Padre Julio Lancellotti critica censo: "Mostra um dado abaixo do real"
Coordenador da Pastoral do Povo de Rua também denunciou "repressão" da prefeitura às vésperas do aniversário de São Paulo
SBT Notícias
O novo censo da População de Rua de São Paulo, divulgado neste domingo (24.jan), apontou que quase 32 mil pessoas estão nas ruas da capital paulista. A informação, no entanto, é contestada pelo Padre Júlio Lancellotti, Coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo.
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Em entrevista ao SBT, questionou o número apresentado pelo Instituto Qualitest, que fez o levantamento, "o aumento é maior do que este que a prefeitura está apontando. Hoje, nenhuma entidade independente que atua com a população de rua dá crédito a esse número, o número de pessoas em situação de rua em São Paulo é bem mais que 31 mil pessoas, este censo, que custou R$ 1.700,000, feito pela Qualitest, tem vários problemas metodológicos e mostra um dado abaixo do real".
Para Lancellotti, " o drama que nós estamos vivendo, a crise humanitária em São Paulo, é ainda maior. O número de famílias é ainda maior. O número de mulher, crianças e de jovens que estão andando pelo Brasil procurando trabalho é ainda maior do que o censo mostra"
O relatório final do censo, que seria feito em 2023, mas foi adiantado pela prefeitura devido ao aumento visivel de pessoas na rua, aponta para um crescimento de 31% na população em situação de rua durante a pandemia na cidade de São Paulo. Ao todo, são 31.884 pessoas que estão sem ter onde morar e vivem nas ruas da cidade. Dessas, 7.540 chegaram nos últimos dois anos - a mesma quantidade que toda população nas mesmas condições que estavam nas ruas do Rio de Janeiro em 2020.
O coordenador da Pastoral do Povo de Rua também denunciou uma ação da zeladoria urbana da Prefeitura de SP, que teria expulsado moradores de rua alojados na Praça da Sé para as comemorações do aniversário de São Paulo, nesta 3ªfeira (25.jan).
" O dramático de hoje é a repressão que a prefeitura armou em cima da população de rua para maquiar o centro da cidade e achar que vai comemorar o aniversário de São Paulo com menos pobreza.", disse e continuou, " se vocês forem agora na Praça da Sé, pegarem as imagens, não tem nenhum morador de rua na Praça da Sé. Amanhã é aniversário de São Paulo e a prefeitura varreu, lavou a praça e expulsou todo mundo de lá. Não tem ninguém lá hoje. Para onde eles foram? A prefeitura arranjou casa para eles? Eles estão nos hotéis? Nos centros de acolhida? ou perderam tudo pro rapa (equipes de apoio à remoção) e estão espalhados pela cidade?".
Sobre a ação, a Prefeitura de São Paulo, por meio de nota, afirmou que não foram removidos objetos de uso pessoal - que incluem barracas desmontáveis e cobertores -, apenas objetos que caracterizam estabelecimento permanente em local público e impedem a livre circulação de pedestres e veículos, como camas, sofás e outros itens. Também disse que, em caso de apreensão, os bens são inventariados e encaminhados ao depósito da subprefeitura. Os responsáveis são imediatamente notificados, recebendo o contra lacre para retirá-los em 30 dias corridos.