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Jornalismo

Vítimas relembram noite de terror na Kiss e levam plateia às lágrimas

Quarto dia de julgamento teve depoimentos de duas vítimas e de um promotor; júri segue neste domingo

Imagem da noticia Vítimas relembram noite de terror na Kiss e levam plateia às lágrimas
A pedido do promotor, vítima mostra como tentou sair da boate no meio do incêndio | Juliano Verardi/Imprensa TJRS
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Três pessoas falaram ao júri neste quarto dia do julgamento do caso Kiss, neste sábado (4.dez), no fórum de Porto Alegre. Pais de vítimas e sobreviventes se emocionaram com o depoimento de duas pessoas que escaparam do incêndio na boate de Santa Maria.

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Maike Adriel dos Santos, de 29 anos, foi à casa noturna comemorar o aniversário da melhor amiga, Andrieli Righi da Silva, que morreu no incêndio. Só ele e uma amiga que saiu para fumar na hora do fogo -- de um grupo de nove pessoas -- sobreviveram à tragédia.

A tecnologia que reproduz a boate em 3D, feita pela Universidade Federal de Santa Maria, voltou a ser usada pelos promotores do Ministério Público para que a vítima explicasse como conseguiu sair durante o tumulto. 

Maike contou que, por não gostar de sertanejo, não acompanhava o show da banda Gurizada Fandangueira de frente para o palco, mas em outro ambiente da boate. Ele achou que a fumaça tóxica gerada pelas chamas era efeito do gelo seco e só quando ouviu a palavra fogo procurou a saída. Com fuligem nos olhos, ele parou de enxergar. Perto da porta, desmaiou e foi carregado. O desenhista industrial foi induzido ao coma e ficou mais de 20 dias internado. Parte da plateia chorou quando ele disse que a melhor terapia que recebeu foi o apoio dos pais das amigas que morreram.

Ele reclamou que nunca foi procurado pelos donos da boate: "Em nove anos, a gente não teve nenhuma resposta, um acalanto, um pedido de desculpa".

A outra vítima foi a funcionária pública Cristiane Clavé. Ela perdeu 15 amigos na festa e também teve o pulmão comprometivo pela fumaça gerada pela espuma do teto da boate. Ela mostrou para os jurados os remédios que toma, três deles para problemas pulmonares crônicos. Também exibiu os ansiolíticos que precisa ingerir "porque quando vêm as lembranças, a gente não controla." Mais uma vez, a plateia se emocionou. "Eu deixei meus três filhos em casa, quatro enteados. Estou aqui (em Porto Alegre) desde 3ª feira. Mas é pra falar por quem não pode falar", disse.

A sobrevivente relatou ainda que aquela não foi a primeira vez que viu fogos em eventos da Kiss.

Antes das vítimas, o promotor de eventos Alexandre Marques de Almeida, de 38 anos, falou a pedido da defesa do réu Elissandro Spohr, ex-sócio da boate. Ele era promoter da casa noturna e relatou que, em uma oportunidade, foi proibido pelo réu de usar artefato pirotécnico, como o que causou o incêndio. Questionado pela promotora Lúcia Helena Callegari, ele desdenhou o perigo do uso desses produtos em festas.

"Há um perigo? Há um perigo. Há o perigo de eu levantar de manhã, escorregar, bater a cabeça, cair no chão e morrer. É um risco? É um risco mínimo", afirmou.

Ele confirmou à promotora que, se ainda trabalhasse na noite, continuaria a usar os equipamentos. E sugeriu que o culpado pela tragédia foi o réu e ex-vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, por ter acendido e erguido o artefato perto da espuma.

Os depoimentos seguem no domingo, mas começarão mais tarde, às 10h. Deve haver uma pausa durante o segundo tempo do jogo entre Grêmio e Corinthians, que começa às 16h. É que o tricolor gaúcho pode cair para a segundona do Brasileirão e isso deve interferir no julgamento.

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