População global deve atingir pico de 8,5 bilhões de pessoas até 2050
Contrariando estimativas da ONU, relatório prevê uma queda populacional acentuada, na virada do século
Karyn Souza
Um relatório divulgado nesta 2ª feira (27.mar) pelo coletivo de pesquisadores 'Earth4All' - uma das principais instituições de ciências econômicas e ambientais da atualidade - indica que a população global deve atingir o pico de 8,5 bilhões de pessoas, até 2050, e depois, iniciar um movimento de queda.
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A projeção contraria estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), que apontava para uma "explosão" populacional, na virada do século 21. De acordo com os autores do estudo, a redução populacional pode ser ainda mais acentuada se houver um "salto gigante" no investimento em políticas para o desenvolvimento econômico e redução da pobreza, e para promoção de saúde e educação.
"Mesmo que os números não sejam tão assustadores quanto algumas previsões mais antigas, isso não significa que não tenhamos problemas", alerta o coautor do estudo Beniamino Callegari.
No documento 'People and Planet: 21st Century Sustainable Population Scenarios and Possible Living Standards Within Planetary Boundaries' - "Pessoas e Planeta: Cenários Populacionais Sustentáveis do Século 21 e Possíveis Padrões de Vida Dentro das Fronteiras Planetárias", em tradução livre -, os pesquisadores avaliam dois possíveis cenários.
No primeiro, o 'Too Little Too Late' - "Muito Pouco Muito Tarde", em tradução livre - o grupo considera um cenário no qual o mundo continuaria a se desenvolver, economicamente, de forma semelhante aos últimos 50 anos, resultando na redução da pobreza extrema em boa parte dos países mais vulneráveis. Neste caso, a estimativa do relatório é de que a população global atinja um pico de 8,6 bilhões de pessoas, em 2050, antes de cair para 7 bilhões, em 2100.
Já no segundo cenário, batizado de 'Giant Leap' - "Salto Gigante", em tradução livre -, os pesquisadores consideram um cenário no qual governos e autoridades realizam "investimentos sem precedentes" na redução da pobreza, particularmente em setores como saúde e educação. O coletivo também cita a concretização de "extraordinárias reviravoltas políticas em matéria de segurança alimentar e energética, desigualdade e igualdade de gênero", como aspectos que influenciariam no declínio populacional.
Mediante estes fatores, a expectativa é de que, em uma geração, isto é, até 2060, a pobreza extrema seja completamente eliminada do mundo, o que resultaria em um pico de 8,5 bilhões de pessoas, por volta de 2040, e uma queda para cerca de 6 bilhões, até o final do século.
"Sabemos que o rápido desenvolvimento econômico, em países de abaixa renda, tem um enorme impacto nas taxas de fertilidade. As taxas de fertilidade caem à medida que as meninas têm acesso à educação, e as mulheres são economicamente empoderadas e têm acesso a melhores cuidados de saúde", explica um dos autores do estudo e líder do 'Earth4All', Per Espen Stoknes.
A análise levou em consideração dados socio-econômicos de 10 regiões do mundo, como a África Subsaariana, a China e os Estados Unidos, além da conexão entre a população e a superação dos "limites planetários", como as mudanças climáticas e a redução de recursos naturais.
"O principal problema da humanidade é o consumo de carbono e a biosfera de luxo, não a população. Os lugares onde a população está aumentando mais rapidamente têm pegadas ambientais extremamente pequenas, por pessoa, em comparação com os lugares que atingiram o pico populacional há muitas décadas", observa um dos pesquisadores da 'Earth4All', Jorgen Randers, ponderando que a "desestabilização do planeta" é provocada pelo consumo dos 10% mais ricos do mundo.
Ainda segundo Randers, toda a população global poderia alcançar condições de vida superiores ao nível mínimo estabelecido pela ONU, e até mesmo escapar da pobreza extrema, sem a necessidade de mudanças significativas nas tendências atuais de desenvolvimento econômico. No entanto, para atingir esse objetivo, seria necessária uma distribuição igualitária de recursos. "Uma boa vida para todos só é possível se o uso extremo de recursos da elite rica for reduzido", ele acrescenta.
"Isso nos dá evidências para acreditar que a bomba populacional não vai explodir, mas ainda enfrentamos desafios significativos do ponto de vista ambiental. Precisamos de grande esforço para enfrentar o atual paradigma de desenvolvimento de superconsumo e superprodução, que são problemas maiores do que a população", concluem os pesquisadores da 'Earth4All', no relatório.
O relatório 'People and Planet: 21st Century Sustainable Population Scenarios and Possible Living Standards Within Planetary Boundaries' na íntegra está disponível no site na 'Earth4All'.
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