Funkeiro regrava "Bum bum tam tam" no Instituto Butantan; conheça bastidores
MC Fioti quer conscientizar jovem da periferia a se vacinar contra a Covid-19
MC Fioti em frente ao Instituto Butantan. Foto: Reprodução
Débora Bergamasco
• Atualizado em
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Os bastidores por trás da gravação do novo hit "Vacina Butantan", versão de "Bum Bum Tam Tam", incluem assalto, cobras, redes sociais, agilidade e nenhuma burocracia. O funkeiro MC Fioti, autor do hit mundial de 2017 "Bum Bum Tam Tam", visto mais de um bilhão de vezes no YouTube, percebeu que sua música voltou às redes sociais em 2021. Desta vez, no formato de "meme", em que internautas usaram a semelhança fonética entre Instituto Butantan e o refrão de sua música para fazer graça e incensar a vacina Coronavac, desenvolvida pelo centro de pesquisas em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Ao perceber o movimento espontâneo nas redes sociais, em reunião com KondZilla, seu produtor musical e gênio em emplacar clipes de sucesso entre os jovens, decidiram dar uma nova letra para a canção. Substituíram versos como "As novinha saliente / Fica loucona/ E se joga pra gente/ Eu falei assim pra ela/ Vai com o bum bum tam tam" por "A vacina é saliente/ Vai curar nóis do vírus/ E salvar muita gente/ Aí eu falei assim pra ela/ Vai, vai no Bubutantã".
O lançamento da nova versão foi um estouro, mas faltava um vídeo clipe. No começo do mês, o Butantan recebeu um telefonema da equipe de MC Fioti, pedindo para gravar cenas nas dependências do instituto. Encorajado pela nova chefe da comunicação do Butantan, Vivian Retz, o diretor Dimas Covas, que não conhecia nem Fioti nem Bum Bum Tam Tam, topou na hora. "A gente percebeu, por meio da música, a simpatia de muitos brasileiros e brasileiras em um momento tão delicado de negacionismo e rejeição à vacina. A letra da música passa o recado que estamos passando há meses: a vacina é segura e você pode confiar em nossos cientistas", disse Vivian, que abriu as portas do Butantan para a gravação.
Em 12 de janeiro, uma terça-feira, um diretor de videoclipes da produtora KondZilla e dois assistentes foram pessoalmente fazer um primeiro contato com o Butantan, explicaram a ideia e as tratativas evoluíram. Marcaram de voltar no dia seguinte para conhecer todas as instalações e possíveis locações para as filmagens. Mas, a caminho, a equipe sofreu um assalto. O diretor teve a mão cortada durante a ação dos bandidos. Abalados, abortaram a operação. No dia seguinte, um novo diretor chegou ao centro de pesquisas. Conheceram tudo, fizeram marcações. Ficaram encantados com o serpentário, onde vivem as cobras e, mesmo a vacina não tendo nada de soro antiofídico, concluíram que uma tomada do funkeiro entre naja e jararacas seria indispensável. Se apressaram para a gravação que aconteceria, impreterivelmente, no dia seguinte, 15 de janeiro, sexta-feira.
Estava tudo certo, mas a equipe de comunicação do instituto estava apreensiva se conseguiria arregimentar ao menos 50 funcionários para participar do clipe, visto que a figuração não era obrigatória. A notícia contaminou os servidores de entusiasmo e apareceram mais de 200 pessoas, entre cientistas, engenheiros, técnicos de informática, de vendas, administrativo e encarregados da limpeza. Dançaram e cantaram, seguindo Mc Fioti. No clipe, o cantor encanta os funcionários a, um a um, sair de suas mesas e seguirem-no, como no conto folclórico O Flautista de Hamelin.
Ao chegar à sede do Butantan, MC Fioti quis conhecer Dimas Covas e chineses do laboratório Sinovac, que estão trabalhando no Brasil. Com voz baixinha, fez perguntas sobre a vacina. Sempre que era elogiado ou que lhe faziam um agradecimento, o jovem de 26 anos fixava os olhos no chão para se disfarçar a timidez. Vergonha dissipada quando uma caixa de som bluetooth entoava o novo hit para que ele dublasse durante as filmagens.
Com 120 anos de história dedicados à ciência, esta foi a primeira vez que o Instituto Butatan recebeu um funkeiro em suas dependências.
"Isso aqui vai ficar na minha história e na história do funk. O pessoal vai falar: ?mentira, eles não fizeram isso?. Eu vou responder com orgulho: Fizemos. É o Funk brasileiro se unindo à ciência para ajudar o nosso povo e acabar de uma vez com essa pandemia. Vamos nos vacinar", declarou o MC. O clipe foi lançado ao meio-dia do último sábado (23). Já tem mais de 4 milhões de visualizações.