O dia em que o jornalismo é a notícia nos EUA
O jantar dos correspondentes da Casa Branca celebra a liberdade de imprensa
Washington DC - Foi o segundo ano do evento após a pandemia. A orientação era para que os convidados caminhassem da rua principal até a entrada do hotel cinco estrelas. Poucos metros, mas o suficiente para fazer do entorno do edifício um desfile de roupas de gala. Já na entrada, havia fila para as fotos no tapete vermelho. Ali, ao lado da correspondente do SBT, estava o ator Liev Schreiber. Outras presenças da noite, além do time de jornalistas, foram o recém-ganhador do Oscar Ke Huy, a apresentadora do Saturday Night Live Ego, além de modelos e personalidades da política americana. No local do jantar, cada mesa era composta por dez lugares. No cardápio, uma opção vegetariana e um intervalo considerável de tempo antes do começo dos discursos, o que permitiu os convidados interagirem.
Logo no começo, uma homenagem. Evan Gershkovich, jornalista americano preso na Rússia este ano acusado de espionagem, teve a foto reproduzida nos telões e foi aplaudido de pé. No discurso aos jornalistas, Biden afirmou que tem como prioridade trazer para casa os repórteres presos ilegalmente no exterior. "A imprensa livre é um pilar - talvez o pilar - de uma sociedade livre e não é o inimigo", disse o presidente dos Estados Unidos, em uma referência indireta ao seu antecessor, Trump, que frequentemente fazia ataques aos jornalistas. Durante os quatro anos em que esteve no poder, o Republicano não compareceu aos jantares anuais com a mídia credenciada pela Casa Branca.
Os convidados também aplaudiram Brittney Griner que estava sentada junto da esposa bem em frente ao palco. A jogadora de basquete foi presa na Rússia pouco tempo depois do começo da invasão da Ucrânia e só ganhou a liberdade depois que os Estados Unidos negociaram com Moscou a troca da atleta por um traficante de armas russo. "Nesta mesma época, no ano passado, estávamos rezando por você e lutando por sua liberdade. É ótimo tê-la de volta em casa" disse Biden.
O tom do humor, marcado pelos discursos dos presidentes americanos neste evento, se fez presente. Biden teve sucesso nesse quesito e tirou risos da plateia quando brincou com sua própria idade. O democrata de 80 anos acaba de anunciar que vai tentar a reeleição e os anos vividos são usados com frequência como crítica. " Eu acredito na Primeira Emenda (da Constituição) e não só porque meu grande amigo James Madison a redigiu". Na piada, Biden citou o quarto presidente americano falecido em 1817. Outra parte cômica foi quando se referiu ao seu comportamento de nao dar entrevistas coletivas com frequência. Desde a posse, elas nao chegaram a uma dúzia. "De muitas maneiras este jantar resume meus dois primeiros anos no cargo. Eu falo por dez minutos, nao respondo a qualquer pergunta e saio alegremente", brincou Biden sobre sua fama de evitar coletivas.
O presidente brincou e também ouviu piadas a seu respeito do comediante do Daily Show Roy Wood. "Há algum escândalo maior e que causou dano do que a pergunta: o Joe Biden está acordado?" Roy Wood cutucou e depois afagou dizendo: "Quando ele acorda da soneca pensa: o trabalho precisa ser feito, projeto de infraestrutura, perdão da divida dos estudantes", citando os projetos recentes do democrata.
O astro do Daily Show citou Trump fazendo piada sobre os vários processos dos quais o ex-presidente é acusado. "O indiciamento (em Nova York) de Trump nem teve a repercussão desejada", dizendo que é preciso seguir os "factuais" que envolvem Trump como em um seriado de realismo fantástico. Redes de TV americanas também nao foram poupadas pelo comediante que citou a demissão recente do apresentador da Fox, Tucker Carlson. "Senhor presidente, precisamos trazer de volta o senhor Tucker ao ar porque agora há milhares de americanos que sequer sabem porque te odeiam". Tucker Carlson deixou a emissora logo depois que a empresa foi condenada a pagar uma indenização milionária à empresa que computa os votos nos Estados Unidos em um processo judicial em Nova York sobre disseminação de notícias falsas sobre a eleição de 2020 que deu vitória a Biden.
O jantar dos correspondentes da Casa Branca também é o momento em que jornalistas recebem prêmios pelos trabalhos apresentados e votados. Estudantes de comunicação eleitos por um comité também são prestigiados pelo recebimento de bolsas. O SBT é o segundo meio de comunicação do Brasil a ser credenciado na história da Casa Branca.