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Chile define hoje novo presidente em eleição histórica e polarizada

Candidatos de esquerda e extrema-direita disputam o comando do Palácio de La Moneda após segundo turno acirrado

Chile define hoje novo presidente em eleição histórica e polarizada
Bandeira do Chile
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O Palácio de La Moneda, sede do governo no Chile, terá um novo morador nos próximos meses. Neste domingo (19.dez), os chilenos voltam às urnas para decidir o sucessor de Sebastián Piñera, eleito em 2017. A eleição de 2021, marcada pela polarização entre os dois candidatos que seguiram para o segundo turno, é considerada histórica no país. A expectativa é que o resultado seja divulgado até a madrugada de 2ª feira (20.dez).

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José Antonio Kast, do Partido Republicano, e Gabriel Boric, do Aprovo Dignidade (conglomerado entre Frente Ampla e Partido Comunista), terminaram o primeiro turno, realizado em 21 de novembro, com uma diferença apertada de votos - foram 27,91% e 25,82%, respectivamente. No Chile, ao contrário do Brasil, o voto não é obrigatório. Para o segundo turno, coube aos candidatos a missão de levar a população às urnas, bem como, tentar formar alianças com políticos que deixaram a disputa no primeiro.

"Os indecisos e quem votou em outros candidatos no primeiro turno são os focos dos candidatos", explica Rejane Hoeveler, doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em entrevista ao SBT News. Ela ressalta que "muita gente acha que a troca de governo não vai influenciar na vida cotidiana e prática. Ainda assim, a participação no segundo turno deve ser maior que no primeiro".

A especialista lembra que a questão do deslocamento para o local de votação é um dos problemas enfrentados pela população, especialmente a que vive em bairros periféricos. "O transporte de ônibus é ruim no dia da eleição. Há uma série de dificuldades para as pessoas comparecerem às urnas".

O candidato José Antonio Kast alcançou a maioria de votos no primeiro turno | Reprodução/Wikimedia Commons

José Antonio Kast é alinhado à ala da extrema-direita, antigo reduto de Augusto Pinochet, líder da ditadura militar no Chile. Defensor de pautas conservadoras, como a construção de um muro na fronteira para impedir a entrada de imigrantes, em especial venezuelanos, sobraram comparações do chileno ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

"A vitória de Kast [no primeiro turno], principalmente por membros da esquerda, era vista quase como impossível. Nós estamos vendo pela primeira vez desde a redemocratização um candidato que reivindica Pinochet", aponta Rejane.

Já o ex-líder estudantil Gabriel Boric, de 35 anos, se coloca a favor da discussão de pautas em prol de grupos minoritários e refugiados, meio ambiente e descentralização do poder. Boric, que atualmente cumpre o segundo mandato de deputado federal, concentra o favoritismo entre intelectuais e estudantes.

Gabriel Boric cumpre segundo mandato como deputado | Reprodução/Wikimedia Commons

O atual presidente, Sebastián Piñera, não concorreu à reeleição. O ato não é permitido no país, de modo que ele deixará o cargo em março de 2022. Foi no governo do conservador, ligado ao partido Vamos Chile, que, em 2019, foram registradas as maiores manifestações desde o fim da ditadura militar. 

Os manifestantes, impulsionados pelo aumento de 30 pesos no metrô (cerca de R$ 0,20), passaram a reivindicar a revisão de direitos básicos, como o da Previdência Social, que é privada. Outra demanda foi uma nova Constituição. A vigente é herdada do regime militar. Aprovada a mudança após um plebiscito em outubro deste ano, o texto da Carta Magna deve ficar pronto no próximo ano.

Rejane, no entanto, reitera que, caso Kast supere Boric no segundo turno, a vitória deve influenciar o processo de elaboração da Constituição, ao ponto que ela passe por dificuldades para ser aprovada. "O governo Kast tentaria transformar o processo constituinte em algo decorativo. Não se sabe como ele organizaria, por exemplo, o plebiscito para a aprovação da Carta Constitucional", destacou.

A historiadora cita as fakes news como um fator que tem influenciado a opinião pública em torno da discussão: "a campanha do Kast tem se aproveitado de uma campanha de fake news contra a Constituição. Por exemplo, foi inventado que houve uma excursão dos constituintes para Concepción [cidade na região sul do Chile]. Lá, eles teriam feito uma festa com direito a 'tudo'. O hotel desmentiu a história, mas a mentira se espalhou".

Perguntada sobre a atuação do Senado, formada por uma maioria de direita, diante de um eventual governo de Gabriel Boric, a especialista pontua que a direita "vai utilizar institucionalmente [o espaço] para tornar inviável o governo do Boric. Travar as propostas do governo ao Legislativo".

Já no caso do governo de José Antonio Kast, ela explica que Kast teria mais dificuldades na Câmara, formada por uma maioria de esquerda. "Está empatado", diz, se referindo à distribuição das duas alianças no Congresso.

Divulgado na última 5ª feira (16.dez), um levantamento feito pela consultoria AtlasIntel aponta que Kast lidera as intenções de voto, com 48,5%. Boric aparece com 48,4%. Ao todo, 15 milhões de pessoas devem comparecer às urnas no domingo. O âmbito econômico figura entre os principais desafios que serão enfrentados pelo novo presidente. O setor, que mostrou sinais de recuperação em 2021, prevê uma desaceleração do crescimento e o aumento da dívida pública.

A previsão indica que a inflação feche em 6%, o dobro da meta para este ano. Em resposta, é esperado que o Banco Central aumente as taxas de juros. O consumo interno e a exportação do cobre, principal commodity produzida pelo Chile, são encarados pelo mercado como as áreas que devem impulsionar a economia em 2022.

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