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Natureza respira? Pandemia tem impacto negativo sobre o meio ambiente

Pouco mais de um ano após início da crise sanitária, situação enfrentada pelo Brasil é de crise

Natureza respira? Pandemia tem impacto negativo sobre o meio ambiente
Queimada
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Nos primeiros meses do isolamento social, ainda em 2020, havia a expectativa de uma redução no impacto da ação humana sobre o meio ambiente, em função da baixa emissão de gases poluentes. A diminuição das atividades industriais e a menor circulação de carros contribuíram nesse aspecto e fizeram com que a emissão de carbono caísse 6,4% em todo o mundo, conforme publicação da revista científica Nature, de janeiro deste ano. 

Mas, mesmo com 2,3 bilhões de toneladas de carbono a menos, a questão ambiental mostrou retrocessos em outras vertentes. No Brasil, em 2020, o desmatamento da Amazônia bateu o recorde dos últimos 10 anos e foi 30% maior que em 2019, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon. O ano também foi marcado pelo grande número de queimadas no Pantanal: quase um terço do bioma foi consumido pelas chamas.

A avaliação de organizações não-governamentais e de especialistas é de que o cenário pandêmico, na verdade, piorou a conservação ambiental. Um dos pontos citados pela gerente de ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano Ferreira, é a diminuição da arrecadação de fundos pelo turismo. 

"Esse cenário de pandemia impactou a conservação ambiental desde as áreas protegidas até comunidades locais e população indígenas. O que a gente vê é que existe um impacto muito grande por muitos dos parques terem ficado fechados por meses. Atividades de fiscalização, de pesquisa e de monitoramento pararam completamente", pontua Ferreira.

A gerente também aponta um retrocesso na questão ambiental durante a pandemia pela diminuição de fiscalizações. "Já no começo da pandemia, há uma menor atuação de fato dessas ações em campo. Às vezes, se tem presença de Exército em campo, mas não necessariamente se reverteu (o desmatamento). E o resultado de tudo isso foi o aumento do desmatamento na Amazônia e do Cerrado e das queimadas no Pantanal. Esses impactos são uma conjunção da pandemia e de uma força governamental de enfraquecimento", avalia.

Desde antes da pandemia

O professor Fabrício Alvim, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), reforça que a pandemia do novo coronavírus desmobilizou ações de fiscalização e monitoramento. Mas pondera que as dificuldades em relação ao meio ambiente antecedem o surgimento da covid. "São ações que vêm acontecendo junto ao Ministério do Meio Ambiente, e pontuadas pela ciência nacional, de fragilização das políticas de meio ambiente. Entendo que essas queimadas são de uma negligência natural e uma nova forma política governamental, que tem característica de fragilizar", diz.

Alvim, que tem especialidade em ecologia, também ressalta a importância da preservação ambiental para controle de pandemias, como a da covid-19. "É um consenso científico. Essas pandemias que vivemos são saltos relacionados a desequilíbrios ambientais. Basicamente, você destrói o ambiente do animal, que é o vetor, e o vírus salta de uma espécie para outra", explica.

O professor também destaca a possibilidade de retorno financeiro se houver investimento na chamada economia verde. "A ciência já provou que alterações climáticas globais são reais, prejudiciais e ameaçam a nossa espécie. E hoje em dia quem lida com isso ainda pode ter uma rentabilidade econômica. O Brasil tem tudo para ser um paraíso econômico se adotar políticas verdes, porque temos todo o potencial para isso: água e energia solar."

Outros impactos da covid

O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Luís Tadeu, destaca que, pelas novas necessidades do isolamento, as ações com comunidades rurais e demais projetos realizados pela organização se tornaram desafiadores. "Os projetos são de execução. A gente chega no campo, nas comunidades, e elas demandam muito ações de aproximação, troca de experiência e acompanhamento técnico. E isso gerou dificuldades", afirma.

"Lembrando que lidamos com comunidades com dificuldade de acesso à internet, e os meios de comunicação são virtuais. Uma população também mais envelhecida, que não tem o hábito de trabalhar nesses meios. E até a própria equipe. Com 40, 50 produções diferentes, também se precisa dessa integração", ressalta Tadeu.

O doutor em desenvolvimento sustentável aponta, no entanto, que o período também mostrou novas formas em se realizar atividades cotidianas. O que leva o próprio instituto a planejar manter parte do trabalho dos colaboradores de forma remota quando chegar ao fim o período de isolamento: "A pandemia está fazendo a gente repensar, e o novo normal vai ser fortalecido no ponto de vista pela busca da sustentabilidade".

Tadeu ainda analisa que serão muitos os desafios a serem enfrentados após esse período, principalmente pela expectativa de retomada das atividades produtivas. Mas lembra a importância de percepção sobre o meio ambiente da própria sociedade. "A pandemia está servido para falar que somos frágeis. Nossa vida é frágil. E a sustentabilidade é importante. Tem muita gente que associa a pandemia a problemas de sustentabilidade, florestas, e mudanças climáticas. Lembro de que no início voltaram a aparecer animais, como golfinhos, e penso que, na verdade, era algo que a gente não tinha forma de olhar". Que a partir de agora o tenhamos.

O Ministério do Meio Ambiente foi contactado para falar sobre as ações da pasta durante o período de pandemia, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

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