, 13,20%, foi inferior a de 2020, 13,74%. No entanto, a pesquisa aponta que essa melhora ocorreu pela queda na taxa de desemprego dos homens. Desde 2012 a taxa de desemprego das mulheres é superior ao dos homens e teve sua maior diferença registrada em 2021, em torno de 5,74 p.p. A taxa de desemprego feminina atingiu 16,45% em 2021, ou seja, mais de 7,5 milhões de mulheres permanecem desocupadas. 

A especialista pontua que é um processo histórico e tem vários fatores relacionados a isso. "Ao longo da vida, a mulher necessita fazer interrupções na sua carreira profissional, como questão de maternidade, muitas delas também tem atrelado a responsabilidade de um idoso. Então, a mulher tem que fazer algumas interrupções que dificultam que ela continue se qualificando e aumentando seu capital humano para se tornar competitiva no mercado de trabalho.  A gente vê que mesmo aquelas que tem um nível educacional mais alto, elas ainda sim encontram algumas dificuldades para permanecer no mercado de trabalho. Quando a gente olha para as que tem baixo nível educacional, nós percebemos que, em 10 anos, a taxa de desemprego mais do que duplicou, passou de 9.92% para 20,59% . Nós já vinhamos sofrendo com um baixo crescimento econômico desde a recessão de 2016, e a recuperação vinha sendo de forma muito lenta, e a taxa de desemprego ela vinha crescendo tanto para as mulheres quanto para os homens, mas, realmente, as mulheres, elas são o elo mais fraco dessa situação."

Ao ser questionada sobre quanto tempo será necessário para recuperar o retrocesso na participação feminina no mercado de trabalho, Freijó é categórica "a pandemia de um ano fez com que os poucos ganhos que nós tivemos nos últimos sete anos fossem perdidos. A recuperação desse indicador para as mulheres vai depender também muito do crescimento da economia e da dinâmica da economia nos próximos trimestres." e comenta, "isso mostra a necessidade de olharmos para esse grupo de mulheres, porque elas têm sido afetadas tanto durante a pandemia, quanto após a pandemia e isso se deve porque nós temos também um grande contingente de mulheres com baixo nível educacional desocupadas, então como reinseri-las é um grande desafio não apenas para economia, como também para os desenhadores de políticas públicas, porque a gente sabe que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, exigindo um nível educacional mais alto, e essas pessoas, elas não têm um nível educacional mais elevado. Como reinseri-las é um grande desafio e precisa ser discutido", finaliza.

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