Venezuelanos votam em parlamentares e governadores enquanto oposição pede boicote eleitoral
24 governadores, 260 deputados estaduais e 285 federais serão eleitos em pleito que agrava as tensões das polêmicas eleições de 2024

com informações da AP
Os eleitores na Venezuela estão escolhendo deputados, governadores e outras autoridades em eleições realizadas neste domingo (25), em um cenário de repressão governamental intensificada e pedidos da oposição para boicotar a eleição.
A eleição é a primeira a permitir ampla participação eleitoral desde a disputa presidencial do ano passado, que o presidente Nicolás Maduro alegou ter vencido apesar de evidências críveis em contrário.
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O pleito ocorre dois dias após o governo prender dezenas de pessoas, incluindo um líder oposicionista, acusando-as de um suposto complô para sabotar a votação.
Cerca de uma hora após a abertura das urnas, cerca de uma dúzia de eleitores estavam do lado de fora do maior centro de votação do país, localizado na capital — um forte contraste com as centenas que já estavam na fila na mesma época para a eleição presidencial de 28 de julho. Um aumento da presença policial era perceptível em Caracas, onde viaturas com luzes acesas pontilhavam bairros tranquilos.
A oposição argumenta que a participação no pleito legitima Maduro e sua máquina repressiva, que desde as eleições de julho já prendeu mais de 2 mil pessoas – entre manifestantes, mesários, ativistas e até menores – para silenciar críticos.
Enquanto isso, o partido no poder já proclama uma vitória esmagadora em todo o país, assim como fez em eleições regionais anteriores, independentemente da participação da oposição.
Uma pesquisa nacional realizada entre 29 de abril e 4 de maio pela empresa de pesquisa Delphos, sediada na Venezuela, mostrou que apenas 15,9% dos eleitores expressaram alta probabilidade de votar no domingo. Destes, 74,2% disseram que votariam nos candidatos do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e seus aliados, enquanto 13,8% disseram que votariam em candidatos associados a dois líderes da oposição que não estão boicotando as eleições.
“Acho isso absolutamente desprezível”, disse o oposicionista Humberto Villalobos no sábado (24), referindo-se à participação eleitoral de alguns membros da oposição. “Estamos enfrentando a repressão mais brutal dos últimos anos no país. (A votação) é uma comédia, uma paródia.”
Villalobos era chefe da divisão eleitoral da líder da oposição Maria Corina Machado quando ele e outros cinco opositores do governo buscaram refúgio em março de 2024 em um complexo diplomático na capital da Venezuela para evitar a prisão.
Ele passou mais de um ano lá e, no sábado, juntamente com outros quatro, falou publicamente pela primeira vez desde que deixaram o complexo e chegaram aos Estados Unidos no início deste mês.
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que se encontrou com o grupo na sexta-feira (23), descreveu a saída do complexo como uma operação de resgate internacional. Essa afirmação foi contestada pelo Ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, que afirmou que a decisão foi resultado de uma negociação com o governo.
O Conselho Eleitoral Nacional, leal ao partido governista, está supervisionando a eleição de domingo para legisladores estaduais, 285 membros da Assembleia Nacional unicameral e todos os 24 governadores, incluindo o governo recém-criado, supostamente estabelecido para administrar Essequibo, uma região há muito disputada entre a Venezuela e a vizinha Guiana.
Na Venezuela de Maduro, os resultados de domingo terão pouco impacto na vida da população, pois seu governo altamente centralizado controla praticamente tudo em Caracas. O governo também reprime a oposição, por exemplo, desqualificando um candidato após a eleição ou nomeando um membro leal ao partido governista para supervisionar os cargos eleitos ocupados por oponentes, tornando-os impotentes.
Além disso, depois que a oposição conquistou o controle da Assembleia Nacional em 2015, Maduro criou uma eleição para membros de uma Assembleia Constituinte em 2017. Esse órgão, controlado pelo partido no poder, decretou-se superior a todos os outros poderes do governo até deixar de existir em 2020.