Desfile da Vai-Vai coloca PM como demônio e gera embate entre esquerda e direita
Escola de Samba de São Paulo homenageou o Hip Hop e o grupo Racionais MCs
Maria Ferreira dos Santos
Raphael Felice
O desfile da escola de samba Vai-Vai, no último sábado (10), no Sambódromo do Anhembi, tornou-se centro de um debate político entre esquerda e direita. Na véspera da quarta-feira de cinzas, a apresentação continua repercutindo e tendo desdobramentos.
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Em uma das alas, a escola representou o Batalhão de Choque da Polícia Militar como demônios. As fantasias de cor vermelha-fogo com amarelo com chifres remetendo ao diabo eram ornadas com acessórios de segurança e combate policiais típicos dos grupamentos, como cassetetes, escudos e capacetes. Para não deixar dúvidas, o termo “Choque” vinha escrito nos capacetes.
A Vai-Vai desfilou com o samba-enredo “Capítulo 4. Versículo 3 -- Da rua e do povo, o Hip Hop: um manifesto paulistano".
A apresentação foi uma homenagem ao álbum “Sobrevivendo ao Inferno”, 1997, do grupo de rap paulistano Racionais MCs. Integrantes do conjunto musical estiveram presentes na Avenida, como Mano Brown e KL Jay.
Além de comentários elogiosos, políticos de esquerda participaram do desfile, como o deputado federal e candidato a prefeito, Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
A deputada federal Erika Hilton não falou sobre o desfile diretamente, mas criticou o prefeito Ricardo Nunes pela falta de apoio ao Carnaval das escolas de samba e denunciou que o dinheiro público tenha sido usado para festas open-bar com a presença de crianças. A postagem foi compartilhada por Boulos.
Na direita, o caso também repercutiu na esfera federal e municipal. O vereador Rubinho Nunes, pivô da tentativa de CPI contra o Padre Júlio Lancellotti afirmou que a Vai-Vai ofendeu “todos os policiais” com a alegoria.
Os deputados federais Kim Kataguiri (União-SP) e Delegado Palumbo também criticaram a posição da escola de samba.
“Não é arte! Estou esperando sentado a escola colocar o PCC como demônio. Falta coragem?”, disse Palumbo.
Quem também teceu críticas à fantasia foi o deputado Coronel Telhada (PP-SP). Segundo o parlamentar, as críticas à PM representam uma “inversão de valores”.
"A polícia militar que desempenha papel importante dentro da sociedade levando segurança, e que por vezes, que deixa sua família para servir e proteger a do próximo, não pode ser retratada dessa maneira. Um total desrespeito com a nossa polícia militar", afirmou Telhada.