Hospital Militar pressiona médicos a receitarem cloroquina a pacientes
Chefe da Divisão Médica enviou mensagem em que diz que pacientes que solicitarem devem receber receita

SBT News
Médicos da Aeronáutica que trabalham no Hospital da Força Aérea, em São Paulo, denunciam que estão sendo pressionados pela chefe da Divisão Médica, tenente-coronel Lorenza Barboza Freitas Zani, a fazerem a prescrição de hidroxicloroquina para pacientes com sintomas de Covid.
A tenente-coronel mandou uma mensagem em grupo de Whatsapp onde estão médicos de vários setores do hospital. Na mensagem, ela afirma que pacientes atendidos com suspeita de covid e que solicitarem a prescrição de hidroxicloroquina ou outras medicações devem receber a receita para a compra dos remédios. Lorenza Baborza diz ainda que quem não se sentir confortável para fazer a prescrição das medicações -- que não tem eficácia contra o novo coronavírus -- pode chamar outro colega.

Os profissionais consideraram a mensagem abusiva, já que não é o paciente que deve dizer ou determinar o uso de medicações. Essa é uma prerrogativa do médico que depois poderá ser responsabilizado por eventuais efeitos adversos que o paciente tenha. Nos bastidores, funcionários do hospital ouvidos pela reportagem relataram desconforto com a recomendação, uma vez que serão eles os procurados pelas pessoas atendidas ou por familiares em caso de reações adversas. Um profissional chegou a ressaltar que, caso haja problemas, a chefia não vai querer se responsabilizar pela decisão.
O aviso da médica foi dado aos profissionais depois que um paciente que se consultou no hospital insistiu para sair de lá com a receita de hidroxicloroquina, mas o responsável pelo atendimento não cedeu e não receitou o remédio. O SBT News procurou a tenente-coronel Lorenza Barboza Freitas, que não respondeu às nossas mensagens. Em nota, a Força Aérea disse que o hospital "não interfere na adoção de condutas por parte dos profissionais de saúde e que os médicos têm total liberdade para adotarem os procedimentos julgados adequados a cada caso".
Confira a íntegra da nota da FAB:
"A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que os hospitais militares têm realizado esforços no combate ao coronavírus desde que foram reportados os primeiros casos no Brasil.
O Hospital de Força Aérea de São Paulo (HFASP) esclarece que não interfere na adoção de condutas por parte dos profissionais de saúde e que os médicos têm total liberdade para adotarem os procedimentos julgados adequados a cada caso, inclusive no que diz respeito à prescrição ou não de medicação.
A escolha da prescrição de medicamento é inerente à atividade do médico e está prevista na conduta de tratamento precoce de COVID-19, em consonância com as orientações do Parecer CFM nº4/2020 que versa sobre "Tratamento de pacientes portadores de COVID-19 com cloroquina e hidroxicloroquina".
Por esse motivo, a orientação da Divisão Médica do HFASP ao seu corpo clínico foi recomendar que, caso algum médico não se sentisse confortável em prescrever as medicações solicitadas pelo paciente, poderia encaminhar o paciente a outro profissional.
Essa conduta é baseada e amparada na autonomia do paciente, como consta o Artigo 31 do Código de Ética Médica, que assegura que 'É vedado ao médico desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte'."