Militares nos EUA mantêm neutralidade e não embarcam na judicialização de Trump, diz professor
Arthur Trindade, da UnB, acredita que a categoria sabe dos próprios limites dentro do sistema político norte-americano
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Até o momento, nenhum militar de alta patente dos Estados Unidos da América se pronunciou sobre as declarações dadas pelo presidente Donald Trump sobre acionar a Justiça para determinar recontagem de votos nos estados em que ele apostava em vitória.
Esse "silêncio ensurdecedor", como classificou o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Arthur Trindade, se deve, entre outros fatores, à avaliação que os militares fazem do próprio papel no sistema político dos EUA.
"Para a tradição americana, isso não tem nada de estranho. Seria estranho se os militares tivessem se pronunciado", afirma o professor, ao traçar um paralelo com o comportamento dos militares brasileiros após a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
"Na minha avaliação, existe uma grande diferença na autoavaliação que os militares brasileiros e americanos fazem do seu papel nos seus respectivos sistemas políticos. Aqui no Brasil, os militares se veem como poder militar. Está presente essa imagem de poder moderador. Um poder que não é uma figura autônoma do poder civil. Mas, sim, de que está acima do poder civil. Isso é diferente nos EUA."
Para Trindade, os militares americanos se veem como um grupo à parte do espectro político e, por isso, não costumam se manifestar sobre política. "Isso tudo a despeito de Trump ter recorrido a vários militares da reserva para a montagem de seu gabinete", afirmou. O professor citou como exemplo o pedido de desculpas feito em junho pela maior autoridade militar dos EUA, depois de ter feito uma caminhada ao lado de Trump até uma igreja. Na ocasião, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Mark Milly, disse que o gesto foi um erro.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também recheou seu governo com militares, acomodando-os em cargos importantes no primeiro escalão. A forma como eles atuam, no entanto, é bastante diferente. Antes, durante ou depois de eleições, o que se percebe é um número considerável de militares gabaritados se pronunciando pelas redes sociais. "Por aqui, a gente teve o general (Eduardo) Villas Bôas se pronunciado pelo Twitter, pedindo julgamento do (ex-presidente) Lula; o general (e hoje vice-presidente) Hamilton Mourão, que sempre se pronuncia. E, mais recentemente, o general Augusto Heleno. Apesar de ser ministro, ele fala como general. É um ministro general", afirma Trindade.
"Não há dúvida que o comandante da Marinha americana esteja preocupado com a eleição nos EUA. Está. Mas não se passa na cabeça dele ir no Twitter e dizer: Estou preocupado. Aqui no Brasil seria uma coisa mais corriqueira. E ainda diriam: 'qual o problema em dizer isso?'".
Esse "silêncio ensurdecedor", como classificou o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Arthur Trindade, se deve, entre outros fatores, à avaliação que os militares fazem do próprio papel no sistema político dos EUA.
"Para a tradição americana, isso não tem nada de estranho. Seria estranho se os militares tivessem se pronunciado", afirma o professor, ao traçar um paralelo com o comportamento dos militares brasileiros após a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
"Na minha avaliação, existe uma grande diferença na autoavaliação que os militares brasileiros e americanos fazem do seu papel nos seus respectivos sistemas políticos. Aqui no Brasil, os militares se veem como poder militar. Está presente essa imagem de poder moderador. Um poder que não é uma figura autônoma do poder civil. Mas, sim, de que está acima do poder civil. Isso é diferente nos EUA."
Para Trindade, os militares americanos se veem como um grupo à parte do espectro político e, por isso, não costumam se manifestar sobre política. "Isso tudo a despeito de Trump ter recorrido a vários militares da reserva para a montagem de seu gabinete", afirmou. O professor citou como exemplo o pedido de desculpas feito em junho pela maior autoridade militar dos EUA, depois de ter feito uma caminhada ao lado de Trump até uma igreja. Na ocasião, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Mark Milly, disse que o gesto foi um erro.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também recheou seu governo com militares, acomodando-os em cargos importantes no primeiro escalão. A forma como eles atuam, no entanto, é bastante diferente. Antes, durante ou depois de eleições, o que se percebe é um número considerável de militares gabaritados se pronunciando pelas redes sociais. "Por aqui, a gente teve o general (Eduardo) Villas Bôas se pronunciado pelo Twitter, pedindo julgamento do (ex-presidente) Lula; o general (e hoje vice-presidente) Hamilton Mourão, que sempre se pronuncia. E, mais recentemente, o general Augusto Heleno. Apesar de ser ministro, ele fala como general. É um ministro general", afirma Trindade.
"Não há dúvida que o comandante da Marinha americana esteja preocupado com a eleição nos EUA. Está. Mas não se passa na cabeça dele ir no Twitter e dizer: Estou preocupado. Aqui no Brasil seria uma coisa mais corriqueira. E ainda diriam: 'qual o problema em dizer isso?'".
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