Inflação acima dos dois dígitos ameaça 70% dos pubs no Reino Unido
Guerra na Ucrânia e saída do país da União Europeia aumentam preocupação do setor econômico
A disparada do preço dos alimentos levou a inflação anual do Reino a 10,1% em julho, cifra recorde dos últimos 40 anos. O cenário, impactado sobretudo pela guerra na Ucrânia, também afetou o valor cobrado pela energia elétrica, o que vem preocupando muitos proprietários independentes de pubs. Nesta semana, o grupo de empreendedores enviou um pedido ao ministro do Tesouro, Nadhim Zahawi, para conter a alta da conta luz ou, caso contrário, mais de 70% dos estabelecimentos podem não "sobreviver" ao inverno.
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No documento, os representantes das cervejarias pediram uma intervenção do governo no cenário econômico, uma vez que o impacto do aumento da tarifa de energia está sendo agravado devido à constante queda no consumo. Eles explicam que, além disso, a escassez de equipamentos como barris e latas, bem como a alta do preço dos grãos, está elevando ainda mais os custos dos estabelecimentos independentes, que, muitas vezes, produzem as próprias bebidas.
"As pequenas cervejarias estão relatando que suas contas de energia estão dobrando ou triplicando, colocando em risco sua capacidade futura de produzir cerveja", escreveu a Society of Independent Brewers, que representa cerca de 700 cervejarias artesanais em todo o Reino Unido. Segundo o grupo, 160 pubs de pequeno porte foram fechados durante a pandemia de covid-19, devido ao período de confinamento, enquanto ao menos outros 40 estabelecimentos foram obrigados a fechar as portas esse ano.
A dificuldade no cenário econômico britânico, que já se recuperava da pandemia, foi influenciada pela guerra da Ucrânia, que, no último dia 24, completou seis meses. Com o conflito militar, as exportações de grãos e fertilizantes foram duramente impactadas, agravando o preço dos alimentos no mercado mundial. Isso porque o governo ucraniano está entre os maiores produtores de cereais, como sementes de girassol (42%), milho (16%), cevada (10%) e trigo (9%).
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Outro fator para a alta dos preços foi a diminuição gradual de importação de gás e petróleo russo, em resposta à invasão. O Escritório de Estatística Nacional informou que em junho, por exemplo, o Reino Unido não importou combustíveis de Moscou pela primeira vez. Com isso, as importações do mercado russo, que hoje sofre com sanções internacionais, caíram quase 100% para o governo britânico, quando comparado com a média dos 12 meses anteriores a fevereiro deste ano.
"Apesar da queda, o Reino Unido não vai sofrer, ou tende a sofrer, problemas de abastecimento de energia, diferentemente de Alemanha, Itália e França. Isso porque o Reino Unido não importa quantidades significativas de gás da Rússia, já que o país tem boa parte da sua produção de gás. Apenas cerca de 5% do gás utilizado é importado. O restante é produzido no Mar do Norte", explica Denise Lícia Boni de Oliveira Gasparini, professora de Relações Internacionais e coordenadora do curso de RI da Faditu.
Ela afirma, no entanto, que ainda não há uma previsão para a queda da inflação, uma vez que outro fator também agrava a situação da economia no país: o Brexit. Com a saída da União Europeia, o Reino Unido acabou ficando mais isolado em relação ao comércio livre entre as nações europeias, prática antes facilitada pelo bloco.
"Esse isolamento que o Reino Unido se propôs a fazer em relação à União Europeia só aumenta a preocupação do mercado com o aumento da inflação, que, até o final de 2023 e começo de 2024, não tem uma previsão de queda", avalia Denise. Para outubro, por exemplo, o governo britânico estima alta de 87.06% no preço das contas de energia e gás. Somadas, as tarifas devem aumentar de 1.970 libras, em abril, para 3.576 libras, o que pode elevar a taxa de cidadãos inadimplentes.
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Como consequência, a alta no custo de vida está sendo refletida nas pesquisas de opinião, que estão mostrando a perda da popularidade do Partido Conservador, bem às vésperas das eleições legislativas. Com isso, a crise econômica será herdada pelo novo primeiro-ministro do Reino Unido, cargo que está entre o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak e a ministra das Relações Exteriores Liz Truss, considerada favorita.