Salão de clube é adaptado para receber júri de mãe acusada de matar filho
Julgamento de Alexandra Dougokenski ocorre em Planalto, no noroeste gaúcho, na próxima semana
Três anos depois do júri que condenou quatro pessoas -- incluindo o pai e a madrasta -- pela morte do menino Bernardo Boldrini, em Três Passos (RS), uma cidadezinha a 122 quilômetros dali se prepara para um julgamento bem parecido. Os jurados vão decidir se a ré Alexandra Salete Dougokenski, de 34 anos, matou o próprio filho, Rafael Winques, há quase dois anos, em Planalto (RS).
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O júri começa na 2ª feira (21.mar), às 9h30. Serão três turnos de trabalho por dia até, projeta-se, a 5ª feira (24.mar). Como o fórum de Planalto não tem estrutura para um julgamento desse porte, o salão de festas de um clube de futebol foi adaptado para receber 67 pessoas, entre acusação, defesa, testemunhas, espectadores e a imprensa.
Na manhã do primeiro dia, a juíza Marilene Parizotto Campagna decidirá questões de ordem. Depois, ela vai sortear os sete jurados que irão compor o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. A defesa e o Ministério Público poderão recusar até três nomes. Em seguida, as 11 testemunhas (seis homens e cinco mulheres) começam a ser interrogadas. Primeiro, as de acusação; depois, as da defesa. Por fim, será a vez de Alexandra ser ouvida.
O caso
Rafael Winques, de 11 anos, sumiu em 15 de maio de 2020, em Planalto. Dez dias depois, após a mãe acionar o conselho tutelar alegando que a criança havia desaparecido, o corpo do menino foi encontrado dentro de uma caixa de papelão, coberto por retalhos de tecido, em uma casa ao lado da residência onde ele morava com ela e o irmão adolescente.
A denúncia do Ministério Público diz que Alexandra matou o filho porque ele não a obedecia e usava muito o celular. Para a acusação, ela teria dado dois comprimidos de calmante ao menino e estrangulado Rafael, já desacordado, com uma corda de varal. A mulher responde por homicídio qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Apesar de ter confessado o assassinato e ser presa, ainda em maio de 2020, Alexandra mudou as versões sobre o que teria ocorrido na noite do crime, no dia do suposto sumiço. A primeira versão foi a de que ela teria administrado calmantes demais; depois, que matou a criança porque Rafael usava demasiadamente o celular e, ainda, uma outra versão, de que não foi ela, mas o pai do menino, Rodrigo Winques, quem cometeu o assassinato. É esta versão, segundo a defesa, que será levada ao júri.
"Tem indício de que o Rodrigo esteve na cidade. Tem indícios de que o irmão (de Rafael) ouviu aquela gritaria de madrugada e tem indícios de que a mãe viu movimentação de carro naquele momento da morte do menino. Então, não dá pra dizer que foi a Alexandra sozinha, naquele momento", alega o advogado da ré, Gustavo Nagelstein.
Por conta dessa versão, o julgamento poderá ter uma etapa incomum, a acareação entre a mãe e o pai do menino, para um confronto das versões sobre o crime. "Os dois vão ser colocados no mesmo ambiente e cada um vai dar sua versão e é nesse momento que eu acredito que o júri se defina", explica o outro advogado de Alexandra, Jean Severo.
Para o Ministério Público, não há dúvidas da autoria da mãe. "São provas irrefutáveis", diz o promotor de justiça Diogo Taborda.
Uma das testemunhas é a conselheira tutelar Denise bielski Vojniek. Ela atendeu Alexandra quando a mãe foi comunicar o suposto sumiço de Rafael. "Ela chegou dizendo que deu falta do filho, que estava limpando a casa e que a porta estava encostada", explica Denise, que desconfiou de Alexandra durante as buscas. "Ela não estava desesperada, não mostrava muita preocupação", avalia a conselheira.
Alexandra estava presa em Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e, durante o júri, ficará em uma cidade próxima a Planalto, não divulgada por questão de segurança.