Brasileiros ilegais nos EUA enfrentam incerteza com políticas migratórias
Minas Gerais sente impacto das deportações e mudanças no envio de remessas para o Brasil

Alessandra Garcia
Cerca de 230 mil brasileiros vivem ilegalmente nos Estados Unidos, e muitos deles são oriundos do leste de Minas Gerais. A região, que há anos depende das remessas de dólares enviadas pelos imigrantes, já começa a sentir os efeitos das medidas do governo de Donald Trump.
As transferências financeiras dos brasileiros que buscaram o "sonho americano" movimentaram bilhões ao longo dos anos, impulsionando a economia de pelo menos 50 cidades mineiras. Muitos saíram do Brasil ilegalmente em busca de melhores condições de vida e patrimônio.
A empresária Simone Amâncio destaca que as novas políticas migratórias estão afetando os negócios locais:
"Nós tínhamos um mercado em ascensão e vínhamos em ritmo de crescimento nos últimos anos. Com essa nova medida, as pessoas estão tímidas."
Nos Estados Unidos, Ronaldo Felício, que mora regularmente no país há 22 anos, acompanha de perto a realidade dos imigrantes brasileiros. Ele trabalha em um escritório de advocacia em Massachusetts e relata que muitos têm evitado sair de casa:
"Muitos agricultores já começaram a se queixar dos imigrantes não irem trabalhar, porque estão com medo de serem deportados. E com isso tudo, eu creio que se continuar assim, no máximo, em uma semana vai começar a faltar muita coisa."
No Brasil, a incerteza também aflige quem tem familiares nos EUA. Jonas Jorge Cordeiro, deportado no fim do ano passado, teme pelo destino de seus filhos, que ficaram no país com a mãe, em situação irregular. A família atravessou a fronteira do México ilegalmente em 2021.
"Tenho muito medo do que possa acontecer com meus amigos e com os meus familiares. Então, a melhor escolha que eu fiz, conversei com a mãe deles, e eles retornarem para o Brasil."
Em Itambacuri, a 100 km de Governador Valadares, muitos sonhos ficaram pelo caminho. Alisdete Gonçalves dos Santos, deportado com a esposa e os filhos pequenos, relembra o drama do voo de retorno ao Brasil:
"O avião veio desde os Estados Unidos com problemas mecânicos. Eu escutei do lado direito da turbina um barulho estranho. Ficamos parados por quatro horas dentro do avião, sem ar-condicionado. Nesse momento começou um tumulto."
A socióloga Sueli Siqueira ressalta que a situação dos imigrantes deportados tem sido marcada por violações aos direitos humanos e que o Brasil precisa repensar sua postura diante desse cenário:
"Eu chamo atenção pelo fato de que deportação sempre existiu, só que agora, com essa forma como está sendo trabalhada, começa o governo brasileiro a pensar, coisa que nunca tinha pensado antes, na recepção desse imigrante. Porque essas pessoas estão vindo em condições extremamente traumáticas."
Com o endurecimento das políticas migratórias, o impacto econômico e social para Minas Gerais pode se agravar, afetando tanto aqueles que voltam ao Brasil quanto os que dependem do dinheiro enviado do exterior.









