De emagrecimento a "reset de dopamina": o que se sabe sobre o banho de gelo?
Prática que virou moda nos últimos anos promete de recuperação muscular acelerada até melhora do humor; entenda

Wagner Lauria Jr.
Os banhos de gelo viraram moda. Seja entre atletas, influenciadores ou adeptos do bem-estar, vídeos mergulhando em água quase congelante tomaram as redes sociais, sempre acompanhados de promessas: mais clareza mental, menos estresse, recuperação muscular acelerada e até melhora do humor.
+ Crioterapia: banho de gelo ativa circulação e reduz estresse
Um novo estudo, porém, sugere que a prática pode ter um efeito contrário quando o objetivo é perder peso.
Pesquisadores da Universidade de Coventry, no Reino Unido, descobriram que a exposição ao frio pode levar o corpo a queimar mais energia, como muitos defensores da técnica afirmam. O problema? Isso também pode gerar um aumento significativo no apetite, capaz de compensar ou até superar esse gasto extra.
Banhos gelados para emagrecer?
No estudo, os participantes foram submetidos a banhos de imersão em três temperaturas diferentes: fria (16 °C), ambiente (25 °C) e quente (35 °C). Em seguida, todos receberam um prato de macarrão e foram instruídos a comer até se sentirem confortavelmente saciados.
Quem passou pela água fria consumiu, em média, 240 calorias a mais que os demais.
Segundo os cientistas, isso ocorre devido ao chamado efeito “pós-queda”, no qual a temperatura do corpo continua caindo mesmo após sair da água gelada.
Esse resfriamento prolongado ativa regiões cerebrais ligadas à regulação de energia, o que pode levar o organismo a compensar o frio com mais comida.
“Embora a água fria faça o corpo trabalhar mais, também pode levar ao consumo excessivo depois — o que anula qualquer vantagem para perda de peso”, explicou o professor David Broom, líder da pesquisa.
Os voluntários não relataram sentir mais fome, apenas comeram mais. Isso indica que o impulso é mais fisiológico do que consciente.
"Reset de dopamina"
O sucesso dos banhos gelados vai além do físico. Nos últimos anos, a técnica foi associada a um suposto "reset de dopamina", expressão popularizada nas redes sociais.
A ideia é que o estresse causado pelo frio extremo levaria o cérebro a liberar uma onda de dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer e à motivação. Isso explicaria a sensação de euforia e foco que muitas pessoas relatam após sair da água gelada.
Em teoria, esse pico químico restauraria a sensibilidade cerebral à dopamina, ajudando no combate à ansiedade, à procrastinação e ao vício em estímulos rápidos, como comida e redes sociais.
No entanto, o "reset" não tem comprovação científica.
Crioterapia
Apesar de ainda não haver evidências científicas robustas, os adeptos da chamada crioterapia têm relatado resultados positivos para ativar a circulação e reduzir o estresse.
A prática consiste no mergulho em uma banheira de gelo e é comum entre os atletas que querem acelerar o processo de recuperação física ou diminuir os processos inflamatórios.
Raul Santana, fisioterapeuta esportivo, ressalta a eficácia da técnica nesse sentido.
"Ele faz uma vasoconstrição, que gera um processo anti-inflamatório circulante no corpo, que é a liberação de ácido lático. O gelo, a crioterapia com baixa temperatura, esse banho de imersão, reduz o tamanho do vaso capilar sanguíneo e faz conter todo esse processo inflamatório", pontua.
No entanto, vale ressaltar que a crioterapia pode funcionar apenas como um tratamento complementar.