Hospital Militar pressiona médicos a receitarem cloroquina a pacientes
Chefe da Divisão Médica enviou mensagem em que diz que pacientes que solicitarem devem receber receita
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Médicos da Aeronáutica que trabalham no Hospital da Força Aérea, em São Paulo, denunciam que estão sendo pressionados pela chefe da Divisão Médica, tenente-coronel Lorenza Barboza Freitas Zani, a fazerem a prescrição de hidroxicloroquina para pacientes com sintomas de Covid.
A tenente-coronel mandou uma mensagem em grupo de Whatsapp onde estão médicos de vários setores do hospital. Na mensagem, ela afirma que pacientes atendidos com suspeita de covid e que solicitarem a prescrição de hidroxicloroquina ou outras medicações devem receber a receita para a compra dos remédios. Lorenza Baborza diz ainda que quem não se sentir confortável para fazer a prescrição das medicações -- que não tem eficácia contra o novo coronavírus -- pode chamar outro colega.
![](https://static.sbt.com.br/noticias/images/content/20210602215017.jpeg)
Os profissionais consideraram a mensagem abusiva, já que não é o paciente que deve dizer ou determinar o uso de medicações. Essa é uma prerrogativa do médico que depois poderá ser responsabilizado por eventuais efeitos adversos que o paciente tenha. Nos bastidores, funcionários do hospital ouvidos pela reportagem relataram desconforto com a recomendação, uma vez que serão eles os procurados pelas pessoas atendidas ou por familiares em caso de reações adversas. Um profissional chegou a ressaltar que, caso haja problemas, a chefia não vai querer se responsabilizar pela decisão.
O aviso da médica foi dado aos profissionais depois que um paciente que se consultou no hospital insistiu para sair de lá com a receita de hidroxicloroquina, mas o responsável pelo atendimento não cedeu e não receitou o remédio. O SBT News procurou a tenente-coronel Lorenza Barboza Freitas, que não respondeu às nossas mensagens. Em nota, a Força Aérea disse que o hospital "não interfere na adoção de condutas por parte dos profissionais de saúde e que os médicos têm total liberdade para adotarem os procedimentos julgados adequados a cada caso".
Confira a íntegra da nota da FAB:
"A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que os hospitais militares têm realizado esforços no combate ao coronavírus desde que foram reportados os primeiros casos no Brasil.
O Hospital de Força Aérea de São Paulo (HFASP) esclarece que não interfere na adoção de condutas por parte dos profissionais de saúde e que os médicos têm total liberdade para adotarem os procedimentos julgados adequados a cada caso, inclusive no que diz respeito à prescrição ou não de medicação.
A escolha da prescrição de medicamento é inerente à atividade do médico e está prevista na conduta de tratamento precoce de COVID-19, em consonância com as orientações do Parecer CFM nº4/2020 que versa sobre "Tratamento de pacientes portadores de COVID-19 com cloroquina e hidroxicloroquina".
Por esse motivo, a orientação da Divisão Médica do HFASP ao seu corpo clínico foi recomendar que, caso algum médico não se sentisse confortável em prescrever as medicações solicitadas pelo paciente, poderia encaminhar o paciente a outro profissional.
Essa conduta é baseada e amparada na autonomia do paciente, como consta o Artigo 31 do Código de Ética Médica, que assegura que 'É vedado ao médico desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte'."