O Telefone Preto vem com tensão, terror psicológico e toque sobrenatural
O SBT News conversou com exclusividade com o elenco e diretor do filme

Cleide Klock
"O Telefone Preto" é a junção de um conto com os medos e lembranças da infância e adolescência do cineasta Scott Derrickson ("Doutor Estranho"). Abusos, crianças desaparecidas, bullying, alcoolismo, violência em casa, abandono, ansiedades, um criminoso aterrorizando uma pacata cidade: esses ingredientes se misturam e são entregues ao veterano Ethan Hawke e aos atores adolescentes Madeleine McGraw e Mason Thames. O resultado é uma daquelas produções que nos aceleram o coração e nos dão um aperto de uma hora e meia no peito. O filme estreia oficialmente nos cinemas brasileiros nesta quinta (21.jul).
"Muito foi tirado da minha própria experiência pessoal. Eu li o conto do escritor Joe Hill (filho de Stephen King), achei ótimo e não sabia como expandi-lo para um longa-metragem. Então, resolvi pegar muitas das minhas próprias memórias de crescer em Denver, no Colorado, em 1978. Reuni muitos dos medos que sentia de sofrer bullying, a violência em minha casa, nas ruas, na escola. Eu gostei da ideia de pegar aquele tempo e lugar, as memórias que eu tinha, as crianças que eu conhecia e combinar com a história de Joe", nos contou o cineasta Scott Derrickson em entrevista exclusiva.
O diretor também transporta o espectador para reviver suas lembranças. As filmagens foram feitas no subúrbio do estado do Colorado e com as cores e referências da década de 1970.
"Eu tenho uma memória muito forte, lembro de quase tudo da minha infância. Eu realmente procurei por elementos que fossem referência de onde eu cresci nessa área, as cercas de arame, com os topos afiados em cima do muro, as casas de tijolos vermelhos de um pavimento só, coloquei muitos elementos parecidos com os que tinham no bairro que cresci", disse o cineasta.
Vilão mascarado
Diante da história regada com tensão psicológica, muito mais do que apenas puro terror, Ethan Hawke se rendeu ao papel de vilão.
"Foi algo bem diferente para mim. Eu realmente nunca interpretei um vilão assim, mas parecia que era hora de fazer algo diferente. Ter que fazer todo esse trabalho maluco de máscara, tudo parecia muito bizarro. Eu amei o roteiro, achei muito divertido e linda a história de um irmão e uma irmã cuidando um do outro. E meu papel é ser o horror no meio disso", contou o ator.
Na sua primeira cena, seu personagem se apresenta como um mágico, eis a isca para atrair as crianças para dentro do furgão. Sequência que, inclusive, lembra o clássico do terror "It - A Coisa" escrito pelo rei do horror Stephen King, pai do autor do conto "O Telefone Preto". Impossível não se ligar também nos elementos tão comuns nos clássicos de King -- crianças corajosas, pais irresponsáveis, vilões assustadores e seus acessórios.
Hawke aparece em quase todo momento com o rosto coberto. As máscaras são substituídas no decorrer da trama, e toda a interpretação vem com os olhos, movimentos corporais e com o tom de voz.
"Foi difícil, confuso, eu me senti realmente fora da órbita de qualquer coisa que eu saiba fazer. Sempre tendo que mudar de máscara, o que também dificulta a voz, como me mover e atuar com crianças, a coisa toda foi muito surreal, realmente tinha que confiar no roteiro e tentar me divertir. Você sabe se você vai interpretar o monstro, você tem que ir para isso", diz Hawke.
Atuar o tempo todo mascarado fez o ator prestar atenção no nosso dia a dia durante a pandemia, quando precisamos cobrir também parte do rosto.
"Eu pensei muito sobre isso, porque você vai a um café ou algo assim e todo mundo usando máscara e você não pode dizer se eles estão sorrindo ou se eles estão carrancudos. Eu achei profundamente perturbador não saber quem são as pessoas. E isso é parte do poder das máscaras, o que estão escondendo ou não", fala Hawke.
Os irmãos que dão um show
O terror psicológico do seu personagem é descarregado em cima de Finney (Mason Thames), que fica trancafiado em um porão à prova de som com apenas um colchão e um telefone desconectado. Mas, mesmo assim ele toca e é por essa linha que é feita toda a conexão entre os que já passaram pelas mãos do sequestrador -- e não sobreviveram -- e o menino. As pistas o deixam mais perto da fuga, mas também do perigo de ser pego. Este foi o primeiro filme do ator.
"Foi sempre meu sonho ser sequestrado por Ethan Hawke (risos). E ter sido meu primeiro filme, foi realmente um sonho. Foi muito legal trabalhar com Scott e Ethan, eles são tão incríveis no que fazem e poder ver tudo pessoalmente, nunca imaginei que isso poderia acontecer", nos disse Mason Thames
Do lado de fora desse desespero do sequestro, está a irmã Gwen (Madeleine McGraw), que é quem dá um toque de bom-humor à trama, ela usa os dons que herdou da mãe já falecida para encontrá-lo. Através dos sonhos, recebe mensagens.
A atriz, com apenas 13 anos, já acumula mais de duas dezenas de produções e é o grande destaque dessa trama.

"Foi fácil entrar na minha personagem porque me apaixonei por Gwen assim que li o roteiro, amei como ela é forte e sem medo. Também adorei os laços que tem com o irmão porque me lembrou muito o meu vínculo com os meus próprio irmãos", revela Madeleine.
E, com essa ligação forte de irmãos, esses jovens atores transformam o filme, que poderia ser apenas de horror ou suspense, numa trama sobre amor e amizade. São eles que trazem coração para esse enredo.
O longa, que teve um orçamento de aproximadamente US$ 16 milhões, já rendeu em bilheteria até então quase 116 milhões de dólares.